Na mais recente pesquisa divulgada hoje pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e o instituto de pesquisa Sensus, Dilma Rousseff (PT) aparece com 41,6% e José Serra (PSDB)com 31,6%. No entanto, a Folha Online me sai com essa:
"Serra mantém vantagem sobre Dilma no eleitorado da região Sul, diz CNT/Sensus"
Lendo a matéria, a vergonha ainda é pior. No primeiro parágrafo do texto, o repórter escreve que a vantagem não é em todo eleitorado do sul que Serra lidera, como quer fazer passar o título. Mas apenas num segmento:
"O detalhamento da pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta quinta-feira mostra que o tucano José Serra mantém vantagem sobre a petista Dilma Rousseff na disputa presidencial apenas no eleitorado da região Sul, na faixa da população com renda per capita de mais de 20 salários mínimos ao mês e com ensino superior".
É ou não é fantástico o jornalismo praticado pela Folha?
Vamos aguardar a pesquisa da Datafalha, ops!, da Datafolha, para ver o que vem por aí...
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
EM NOME DO PAI
Soube agora há pouco da morte do cineasta Joffre Rodrigues, o filho mais velho do tricolor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Na hora lembrei de uma entrevista que fiz com ele por telefone por conta da estreia do filme 'Vestido de Noiva' no Festival de Cinema de Natal.
O ano era 2006 e eu repórter do caderno VIVER, da Tribuna do Norte. Pela adoração que tenho pelas frases, crônicas e romances de Nelson tremi na base segundos antes de pegar o telefone e iniciar a entrevista. Me recordo de ter falado com alguém da redação, acho que Tadzio França: "Vou falar com o filho do hômi!". Mas deu tudo certo. Joffre foi educado, respondeu as perguntas de forma bem-humorada e, quando perguntei sobre o que ele achava que mais tinha herdado do pai, disse: "Você vai ver quando eu chegar aí. Sou a cara dele".
Assim que soube de sua morte, pelo blog do Aílton Medeiros, corri para o google tentar achar a entrevista. Bacana lembrar aquela conversa. Morri de rir com o lead. Taí pra quem tiver interesse:
EM NOME DO PAI
Por Rafael Duarte

O filho mais velho do menino que via o amor pelo buraco da fechadura, morria de rir quando chamavam o pai dele de tarado. Por sinal, riam os dois. Principalmente depois que entre um gole e outro de prosa o pai soltava uma daquelas frases de efeito como a que o pobre do tarado não passava de uma pessoa normal pega em flagrante.
De fato, os desejos de Nelson Rodrigues ainda não pararam quietos. O mais recente deles, por exemplo, vem dos tempos de quando o teatro brasileiro sucumbiu à linguagem moderna do próprio dramaturgo. Seis décadas depois de estrear nos palcos do Rio de Janeiro, a antológica peça “Vestido de Noiva” virou filme. O diretor do longa é bem conhecido de Nelson. O filho mais velho do dramaturgo, o produtor Joffre Rodrigues, hoje com 65 anos de idade, admite que aceitou o desafio para não correr o risco de assistir a obra decepada pela navalha de algum roteirista displicente.
A adaptação da peça para o cinema que traz Marília Pêra (Madame Clessi), Letícia Sabatella (Lúcia), Simone Spoladore (Alaíde) e Marcos Winter (Pedro) será exibida em quatro sessões (ver programação abaixo) hoje, no Moviecom, na estréia da Mostra competitiva do FestNatal. Joffre vai acompanhar a reação do público de perto à convite da produção do evento. Nesta entrevista concedida por telefone ao VIVER, ele fala da emoção e das dificuldades para realizar o sonho do pai.
Você espera encontrar no FestNatal a mesma reação de quando o filme foi exibido no Festival do Rio?
Jofre Rodrigues: Não sei. Nunca sei o que vou encontrar. Exibi o filme também na França, Nova York, Miami, Los Angeles e Parati. Em todos eles, o público aplaudiu muito, ovacionou. Sempre vem muita mulher com lágrima nos olhos, as pessoas dão parabéns, alguns abraçam... Por isso não sei se vai ser diferente. Estive no Festival de Natal na exibição de um filme do Henfil que o pessoal veio abaixo, mas o filme não foi um sucesso.
No exterior o filme foi visto por brasileiros também? Teve algum fato que te deixou mais emocionado?
JR: Não vi um brasileiro em Paris, por exemplo. Mas teve um negócio incrível. Lembra daquele segurança forte para burro do filme Scarface, com o Robert De Niro? Pois ele foi ver o filme em Miami. Quando a exibição terminou, veio descendo as escadas aos berros. Ele gritava: ‘maestro!’, ‘maestro!’ E botava lágrimas que nem esguicho. Foi tanto choro que molhou até minha camisa.
“Vestido de Noiva” é considerada um divisor de águas no teatro moderno brasileiro. Além de virar filme agora, está sendo dirigido, também pela primeira vez, por você, que é filho do Nelson. É uma carga emocional bem rodrigueana, não?
JR: Antes de qualquer coisa: não tem nada de divisor de águas. Digo que a peça Vestido de Noiva deflorou a moderna dramaturgia brasileira. Essa frase é minha. Divisor de águas é muito insosso... Bom, sentia que ao mesmo tempo que tinha que fazer a peça mais difícil do papai, quis manter a lealdade. Eu faço cinema desde os 21 anos de idade, mas tinha apenas produzido. Nunca tinha passado pela minha cabeça dirigir um filme.
E o que te fez mudar de idéia? O Nelson sonhava em ver “Vestido de Noiva” no cinema?
JR: Papai me pediu para fazer Vestido de Noiva. Eu só não sabia se ele queria que eu produzisse ou dirigisse o filme. Aí pensei: eu conheço o ambiente cinematográfico. Se eu dou o texto para o roteirista mexer na peça, ele vai passar a navalha para colocar a marca dele. Bem, depois que o roteiro ficou pronto imaginei que se eu desse para o editor, ele iria fazer a mesma coisa que o roteirista. Lembro que quando cheguei no quarto tratamento do texto, parei para fazer uma autocrítica, fiz uma prece silenciosa para o papai e disse que tinha que fazer um filme, mas a peça teria uns grilhões para o cinema. Depois daí fiz mais quatro tratamentos, um melhor do que o outro, até chegar ao que queria. Mudei o roteiro oito vezes até encontrar o que me satisfizesse.
Nesse sonho de ver a peça adaptada para o cinema, o Nelson falava dos atores que imaginava interpretando os personagens dele?
JR:Não, sobre isso nada. Ele só dizia que queria que eu fizesse o filme. Acabei dirigindo porque não queria que outras pessoas mudassem o texto.
Numa entrevista recente, você falou das dificuldades na captação de recursos (nos anos 90 o MinC aprovou o orçamento de R$ 7,3 milhões para serem captados para o filme, mas ainda faltam R$ 5,5 milhões) para “Vestido de Noiva” e citou um caixa dois. Como é isso?
JR: A lei diz que você tem que pagar 10% para a empresa. Mas para fazer o filme me pediam 30%, 40% por baixo da mesa. Porra, se faço isso e o Tribunal de Contas da União me põe na cadeia!
E quanto tempo durou até você conseguir a verba?
JR: Nove anos. Eu tinha feito uma co-produção com um amigo americano, que leu o roteiro. Eu tinha terminado de fazer “O monge e a filha do carrasco”. Ele ia filmar em Zurique, leu, adorou o roteiro e disse que ia me ajudar. Aplicou umas ações e quando voltou começamos a rodar.
A gestão do Gilberto Gil no Ministério da Cultura foi boa para o cinema nacional?
JR: Não tenho a menor idéia. Desde que o audiovisual foi para Ancine, nunca vi o Gil, nem o conheço. Eu não faço política de cinema. Trato dos meus filmes e faço a minha parte sozinho. Sou muito solitário.
O que você acha que herdou do Nelson?
JR: Quando você me vir pessoalmente, vai ver o que herdei do papai. Sou a cara dele (risos).
Falo em relação à influência intelectual...
JR: Ah, papai era um dos caras mais inteligentes do país. Eu não chego nem perto, mas também não sou uma besta. Imagina que papai começou a fazer as peças mais violentas na década de 40 e até hoje elas escandalizam as pessoas.
E como ele recebia as críticas mais moralistas? Qual era sua relação com o Nelson?
JR: Ele ria muito das críticas porque chamavam ele de tarado. E papai dizia que tarado era uma pessoa normal pega em flagrante (risos). A gente ria junto. Nós éramos muito companheiros, amigos. Quando ele escreveu “Cabra vadia”, participo de vários capítulos com ele contando nossa amizade.
O ano era 2006 e eu repórter do caderno VIVER, da Tribuna do Norte. Pela adoração que tenho pelas frases, crônicas e romances de Nelson tremi na base segundos antes de pegar o telefone e iniciar a entrevista. Me recordo de ter falado com alguém da redação, acho que Tadzio França: "Vou falar com o filho do hômi!". Mas deu tudo certo. Joffre foi educado, respondeu as perguntas de forma bem-humorada e, quando perguntei sobre o que ele achava que mais tinha herdado do pai, disse: "Você vai ver quando eu chegar aí. Sou a cara dele".
Assim que soube de sua morte, pelo blog do Aílton Medeiros, corri para o google tentar achar a entrevista. Bacana lembrar aquela conversa. Morri de rir com o lead. Taí pra quem tiver interesse:
EM NOME DO PAI
Por Rafael Duarte

O filho mais velho do menino que via o amor pelo buraco da fechadura, morria de rir quando chamavam o pai dele de tarado. Por sinal, riam os dois. Principalmente depois que entre um gole e outro de prosa o pai soltava uma daquelas frases de efeito como a que o pobre do tarado não passava de uma pessoa normal pega em flagrante.
De fato, os desejos de Nelson Rodrigues ainda não pararam quietos. O mais recente deles, por exemplo, vem dos tempos de quando o teatro brasileiro sucumbiu à linguagem moderna do próprio dramaturgo. Seis décadas depois de estrear nos palcos do Rio de Janeiro, a antológica peça “Vestido de Noiva” virou filme. O diretor do longa é bem conhecido de Nelson. O filho mais velho do dramaturgo, o produtor Joffre Rodrigues, hoje com 65 anos de idade, admite que aceitou o desafio para não correr o risco de assistir a obra decepada pela navalha de algum roteirista displicente.
A adaptação da peça para o cinema que traz Marília Pêra (Madame Clessi), Letícia Sabatella (Lúcia), Simone Spoladore (Alaíde) e Marcos Winter (Pedro) será exibida em quatro sessões (ver programação abaixo) hoje, no Moviecom, na estréia da Mostra competitiva do FestNatal. Joffre vai acompanhar a reação do público de perto à convite da produção do evento. Nesta entrevista concedida por telefone ao VIVER, ele fala da emoção e das dificuldades para realizar o sonho do pai.
Você espera encontrar no FestNatal a mesma reação de quando o filme foi exibido no Festival do Rio?
Jofre Rodrigues: Não sei. Nunca sei o que vou encontrar. Exibi o filme também na França, Nova York, Miami, Los Angeles e Parati. Em todos eles, o público aplaudiu muito, ovacionou. Sempre vem muita mulher com lágrima nos olhos, as pessoas dão parabéns, alguns abraçam... Por isso não sei se vai ser diferente. Estive no Festival de Natal na exibição de um filme do Henfil que o pessoal veio abaixo, mas o filme não foi um sucesso.
No exterior o filme foi visto por brasileiros também? Teve algum fato que te deixou mais emocionado?
JR: Não vi um brasileiro em Paris, por exemplo. Mas teve um negócio incrível. Lembra daquele segurança forte para burro do filme Scarface, com o Robert De Niro? Pois ele foi ver o filme em Miami. Quando a exibição terminou, veio descendo as escadas aos berros. Ele gritava: ‘maestro!’, ‘maestro!’ E botava lágrimas que nem esguicho. Foi tanto choro que molhou até minha camisa.
“Vestido de Noiva” é considerada um divisor de águas no teatro moderno brasileiro. Além de virar filme agora, está sendo dirigido, também pela primeira vez, por você, que é filho do Nelson. É uma carga emocional bem rodrigueana, não?
JR: Antes de qualquer coisa: não tem nada de divisor de águas. Digo que a peça Vestido de Noiva deflorou a moderna dramaturgia brasileira. Essa frase é minha. Divisor de águas é muito insosso... Bom, sentia que ao mesmo tempo que tinha que fazer a peça mais difícil do papai, quis manter a lealdade. Eu faço cinema desde os 21 anos de idade, mas tinha apenas produzido. Nunca tinha passado pela minha cabeça dirigir um filme.
E o que te fez mudar de idéia? O Nelson sonhava em ver “Vestido de Noiva” no cinema?
JR: Papai me pediu para fazer Vestido de Noiva. Eu só não sabia se ele queria que eu produzisse ou dirigisse o filme. Aí pensei: eu conheço o ambiente cinematográfico. Se eu dou o texto para o roteirista mexer na peça, ele vai passar a navalha para colocar a marca dele. Bem, depois que o roteiro ficou pronto imaginei que se eu desse para o editor, ele iria fazer a mesma coisa que o roteirista. Lembro que quando cheguei no quarto tratamento do texto, parei para fazer uma autocrítica, fiz uma prece silenciosa para o papai e disse que tinha que fazer um filme, mas a peça teria uns grilhões para o cinema. Depois daí fiz mais quatro tratamentos, um melhor do que o outro, até chegar ao que queria. Mudei o roteiro oito vezes até encontrar o que me satisfizesse.
Nesse sonho de ver a peça adaptada para o cinema, o Nelson falava dos atores que imaginava interpretando os personagens dele?
JR:Não, sobre isso nada. Ele só dizia que queria que eu fizesse o filme. Acabei dirigindo porque não queria que outras pessoas mudassem o texto.
Numa entrevista recente, você falou das dificuldades na captação de recursos (nos anos 90 o MinC aprovou o orçamento de R$ 7,3 milhões para serem captados para o filme, mas ainda faltam R$ 5,5 milhões) para “Vestido de Noiva” e citou um caixa dois. Como é isso?
JR: A lei diz que você tem que pagar 10% para a empresa. Mas para fazer o filme me pediam 30%, 40% por baixo da mesa. Porra, se faço isso e o Tribunal de Contas da União me põe na cadeia!
E quanto tempo durou até você conseguir a verba?
JR: Nove anos. Eu tinha feito uma co-produção com um amigo americano, que leu o roteiro. Eu tinha terminado de fazer “O monge e a filha do carrasco”. Ele ia filmar em Zurique, leu, adorou o roteiro e disse que ia me ajudar. Aplicou umas ações e quando voltou começamos a rodar.
A gestão do Gilberto Gil no Ministério da Cultura foi boa para o cinema nacional?
JR: Não tenho a menor idéia. Desde que o audiovisual foi para Ancine, nunca vi o Gil, nem o conheço. Eu não faço política de cinema. Trato dos meus filmes e faço a minha parte sozinho. Sou muito solitário.
O que você acha que herdou do Nelson?
JR: Quando você me vir pessoalmente, vai ver o que herdei do papai. Sou a cara dele (risos).
Falo em relação à influência intelectual...
JR: Ah, papai era um dos caras mais inteligentes do país. Eu não chego nem perto, mas também não sou uma besta. Imagina que papai começou a fazer as peças mais violentas na década de 40 e até hoje elas escandalizam as pessoas.
E como ele recebia as críticas mais moralistas? Qual era sua relação com o Nelson?
JR: Ele ria muito das críticas porque chamavam ele de tarado. E papai dizia que tarado era uma pessoa normal pega em flagrante (risos). A gente ria junto. Nós éramos muito companheiros, amigos. Quando ele escreveu “Cabra vadia”, participo de vários capítulos com ele contando nossa amizade.
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