Depois de saber o destino da corrida que nos levaria ao Centro Ad-ministrativo, o taxista não esperou nem o carro pedir o arrego da terceira marcha e emendou logo a pergunta:
- E essa Copa, hein?
O que é que tem?
- A Copa, rapaz! Vai ter Copa mesmo em Natal?
Acreditem: os taxistas, especialmente os taxistas, acreditam piamente que nós, repórteres, sabemos tudo. Fosse meu primeiro chefe sentado no banco do carona, diante da mesma pergunta, a conversa tinha terminado com um sonoro:
- E eu lá como bosta de cigano pra saber, porra!?
Mas minha sensibilida-de não chega ao nível 5 e ainda tinha um bom pedaço de chão entre a Ribeira e Lagoa Nova. Correr o risco de ir a pé à pauta faltando 12 minutos para a entrevista eu não queria. Então fiz ouvido de mercador e dei corda para saber o que danado o taxista estava achando das obras da Copa:
- Que obras, rapaz!? disse o sujeito já quase me batendo.
O senhor não me perguntou sobre a Copa? Depende do que tá achando das obras...
- Garoto, e você tá vendo alguma obra na cidade para a Copa?
Ver eu não tô vendo, não. Mas o governo já disse que começou...
- Ah, então você é do tipo que acredita em tudo o que o Go-verno diz?
Acreditar eu não acredito não, mas se botaram a mulher lá é porque acham ela sabe das coisas.
Ainda não tínhamos nem deixado pra trás a Rodoviária Velha e o taxista já tinha descido o cacete no estádio, nas obras, no se-cretário da Copa, na governadora e até na prefeita, que nem imagina do que o sujeito a chamou depois que caímos no segundo buraco em menos de 1 quilômetro. E, claro, também meteu o pau no jornalista que acredita em tudo o que sai na imprensa.
Admito que, quando o assunto é a Copa, minha tática tem sido esticar a corda ao máximo para saber o nível de tolerância do sujeito com o andamento das coisas para o Mundial de 2014. Prefiro os taxistas porque estão sempre andando pela cidade e, princi-palmente, falando com um bocado de gente sobre os mes-mos assuntos. Provoco até o limite. Baixíssimo, por sinal.
Lembrei da história, vivida semana passada, quando ouvi a prefeita Micarla de Sousa abrir a Assembleia Geral da Copa, na segunda-feira, dizendo que a ‘fase de será que a Copa vai acontecer, já passou’. Na plateia, funcionários da prefeitura e secretários do primeiro e segundo escalões.
Num primeiro momento a declaração soou como uma frase comum num discurso comum que já não traz novidade nenhuma. Mas vai além. Mostra insegurança. Ao lembrar que a fase ‘do será’ já passou, numa reunião só com auxiliares, Micarla confirma que uma parcela da sociedade ainda tem dúvidas na realização do Mundial em Natal. Reza a cartilha de marketing para iniciantes que ninguém lembra o que já passou quando o assunto é negativo. O povo de casa é fácil, quero ver convencer o taxista...