Se existe um casal que nunca se bicou na vida real foi o futebol e a tal da democracia. Cartola que é cartola tem pelos clubes o mesmo carinho e apetite canino que um dirigente do PMDB pelos cargos comissionados. Aqui e alhures, é difícil largar o osso. Ricardo Teixeira que o diga. Há 30 anos no trono da CBF, o dono da Copa de 2014 manda prender e soltar quem se mete onde não é chamado. Na maioria dos casos, as eleições só mascaram um falso rodízio para manter no posto quem manda na vera.
Um dos casos mais famosos é o do Vasco da Gama. Eurico Miranda, o comandante da nau vascaína de fato, ocupou durante anos a vice-presidência. No andar de cima, no cargo maior, Antônio Soares Calçada, uma espécie de marionete nas mãos do único homem que combinava suspensórios e charutos à beira do gramado. Só quando o sofrimento dos vice-campeonatos diante do arquival Flamengo ganhou as gozações na arquibancada é que o Rei que fazia pose de primeiro-ministro achou por bem assumir o posto que já era dele.
O Rio Grande do Norte, terra das oligarquias políticas, também é terreiro dos donos dos clubes. O América de hoje, por exemplo, deve aos seus ‘cardeais’ o estilo Bumerangue que o faz subir à série A com a mesma velocidade com que desce para a Terceira divisão. Por trás de uma pretensa imagem descentralizadora, o G-4 dominou geral, combinando lampejos de falso sucesso com tragédias administrativas. Sem Estratégia, o América está nu. E sem uma palha de coqueiro para cobrir a vergonha de não ter sequer um lugar para jogar.
Na próxima semana, os alvirubros devem eleger o deputado estadual, Hermano Morais, como novo presidente. Advogado e bancário concursado da Caixa Econômica Federal,
Hermano caiu de pára-quedas num terreno minado onde só pisou como conselheiro ao lado de outras 184 vozes. Elevado à condição de candidato de consenso por quem determina o que é e o que deixa de ser consenso no América, vem sendo saudado como o homem que resgatará a imagem do clube e o recolocará, enfi m, no caminho das glórias. Eis o desafio. Na vida pública que vem sedimentando desde o final dos
anos 90, quando estreou como vereador, Hermano Morais nunca foi protagonista de nenhum momento político da capital.
Por preferir a negociação ao embate com o poder, carrega a pecha de pelego no meio bancário, principal plataforma eleitoral no início da carreira. Mudou de partido várias vezes e se manteve à reboque das decisões das lideranças tradicionais.
É nessa toada que sonha chegar à prefeitura em 2012 como candidato do PMDB. Se tiver sucesso, o América vai de corda bamba à trampolim.
Paralelamente, no metier social, construiu uma trajetória bem-sucedida. Educado, mantém o estilo discreto. É assíduo do grand monde com espaço garantido nas folhas sociais do dia seguinte. Os últimos presidentes do América saíram atirando.
Hermano parece a marionete perfeita. Se não romper com as cordas, o jeito é sentar no colo do ventríloquo.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
O CASAMENTO DO AMOR REAL
O amor real é um bicho complicado. Mas nada como as coisas nos seus devidos lugares. Semana passada, por dever do ofício, comecei e terminei a madrugada num cabaré que tem nome de casa de show, mas a inconfundível fama dos bordéis. Um glamour, diga-se de passagem, que o proprietário do estabelecimento nega de pé junto e mão no bolso.
A casa é um luxo só. Fachada iluminada, mesas arrumadas, garçons impecáveis vestidos como manda o bom e velho figurino, e até uma saleta prive. Diria eu que, forçando a barra, é quase um palácio. Um verdadeiro ponto de encontro. Na visão humilde do rei, nada além do que uma praça de alimentação. Concordo. Principalmente quando os shows de strep-tease começam, digamos assim, em praça pública.
Naquele dia, como observador míope da noite, avistei um jovem solitário na mesa da direita. Perdão. Solitário vírgula. O celular era companheiro de longas e intermináveis mensagens. Com a velocidade com que o troço tocava, parecia um sujeito disputado. E logo aquilo passou a despertar a atenção e a cobiça das meninas da casa. Não tinha uma strepper, já sem as roupas íntimas do corpo, que não passasse na mesa do galã do cabaré. Algumas gesticulavam, mas a maioria se detinha mesmo a interpretar as posições do Kamasutra.
A coisa parecia tão pessoal que foi despertando ciúme na rapaziada das outras mesas. Três clientes pediram a conta e dois, como duas almas traídas, foram embora sem pagar. O sujeito, impassível, nem percebeu a arrumação. Chegou um momento da noite que as mesas só olhavam as reações do moço. Numa delas, onde havia um casal, a situação constrangedora. O cabra com ciúme e a mulher quase largando o marido. Dele, as meninas só conseguiram arrancar o nome: Willian.
A situação ficou tão insustentável que o dono achou melhor encerrar o strepper quando ainda metade da casa faltava se apresentar. Do amontoado de garotas que olhavam o traste de longe, ele apontou para uma. De bobo Willian não tinha nada. Além de linda, Catarina Melão tinha um charme de princesa. E se ele sabia escolher, esperta a moça também era. Para sentar, só exigiu que o pretendente desligasse o celular. Por um momento, admitiu até recusar a birita de todas as noites com a condição de que a porra daquelas mensagens não atrapalhassem o papo.
Catarina percebeu que Willian era daqueles sujeitos que, quando vão a um cabaré, querem convencer a todo custo a donzela mudar de vida. Ela estranhou aquele papo no início, mas acabou caindo na conversa do rapaz. Na terceira dose já tinha virado Kate e o programa que era R$ 400 saiu pela metade do preço. Com a birita no quengo, rolou até um pedido de casamento, aceito na hora. Embaixo dos lençóis, descobriram que estudaram juntos na escola. Aí, a partir de um desencontro, cada um foi prum lado. Nesse meio tempo, Willian casou duas vezes e virou empresário. Catarina se formou em enfermagem, mas optou por outras paradas.
O reencontro deu num namoro rápido. O casamento foi no início do mês, no mesmo cabaré onde deram o primeiro beijo. Ao piano, em homenagem à mãe do noite, um CD do Elton John. Na fachada, Kate exigiu que tivesse escrito em neo ‘Palácio de Buckingham’. Afinal, é o casamento do amor real. Quanto mais real, mais amor. Como nos contos de fada.
A casa é um luxo só. Fachada iluminada, mesas arrumadas, garçons impecáveis vestidos como manda o bom e velho figurino, e até uma saleta prive. Diria eu que, forçando a barra, é quase um palácio. Um verdadeiro ponto de encontro. Na visão humilde do rei, nada além do que uma praça de alimentação. Concordo. Principalmente quando os shows de strep-tease começam, digamos assim, em praça pública.
Naquele dia, como observador míope da noite, avistei um jovem solitário na mesa da direita. Perdão. Solitário vírgula. O celular era companheiro de longas e intermináveis mensagens. Com a velocidade com que o troço tocava, parecia um sujeito disputado. E logo aquilo passou a despertar a atenção e a cobiça das meninas da casa. Não tinha uma strepper, já sem as roupas íntimas do corpo, que não passasse na mesa do galã do cabaré. Algumas gesticulavam, mas a maioria se detinha mesmo a interpretar as posições do Kamasutra.
A coisa parecia tão pessoal que foi despertando ciúme na rapaziada das outras mesas. Três clientes pediram a conta e dois, como duas almas traídas, foram embora sem pagar. O sujeito, impassível, nem percebeu a arrumação. Chegou um momento da noite que as mesas só olhavam as reações do moço. Numa delas, onde havia um casal, a situação constrangedora. O cabra com ciúme e a mulher quase largando o marido. Dele, as meninas só conseguiram arrancar o nome: Willian.
A situação ficou tão insustentável que o dono achou melhor encerrar o strepper quando ainda metade da casa faltava se apresentar. Do amontoado de garotas que olhavam o traste de longe, ele apontou para uma. De bobo Willian não tinha nada. Além de linda, Catarina Melão tinha um charme de princesa. E se ele sabia escolher, esperta a moça também era. Para sentar, só exigiu que o pretendente desligasse o celular. Por um momento, admitiu até recusar a birita de todas as noites com a condição de que a porra daquelas mensagens não atrapalhassem o papo.
Catarina percebeu que Willian era daqueles sujeitos que, quando vão a um cabaré, querem convencer a todo custo a donzela mudar de vida. Ela estranhou aquele papo no início, mas acabou caindo na conversa do rapaz. Na terceira dose já tinha virado Kate e o programa que era R$ 400 saiu pela metade do preço. Com a birita no quengo, rolou até um pedido de casamento, aceito na hora. Embaixo dos lençóis, descobriram que estudaram juntos na escola. Aí, a partir de um desencontro, cada um foi prum lado. Nesse meio tempo, Willian casou duas vezes e virou empresário. Catarina se formou em enfermagem, mas optou por outras paradas.
O reencontro deu num namoro rápido. O casamento foi no início do mês, no mesmo cabaré onde deram o primeiro beijo. Ao piano, em homenagem à mãe do noite, um CD do Elton John. Na fachada, Kate exigiu que tivesse escrito em neo ‘Palácio de Buckingham’. Afinal, é o casamento do amor real. Quanto mais real, mais amor. Como nos contos de fada.
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