quarta-feira, 14 de julho de 2010

MAFALDA



Pescado do blog botequimdobruno@blogspot.com. Vale a pena instalar o cotovelo no balcão do cara.

O FIM DO JB

Sim, o Jornal do Brasil vai acabar. Pelo menos na versão impressa. Ficará apenas na internet a partir de 1º de setembro. O jornal comunicou oficialmente os leitores hoje através de um anúncio. Feio isso. Dada a importância do fato, merecia um editorial de capa.

Segundo notícias de bastidores, uma dívida que ultrapassa mais de R$ 100 milhões obriga a mudança. Sucessivos erros administrativos financeiros derrubaram um dos maiores períodicos do país. São 119 anos de história, amigo velho. Só na redação, 60 jornalistas. A empresa toda conta com 180 funcionários. É claro que haverá corte.

Confesso que fiquei mal com a notícia que li ontem no Globo. Uma tristeza que me enche de incertezas em relação a uma profissão cada vez mais difícil de ser levada adiante. Não acredito no fim dos jornais. Mas penso nos colegas, na rapaziada que, como eu, defende o jornalismo como um modo de vida e não apenas um ofício.

Por aqui, passei pelo Diário de Natal, Tribuna do Norte e hoje estacionei meus burros no Novo Jornal. Fui e sou respeitado nos três, onde fiz amigos e colegas. Torço aberta e publicamente por todos.

Quando surge a notícia do fechamento de um jornal do tamanho do que foi o JB a perna treme, o que era certo se esvai. Somos pequenos diante dessa máquina de moer sonhos chamada capitalismo.

Não. Eles não vencerão.

UMA NOITE COM LENY



Leny Andrade é para poucos. Como os que compareceram ontem ao Teatro Alberto Maranhão. Simplesmente sensacional, antológico. O que Leny faz com a voz, aos 67 anos, Garrincha fazia com as pernas tortas nos tempos idos do futebol arte. Eis a definição real do que aconteceu: arte. Simples assim. O que Dunga aposentou com a Seleção na Copa da África do Sul, Leny Andrade pôs em campo, ou melhor, no palco, para uma platéia seleta e em transe.

Na primeira fila, Khrystal, Tiquinha Rodrigues e Ângela Castro, três artistas da casa, bebiam na fonte do gargarejo um mundo de sensações e sons que saíam jazzisticamente da musa da noite e do piano que a acompanhava. Voz e piano, imagem e semelhança, criador e criatura juntos.

Entre uma canção e outra, histórias. A interação com a platéia virou uma conversa de mesa de bar. Na homenagem a Vinícius, que cantou pra subir há 30 anos, causos íntimos da performance conquistadora do poetinha. À vontade como na varanda de casa, Leny lembrou que o poeta tinha a estratégia de chamar a todos pelo diminutivo para deixar a mulherada em polvorosa. “Eu era muito novinha na época e ficava só olhando. Tinha aquela coisa do diminutivo. Clara virava Clarinha, Maria virava Mariazinha... Ele nunca ia pra casa sozinho. Sempre bêbado, é claro”, reforçou dando ainda mais autenticidade à história.

No repertório, além das pérolas da Bossa Nova, com um espaço generoso para composições de Johnny Alf e Vinícius, boleros vestidos com a manta do jazz para a festa.

Leny homenageou a música, tão somente a arte. Quem foi não esquece. E aplaudiu de pé.

terça-feira, 13 de julho de 2010

PERGUNTAS DE CRIANÇAS

Por Rubem Alves, hoje na Folha de São Paulo

CABEÇA DE CRIANÇA não é gaveta onde se guardam informações. É canteiro onde nascem perguntas. E nunca se sabe quais foram as sementes que um anjo misterioso plantou ali. Mas se sabe pelos brotos que são perguntas nascidas de olhos espantados, que foram pegos de surpresa, sem saber.

Alberto Caeiro disse bem: "Sei ter o pasmo essencial que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras. Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo."

Pois a pergunta que a Andréia, afilhada minha de oito anos, me fez nunca ninguém havia feito. Sei disso porque nunca me foi dada a resposta.

"-Na história da Cinderela, quando tocassem as 12 badaladas, não era para quebrar o feitiço e tudo voltar a ser o que era antes?"

Concordei e confirmei.

-"Isso. O vestido de baile virou vestido de cozinheira e a carruagem dourada virou abóbora madura."

"-Então", disse ela preparando o xeque-mate, "por que é que o sapatinho de cristal continuou a ser sapatinho de cristal, encantado, e não desencantou virando tamanco?"

Fiquei mudo.

Ela percebeu um erro na história: o sapatinho não desencantou. E o que foi que fez com que ela percebesse o erro? Seus olhos. Os meus olhos, que foram enganados, só repetiram a velha história já sabida. Viram aquilo que a memória me contava.

É isso que a memória faz: repetir o já sabido. Mas ela, se fosse recontar a história, teria de inventar outra que explicasse o sapatinho de cristal ou que o eliminasse.

O canteiro da memória é lugar onde só nascem pontos de exclamação. O canteiro da invenção é o lugar onde nascem os de interrogação. Como disse E. E. Cummings: "Sempre uma resposta bonita que pergunta uma pergunta mais bonita ainda."
Recebi da professora Edith Chacon Theodoro uma carta digna de uma educadora e, anexada a ela, uma lista de perguntas que seus alunos haviam feito, espontaneamente.

Impressionou-me, em primeiro lugar, o fato de ela ter dado tanta atenção às perguntas dos seus alunos. Note que elas foram feitas "espontaneamente", eram pontos de interrogação diferentes naqueles canteiros, totalmente diversas das respostas que estavam "presas" nas "grades curriculares". Talvez por elas não serem canteiros férteis para as interrogações que nascem nos alunos... Quem sabe cemitérios.

"Por que o mundo gira em torno dele e do sol? Por que a vida é justa com poucos e tão injusta com muitos? Por que o céu é azul? Quem inventou o português? Como os homens e as mulheres chegaram a descobrir as letras e as sílabas? Como a explosão do Big Bang foi originada? Será que existe inferno? Como pode ter alguém que não goste de planta?"

Continuam: "Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Um cego sabe o que é uma cor? Se na arca de Noé havia muitos animais selvagens, por que um não comeu o outro? Para onde vou depois de morrer? Por que adoro instrumentos musicais se ninguém na minha família toca nada? Por que sou nervoso? Por que há vento? Por que as pessoas boas morrem mais cedo? Por que a chuva cai em gotas e não tudo de uma vez?"

Essas perguntas parecem tão ingênuas que nos fazem rir. Mas elas são revelações das funduras das almas e das inteligências das crianças e dos adolescentes. Revelam não só a sua curiosidade sobre o universo como também sua dimensão ética, a preocupação com a justiça, com a beleza, com o mundo dos valores religiosos, com a mitologia...
Da próxima vez vamos brincar com essas suas perguntas.

O FIM

Sabe fim de novela da Globo? Pois tire o tradicional final feliz. “Ah, mas o Dunga se deu mal e o Brasil não levantou o caneco como vocês previram antes do início da Copa!” dirão os críticos do escrete convocado pelo ‘professor’ Carlos Magno Araújo. Sim, esse cara aí do lado com a mão no queixo é o nosso Dunga.

O que significa que se na sua análise houver um culpado entre nós, pobres boleiros mortais, paus e pedras no técnico, por favor! Ou então eleja o Felipe Melo que mais distribuiu carrinhos e pancadas por estas mal traçadas. Afinal, somos todos brasileiros e estamos na mesma jangada sem rumo na imensidão de gastos da Copa que virá em 2014.

Esqueçamos por enquanto, e só por enquanto, o futuro. Imaginemos, agora, que num passado nem tão distante assim, Deus, para usar uma figura onipresente na seleção evangélica de Dunga abençoada por Jorginho, era mesmo brasileiro. E só por conta disso, antigamente Michel Bastos teria nascido na Espanha e Iniesta chorado, pela primeira vez na vida, num hospital público desse lado de cá do Atlântico.

O nome disso, admito, é inveja. Mas daquelas que não fazem mal ao futebol como fez a bolinha quadrada do time de Ricardo Teixeira. Um sujeito que tem a cara de pau de cobrar renovação na Seleção ocupando o mesmo cargo há 21 anos.

Isso é o que nos espera daqui a quatro anos. O resto é história que a gente conta em 2014. Até lá, muita obra sem licitação vai correr por debaixo da próxima Copa. Olho neles porque o dinheiro é nosso.

Hasta la vista!