Hoje tem a saideira de 2008 do Arquivo Vivo na Travessa do Samba, esquina com a Rua Coronel Cascudo, no Centro Histórico. Para quem quiser terminar o ano com o astral lá em cima ouvindo samba de raiz e tomando aquela cerveja geladíssima tem endereço certo. A roda de samba começa às 19h e vai até a madrugada ameaçar a noite. João Nogueira, Cartola, Roberto Ribeiro, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz e uma porção de outros bambas vão descer, mais uma vez, na Travessa do Samba. Tudo acontece no meio da rua, em frente ao bar de Fátima. Imperdível.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
ARQUIVO VIVO ENCERRA 2008 NA TRAVESSA DO SAMBA
Hoje tem a saideira de 2008 do Arquivo Vivo na Travessa do Samba, esquina com a Rua Coronel Cascudo, no Centro Histórico. Para quem quiser terminar o ano com o astral lá em cima ouvindo samba de raiz e tomando aquela cerveja geladíssima tem endereço certo. A roda de samba começa às 19h e vai até a madrugada ameaçar a noite. João Nogueira, Cartola, Roberto Ribeiro, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz e uma porção de outros bambas vão descer, mais uma vez, na Travessa do Samba. Tudo acontece no meio da rua, em frente ao bar de Fátima. Imperdível.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
SEO CORSINO E A NOTA DE 1 CRUZEIRO
O fim do ano transforma o Centro de Natal num caos hilário. As calçadas viram corredores humanos de até quatro mãos com os camelôs apertando o passeio e ganhando a vida e boa parte da clientela das lojas. Ninguém se entende e todo mundo se dá bem ao mesmo tempo. E isso sem falar que se a correria é contra o tempo, também é a favor do sol, estrela maior que incita o mais inibido dos mortais a tomar aquela cerveja geladíssima no balcão do botequim mais próximo.
Mas há, também, quem apenas passe como passam as nuvens, como disse uma vez aqui o seo Arnaldo, ou pare para ver, como na semana passada, um grupo de teatro de rua sedento pelos aplausos e as moedas do respeitável público da Rua João Pessoa, próximo ao histórico Grande Ponto.
No meio dessa muvuca, conheci o seo Corsino. Figura simpática, 76 anos de estrada. Ia comprar uma pipoca para assistir ao espetáculo quando, na hora de pagar a conta, sacou uma nota de 1 cruzeiro da carteira. De olho, vi que o distinto bom velhinho trocou as bolas mas, no fim, com a estranheza do pipoqueiro, acertou tudo na boa. Olhei para o lado, encostei e puxei conversa.
Fiquei constrangido em perguntar sobre a nota. Nesses tempos insanos, qualquer um imaginaria um assalto. Mal sabia eu que nessa história de assalto, seo Corsino é vacinado. Fui em frente:
- O senhor tem uma nota de 1 cruzeiro na carteira?
Ele olhou meio assustado, sorriu em seguida e me narrou a seguinte pérola, como se eu fosse um velho conhecido:
“Ih, rapaz, tenho sim. Mas tinha muito mais. Mais de 30 até. Guardava tudo na carteira. Até que um dia fui assaltado. Estava na avenida Bernardo Vieira, tinha acabado de chegar de uma viagem. Vinha carregando uma Valise com roupa, tudo. Desci do taxi quando dois rapazes e duas moças (notem a elegância com que o seo Corsino chama os vagabundos) me roubaram tudo. Um deles perguntou se eu tinha dinheiro e disse que estava liso. Aí quando ele abriu a carteira e viu aquele tanto de nota, ficou furioso: ‘Seu velho safado, você não falou que não tinha dinheiro! Olha a grana que tem aqui, porra!’ Eu pedi pelo amor de Deus que ele não me matasse porque aquilo tudo era nota antiga, expliquei que fazia coleção... mas mesmo assim o rapaz levou tudo. Até hoje acho que aquele taxista que me pegou no aeroporto tinha alguma coisa a ver com aquele assalto”.
Das mais de 30 notas da coleção de seo Corsino, sobrou apenas a de 1 cruzeiro que quase ficou com o pipoqueiro. Não lembra detalhes sobre a nota nem como a conseguiu. Sabe que apenas guardou. Pesquisando, descobri que a nota de 1 cruzeiro, com a efígie da República, é de 1980. Provavelmente, uma das mais novas da coleção levada pelos vagabundos da Bernardo Vieira.
Grande figura, o seo Corsino. Mais um personagem do Centro para a coleção do Meio da Rua.
ESPERANÇAS PERDIDAS
Quem me acompanha pelo Meio da Rua, sabe que sexta-feira é dia de Arquivo Vivo na Travessa do Samba, ali na esquina com a Rua Coronel Cascudo, artéria do Centro Histórico. O que significa dizer que a noite nas adjacências do Beco da Lama, além de dar samba, dá também histórias que não se ouve e vê em lugar nenhum do mundo. Cada um tem o Centro Histórico que merece. E graças aos deuses, acho que tenho feito por merecer o que o destino me reserva.
Sexta passada, Ivandir chegou ao esquente, ainda em Nazaré, com aquela cara de que ficaria para duas cervejas. Mas quando junta buteco, samba e cerveja, o gaúcho mais preto do Brasil - salve a inspiração de Vinícius de Moraes! – não é de cumprir a palavra. Confesso que é mesmo uma missão impossível.
Já no bar de Fátima, onde a roda acontece, ficamos de olho num sujeito visivelmente emocionado abancado numa mesa próxima aos músicos. Você sente a felicidade de um ser humano numa roda de samba quando o cara, já calibrado, sai batendo na mesa com tudo o que ele encontra pela frente. Por prudência, acho eu, pagou as seis garrafas que consumiu e ainda estavam sobre a mesa, e continuou na cadência das saideiras que vieram, todas derrubadas, uma a uma, sem companhia.
Como não poderia ser diferente, foi desse sujeito, que ainda não conheço, uma das pérola da noite. Quando voltei do banheiro, estavam Ivandir e Ana às gargalhadas na mesa. E o gaúcho emendou:
- Você perdeu essa. Aquele cara não parava de pedir uma música do Zeca Pagodinho para o pessoal. “Toca Zeca Pagodinho!”, “Toca Zeca Pagodinho!”... e nada de dizer a música. Até que ele não se segurou. “Toca Zeca Pagodinho. Aquela, ‘Felicidade, passei no vestibular’...”
Martinho da Vila que se cuide.
A noite seguiu com um papo com o Ferreira, garçom gente finíssima do buteco que todos chamam de João Maria. Mas a história dele, especialíssima, eu conto mais pra frente. Armando, que esteve com a gente no final da tarde mas teve um compromisso inadiável em nome da pequena Amanda, deu um jeito de aparecer de qualquer maneira na Travessa do Samba. E às 20h38, chega mensagem, emocionada, via celular:
- Peçam por mim “Esperanças perdidas”.
Pedido feito, pedido atendido. Se tratava, de fato, de um recado definitivo aos que estavam na mesa e ouviram quando ele disse que voltaria ainda naquela noite:
Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda e eu sou a caçamba
E depois de lavar a alma de samba no bar de Fátima para aguardar a enchente de cerveja do fim de semana, terminamos, eu, Ana e Ivandir, expulsos de outro buteco, o K1, já na avenida Alexandrino de Alencar, onde ainda encontramos o Marquinhos, cavaco do Arquivo Vivo, e a Lívia devorando alguns churrasquinhos. As duas cervejas que o gaúcho disse que tomaria, como vocês podem notar, não passaram de ilusão. Foi mais um a testemunhar o segundo portão de ferro da noite arriado marcando, definitivamente, mais um final feliz da nossa história com os botequins.
domingo, 21 de dezembro de 2008
O MAIOR CANTOR DO BRASIL
Para quem gosta de história, futebol, samba, macumba e botequim, um endereço certo é o blog Histórias do Brasil (hisbrasil.blogspot.com), assinado pelo Luís Antônio Simas, um professor de história botafoguense, sambista carioca da gema. Os textos do cara são, na verdade, grandes aulas de História do Brasil, matéria que, como já disse e pode ser comprovado com uma passada no blog, ele domina.
O texto que reproduzo, na íntegra, foi pescado na manhã de domingo e vai, também, como uma homenagem ao amigo e sambista do peito, Armando Miranda, que por sinal já virou personagem do Meio da Rua.
Pois bem. Um ex-aluno do Simas mandou um email perguntando sobre o cantor preferido do mestre. A resposta veio, como vocês vêem abaixo, com uma aula sobre o resgate do samba. Fiquem agora com o Luís Antônio Simas:
O MAIOR CANTOR DO BRASIL
Acabo de receber email de um ex-aluno, o Renato, me perguntando sobre meus cantores prediletos. Disse ele que quer conhecer melhor a música brasileira, sobretudo o samba. Que bom.
Renato, meu camarada, se eu tivesse que ir para a famosa ilha deserta levando a discografia de um único cantor, não tenho dúvidas - o escolhido seria o grande Dermeval Miranda Maciel, fluminense de Campos dos Goytacases, terra da Candida, minha amada. Dermeval foi um belíssimo ínterprete dos ritmos nobres do Brasil - jongos, sambas, congadas, ijexás, maracatus. O homem arrasava o quarteirão em tudo.
Além da música, o Dermeval gostava tremendamente de futebol e chegou a ser goleiro do Goytacaz. Mudou-se para o Rio de Janeiro exatamente para tentar seguir a carreira nos gramados. Por uma dessa maluquices do acaso, acabou desistindo do esporte e, para levantar uns caraminguás, participou como cantor de um programa da Rádio Mauá, A Hora do Trabalhador. Não parou mais.
Por causa do desempenho na rádio foi levado ao Império Serrano. Tornou-se ínterprete oficial da escola e foi compositor de alguns sambas da agremiação da Serrinha. Só gravou lps fundamentais, com uma qualidade de repertório e uma coerência raríssimas na história da nossa música popular. Um gigante, em suma.
No próximo dia 8 de janeiro relembraremos os 13 anos sem a presença desse cracaço, que foi oló prematuramente em virtude de um atropelamento cretino.
Para você, Renato, sentir o que era o homem, escuta esse samba aqui. O nome é Partilha, dos grandes Romildo e Sérgio Fonseca. Para meu gosto é , ao lado do Último Desejo do Nöel, a maior canção sobre uma separação amorosa na história da nossa música. Não tem Chico Buarque e seus miúdos trocados e olhos nos olhos que chegue perto do que os compositores fizeram e o Dermeval interpretou.
Ah, um detalhe. Como Dermeval era um nome danado de feio, o nosso cantor adotou um pseudônimo porreta : Roberto Ribeiro.
Abraço
O texto que reproduzo, na íntegra, foi pescado na manhã de domingo e vai, também, como uma homenagem ao amigo e sambista do peito, Armando Miranda, que por sinal já virou personagem do Meio da Rua.
Pois bem. Um ex-aluno do Simas mandou um email perguntando sobre o cantor preferido do mestre. A resposta veio, como vocês vêem abaixo, com uma aula sobre o resgate do samba. Fiquem agora com o Luís Antônio Simas:
O MAIOR CANTOR DO BRASIL
Acabo de receber email de um ex-aluno, o Renato, me perguntando sobre meus cantores prediletos. Disse ele que quer conhecer melhor a música brasileira, sobretudo o samba. Que bom.
Renato, meu camarada, se eu tivesse que ir para a famosa ilha deserta levando a discografia de um único cantor, não tenho dúvidas - o escolhido seria o grande Dermeval Miranda Maciel, fluminense de Campos dos Goytacases, terra da Candida, minha amada. Dermeval foi um belíssimo ínterprete dos ritmos nobres do Brasil - jongos, sambas, congadas, ijexás, maracatus. O homem arrasava o quarteirão em tudo.
Além da música, o Dermeval gostava tremendamente de futebol e chegou a ser goleiro do Goytacaz. Mudou-se para o Rio de Janeiro exatamente para tentar seguir a carreira nos gramados. Por uma dessa maluquices do acaso, acabou desistindo do esporte e, para levantar uns caraminguás, participou como cantor de um programa da Rádio Mauá, A Hora do Trabalhador. Não parou mais.
Por causa do desempenho na rádio foi levado ao Império Serrano. Tornou-se ínterprete oficial da escola e foi compositor de alguns sambas da agremiação da Serrinha. Só gravou lps fundamentais, com uma qualidade de repertório e uma coerência raríssimas na história da nossa música popular. Um gigante, em suma.
No próximo dia 8 de janeiro relembraremos os 13 anos sem a presença desse cracaço, que foi oló prematuramente em virtude de um atropelamento cretino.
Para você, Renato, sentir o que era o homem, escuta esse samba aqui. O nome é Partilha, dos grandes Romildo e Sérgio Fonseca. Para meu gosto é , ao lado do Último Desejo do Nöel, a maior canção sobre uma separação amorosa na história da nossa música. Não tem Chico Buarque e seus miúdos trocados e olhos nos olhos que chegue perto do que os compositores fizeram e o Dermeval interpretou.
Ah, um detalhe. Como Dermeval era um nome danado de feio, o nosso cantor adotou um pseudônimo porreta : Roberto Ribeiro.
Abraço
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