Um papelão. Não dá para chamar de outra coisa a entrevista dada no início da noite desta sexta-feira pelo secretário estadual de Segurança Pública, Aldair Rocha, no RN TV 2ª edição, da InterTV Cabugi.
Tentando passar uma falsa tranquilidade à população no caso dos ataques aos ônibus da cidade, Rocha se preocupou apenas em diminuir o tamanho do problema que, ao que parece, está apenas começando para ele.
Quanto mais a secretaria de segurança sonega informação à sociedade, maior é o temor do cidadão que vai pegando o secretário na mentira à medida que a imprensa noticia um ônibus incendiado atrás do outro. Não à toa, uma hora depois, com mais três ônibus atacados na Zona Norte a frota foi recolhida por tempo indeterminado pelo Seturn.
Está claro que as ações simultâneas não são mero vandalismo de uma meia dúzia de vagabundos, como Aldair Rocha tentou fazer passar agora à noite. Se quem assina é o Primeiro Comando da Capital (PCC) pouco importa. Mas que o troço é planejado não há como negar. E tanto a cúpula da segurança pública sabe disso que, antes mesmo do secretário aparecer mentindo na televisão, 16 presos eram transferidos de Alcaçuz para a penitenciária federal de Segurança Máxima de Mossoró.
Fechar os olhos para isso dá margem para muita interpretação. A quem interessa esconder o jogo?
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Cláudio Oliveira traça tudo
Essa eu não sabia. Desde o início do ano a Fundação José Augusto organiza um bate-papo por mês com um cidadão potiguar reconhecido fora do Rio Grande do Norte. Já estiveram por aqui o marchand e ensaísta Geraldo Edson de Andrade, o editor José Xavier Cortez e o diretor de teatro e cinema Moacir de Goes.
O evento chama ‘Arte Potiguar no Mundo’ e acontece, na próxima segunda-feira, a partir das 19h30, no Teatro de Cultura Popular, com o chargista Cláudio Oliveira, que começou a carreira na Tribuna do Norte e foi parar no grupo Folha, em São Paulo.
Cláudio já venceu o prêmio Vladmir Herzog de Direitos Humanos e batizou a conversa com os conterrâneos de ‘Traçando Caminhos’. Quem também já está confirmado para o próximo mês é o escritor Nei Leandro de Castro, hoje radicado no Rio de Janeiro.
O evento chama ‘Arte Potiguar no Mundo’ e acontece, na próxima segunda-feira, a partir das 19h30, no Teatro de Cultura Popular, com o chargista Cláudio Oliveira, que começou a carreira na Tribuna do Norte e foi parar no grupo Folha, em São Paulo.
Cláudio já venceu o prêmio Vladmir Herzog de Direitos Humanos e batizou a conversa com os conterrâneos de ‘Traçando Caminhos’. Quem também já está confirmado para o próximo mês é o escritor Nei Leandro de Castro, hoje radicado no Rio de Janeiro.
O preço da fama
Meu amigo Anderson Barbosa virou herói estadual depois que ajudou a negociar e evitar uma rebelião do PCC no presídio de Alcaçuz. Mas tudo tem um preço. Como publicou o próprio telefone na edição de hoje do NOVO JORNAL, ele não para de receber ligações. Além dos parabéns de amigos e colegas, Anderson passou a receber pedidos inusitados.
Num desses telefones, agora há pouco, um sujeito pediu que ele intermediasse a separação com a própria mulher. A danada está querendo vazar de casa, largar o marido e a família. Para o cabra, só Anderson Barbosa poderá evitar o pior.
Os nobres deputados estaduais, que tanto gostam de homenagear gente que não nunca fez nada pelo Estado, agora tem um bom motivo e poderiam conceder ao brasiliense Anderson Barbosa o título de cidadão potiguar.
Num desses telefones, agora há pouco, um sujeito pediu que ele intermediasse a separação com a própria mulher. A danada está querendo vazar de casa, largar o marido e a família. Para o cabra, só Anderson Barbosa poderá evitar o pior.
Os nobres deputados estaduais, que tanto gostam de homenagear gente que não nunca fez nada pelo Estado, agora tem um bom motivo e poderiam conceder ao brasiliense Anderson Barbosa o título de cidadão potiguar.
O dia em que Anderson Barbosa virou herói
Por Anderson Barbosa, publicado hoje no NOVO JORNAL
João Maria não é um apenado qualquer. Condenado por tráfico de drogas, ele tornou-se hospede de Alcaçuz há oito meses. Esta é sua segunda estadia. Tinha sido posto em liberdade no ano passado para cumprir o regime semiaberto, mas como largou mão do benefício, foi preso novamente. João Maria agora é famoso. João Maria liderou a rebelião em Alcaçuz. João Maria negociou a saída das 54 mulheres que dormiram no presídio.
João Maria é interno do pavilhão 1. Lá estão alguns dos criminosos mais perigosos do estado. É naquela ala onde as leis de Alcaçuz são discutidas. É no pavilhão 1 onde come e dorme a célula do PCC no Rio Grande do Norte. João Maria é do PCC. “Aqui todo mundo é irmão. Todo mundo é do PCC”, afirmou ele, todo gabola.
Quando o telefone tocou, eu não sabia quem era do outro lado da linha. Porém, ao final desta história, vou revelar que duas coisas ficaram gravadas depois desta ligação surpresa. Uma delas vai desaparecer. Não tenho dúvida que vai. A outra, tenho certeza que ninguém apagará.
João Maria: Aqui a situação tá feia. Vai ficar pior se a governadora não vier negociar com nós. Queremos Rosalba e o corregedor. Avisa pro diretor (major Marco Lisboa) que tem gente aqui que vai morrer. Se não atenderem nossas reivindicações, vamos mandar um aviso pra eles verem que aqui ninguém tá de brincadeira.
Repórter: Quem vai morrer? Vocês vão matar quem? Que papo é esse? Vocês vão matar as próprias mulheres de vocês?
João Maria: Não. Aqui ninguém vai machucar a mulher de ninguém. Mas tem preso aqui que merece morrer.
Repórter: Essas mulheres estão aí fazendo o que? O que vocês querem pra soltá-las?
João Maria: Elas estão aqui porque querem, pra ajudar a gente. Mas só vão sair quando a governadora prometer que a nossa situação vai melhorar. Por que não deixaram a nossa comida entrar?
Repórter: Os agentes penitenciários proibiram. Eles dizem que comida, material de higiene e limpeza é o Estado que tem de fornecer.
João Maria: Essa porcaria que dão pra gente nem cachorro come. Aqui a gente passa fome. Tem preso doente por causa dessa comida estragada. Vem você comer essa merda. Quero ver a governadora e o secretário comerem essa merda.
Repórter: Fica calmo. Tô indo pra Alcaçuz. Quem é que tá no comando aí?
João Maria: Quem manda aqui é o PCC. Aqui todo mundo é irmão. Todo mundo é o PCC. Venha que a gente quer a imprensa aqui. Com vocês aqui, a polícia não faz nada com a gente. Se não tiver imprensa aqui, eles vão invadir. Vai ter morte, tô avisando.
Repórter: Espera que eu tô chagando. Quando eu estiver aí, ligo de volta. Deixa o telefone ligado. Quem te deu o telefone que você tá usando?
João Maria: Você sabe que visita não entra com celular. Quem entra com telefone são os agentes. É só pagar que você recebe.
Repórter: Quem são os agentes? Quanto custa o telefone?
João Maria: Sou burro não. Se disser o nome deles eu morro. O telefone custa mil reais.
Repórter: Ficou caro, né? Ano passado um colega seu disse que valia uns R$ 200 ou R$ 300, no máximo.
João Maria: Por este valor você não compra nem o chip.
Repórter: Vou desligar. Quando chegar aí eu ligo.
A reportagem deixou a redação do NOVO JORNAL, no bairro da Ribeira, por volta das R$ 7h. Até Alcaçuz, em Nísia Floresta, em função da chuva e do trânsito lento, o percurso demorou quase uma hora. E logo na entrada da penitenciária, ficou nítido que havia algo errado.
Estranhamente, apenas os agentes penitenciários estavam no rol de entrada de Alcaçuz. Dez ao todo. Apenas dez homens para tomar conta de mais de 700 presos. No presídio a Polícia Militar fica do lado de fora, fazendo a guarda externa. Dentro, só os agentes penitenciários. Apenas os dez.
Repórter: João, aqui só tem agente penitenciário. O diretor (major Marcos Lisboa) não está aqui. Nem o coordenador (José Olímpio).
João Maria: Cadê você? Aparece aí no portão pra eu ver.
Repórter: Tô aqui. Tá vendo? Acena aí pra eu te ver.
João Maria: Tô aqui. Tá vendo bandeira do PCC. Vou balançar pra você ver.
Repórter: Balança pro fotógrafo fazer a foto.
João Maria: Manda esse policial que dá do teu lado sair daí.
Repórter: Aqui não tem PM. Só tem agente penitenciário.
João Maria: Esse que tá aí, do teu lado. Manda ele sair.
Repórter: É o Ney Douglas, meu fotógrafo. Essa capa verde é de chuva. Se molhar a câmera não tem foto.
João Maria: (depois de gargalhar) Cara, ele parece um PM. E cadê o secretário? Cadê a governadora?
Repórter: João, a governadora não vem. Você me disse que não é burro. Você acha mesmo que a governadora vai se curvar pra preso? Ela é a governadora do estado. Já liguei para o secretário Thiago Cortez (Sejuc) e ele disse que também não vem. Mas a imprensa tá aqui. É só você exigir a nossa presença e nós vamos conversar. Tá certo assim?
João Maria: Então liga pra Wellington (o vice-diretor). Aí você entra com ele e a gente negocia.
Repórter: Eu não negocio nada. Posso ir com ele pra você ver que estamos aqui pra resolver sem precisar a polícia entrar. Não é isso que você quer? Você me ajuda que eu te ajudo. Fechado?
João Maria: Eu vou dar 15 minutos pro Wellington chegar. Se ele não aparecer vamos mandar um aviso. Quem é que tá na chefia aí?
Repórter: Aqui só tem agente penitenciário. O chefe da equipe é o Eduardo. Vou passar pra ele. Não desliga.
Neste momento o agente Eduardo Júnior, chefe da equipe, pega o telefone da reportagem e conversa com João Maria. Dois minutos de conversa foi tempo suficiente para o agente garantir ao preso que não haveria represália. “Da minha parte você pode ficar tranquilo. Wellington já tá vindo pra cá. Quando ele chegar vocês conversam. As mulheres saem e tudo fica numa boa. Pode confiar que ninguém vai sofrer nada”, disse Eduardo, devolvendo o telefone ao repórter.
Repórter: Tá vendo João. Tá limpeza. Deixa as mulheres saírem.
João Maria: Só quando eu falar com Wellington. Ele tem que voltar pra direção. Ele a gente respeita. Esse diretor que tá aí (major Lisboa) só faz humilhar a gente.
Repórter: João, espera aí que o carro de Wellington tá chegando. Acho que é ele. Não desliga que vou passar o telefone pra ele. Não desliga.
Wellington entrou em Alcaçuz por volta das 8h20. Naquele exato instante, já fazia praticamente 24 horas que as mulheres estavam dentro do presídio.
Repórter: Wellington, tem um preso aqui na linha querendo falar com você. Ele disse que só negocia com o senhor.
Wellington Marques: É você João? Tenha calma que eu vou aí falar com você. Vai sim, a imprensa vai sim. Anderson tá aqui do meu lado e vai também. Tô entrando.
Portões abertos, o vice-diretor caminhou em direção ao pavilhão 1. Do rol de entrada até o portão que dá acesso ao pavilhão, são quase 200 metros. Wellington seguia na frente, com os agentes penitenciários armados logo atrás. Na cola deles, naquele momento, toda a imprensa. Além do NOVO JORNAL, jornalistas da TV Cabugi, Ponta Negra, Tropical, Sim TV, Band, TV União, Diário de Natal, Tribuna do Norte, Jornal de Hoje, Portal BO e Nominuto.
João Maria não é um apenado qualquer. Condenado por tráfico de drogas, ele tornou-se hospede de Alcaçuz há oito meses. Esta é sua segunda estadia. Tinha sido posto em liberdade no ano passado para cumprir o regime semiaberto, mas como largou mão do benefício, foi preso novamente. João Maria agora é famoso. João Maria liderou a rebelião em Alcaçuz. João Maria negociou a saída das 54 mulheres que dormiram no presídio.
João Maria é interno do pavilhão 1. Lá estão alguns dos criminosos mais perigosos do estado. É naquela ala onde as leis de Alcaçuz são discutidas. É no pavilhão 1 onde come e dorme a célula do PCC no Rio Grande do Norte. João Maria é do PCC. “Aqui todo mundo é irmão. Todo mundo é do PCC”, afirmou ele, todo gabola.
Quando o telefone tocou, eu não sabia quem era do outro lado da linha. Porém, ao final desta história, vou revelar que duas coisas ficaram gravadas depois desta ligação surpresa. Uma delas vai desaparecer. Não tenho dúvida que vai. A outra, tenho certeza que ninguém apagará.
João Maria: Aqui a situação tá feia. Vai ficar pior se a governadora não vier negociar com nós. Queremos Rosalba e o corregedor. Avisa pro diretor (major Marco Lisboa) que tem gente aqui que vai morrer. Se não atenderem nossas reivindicações, vamos mandar um aviso pra eles verem que aqui ninguém tá de brincadeira.
Repórter: Quem vai morrer? Vocês vão matar quem? Que papo é esse? Vocês vão matar as próprias mulheres de vocês?
João Maria: Não. Aqui ninguém vai machucar a mulher de ninguém. Mas tem preso aqui que merece morrer.
Repórter: Essas mulheres estão aí fazendo o que? O que vocês querem pra soltá-las?
João Maria: Elas estão aqui porque querem, pra ajudar a gente. Mas só vão sair quando a governadora prometer que a nossa situação vai melhorar. Por que não deixaram a nossa comida entrar?
Repórter: Os agentes penitenciários proibiram. Eles dizem que comida, material de higiene e limpeza é o Estado que tem de fornecer.
João Maria: Essa porcaria que dão pra gente nem cachorro come. Aqui a gente passa fome. Tem preso doente por causa dessa comida estragada. Vem você comer essa merda. Quero ver a governadora e o secretário comerem essa merda.
Repórter: Fica calmo. Tô indo pra Alcaçuz. Quem é que tá no comando aí?
João Maria: Quem manda aqui é o PCC. Aqui todo mundo é irmão. Todo mundo é o PCC. Venha que a gente quer a imprensa aqui. Com vocês aqui, a polícia não faz nada com a gente. Se não tiver imprensa aqui, eles vão invadir. Vai ter morte, tô avisando.
Repórter: Espera que eu tô chagando. Quando eu estiver aí, ligo de volta. Deixa o telefone ligado. Quem te deu o telefone que você tá usando?
João Maria: Você sabe que visita não entra com celular. Quem entra com telefone são os agentes. É só pagar que você recebe.
Repórter: Quem são os agentes? Quanto custa o telefone?
João Maria: Sou burro não. Se disser o nome deles eu morro. O telefone custa mil reais.
Repórter: Ficou caro, né? Ano passado um colega seu disse que valia uns R$ 200 ou R$ 300, no máximo.
João Maria: Por este valor você não compra nem o chip.
Repórter: Vou desligar. Quando chegar aí eu ligo.
A reportagem deixou a redação do NOVO JORNAL, no bairro da Ribeira, por volta das R$ 7h. Até Alcaçuz, em Nísia Floresta, em função da chuva e do trânsito lento, o percurso demorou quase uma hora. E logo na entrada da penitenciária, ficou nítido que havia algo errado.
Estranhamente, apenas os agentes penitenciários estavam no rol de entrada de Alcaçuz. Dez ao todo. Apenas dez homens para tomar conta de mais de 700 presos. No presídio a Polícia Militar fica do lado de fora, fazendo a guarda externa. Dentro, só os agentes penitenciários. Apenas os dez.
Repórter: João, aqui só tem agente penitenciário. O diretor (major Marcos Lisboa) não está aqui. Nem o coordenador (José Olímpio).
João Maria: Cadê você? Aparece aí no portão pra eu ver.
Repórter: Tô aqui. Tá vendo? Acena aí pra eu te ver.
João Maria: Tô aqui. Tá vendo bandeira do PCC. Vou balançar pra você ver.
Repórter: Balança pro fotógrafo fazer a foto.
João Maria: Manda esse policial que dá do teu lado sair daí.
Repórter: Aqui não tem PM. Só tem agente penitenciário.
João Maria: Esse que tá aí, do teu lado. Manda ele sair.
Repórter: É o Ney Douglas, meu fotógrafo. Essa capa verde é de chuva. Se molhar a câmera não tem foto.
João Maria: (depois de gargalhar) Cara, ele parece um PM. E cadê o secretário? Cadê a governadora?
Repórter: João, a governadora não vem. Você me disse que não é burro. Você acha mesmo que a governadora vai se curvar pra preso? Ela é a governadora do estado. Já liguei para o secretário Thiago Cortez (Sejuc) e ele disse que também não vem. Mas a imprensa tá aqui. É só você exigir a nossa presença e nós vamos conversar. Tá certo assim?
João Maria: Então liga pra Wellington (o vice-diretor). Aí você entra com ele e a gente negocia.
Repórter: Eu não negocio nada. Posso ir com ele pra você ver que estamos aqui pra resolver sem precisar a polícia entrar. Não é isso que você quer? Você me ajuda que eu te ajudo. Fechado?
João Maria: Eu vou dar 15 minutos pro Wellington chegar. Se ele não aparecer vamos mandar um aviso. Quem é que tá na chefia aí?
Repórter: Aqui só tem agente penitenciário. O chefe da equipe é o Eduardo. Vou passar pra ele. Não desliga.
Neste momento o agente Eduardo Júnior, chefe da equipe, pega o telefone da reportagem e conversa com João Maria. Dois minutos de conversa foi tempo suficiente para o agente garantir ao preso que não haveria represália. “Da minha parte você pode ficar tranquilo. Wellington já tá vindo pra cá. Quando ele chegar vocês conversam. As mulheres saem e tudo fica numa boa. Pode confiar que ninguém vai sofrer nada”, disse Eduardo, devolvendo o telefone ao repórter.
Repórter: Tá vendo João. Tá limpeza. Deixa as mulheres saírem.
João Maria: Só quando eu falar com Wellington. Ele tem que voltar pra direção. Ele a gente respeita. Esse diretor que tá aí (major Lisboa) só faz humilhar a gente.
Repórter: João, espera aí que o carro de Wellington tá chegando. Acho que é ele. Não desliga que vou passar o telefone pra ele. Não desliga.
Wellington entrou em Alcaçuz por volta das 8h20. Naquele exato instante, já fazia praticamente 24 horas que as mulheres estavam dentro do presídio.
Repórter: Wellington, tem um preso aqui na linha querendo falar com você. Ele disse que só negocia com o senhor.
Wellington Marques: É você João? Tenha calma que eu vou aí falar com você. Vai sim, a imprensa vai sim. Anderson tá aqui do meu lado e vai também. Tô entrando.
Portões abertos, o vice-diretor caminhou em direção ao pavilhão 1. Do rol de entrada até o portão que dá acesso ao pavilhão, são quase 200 metros. Wellington seguia na frente, com os agentes penitenciários armados logo atrás. Na cola deles, naquele momento, toda a imprensa. Além do NOVO JORNAL, jornalistas da TV Cabugi, Ponta Negra, Tropical, Sim TV, Band, TV União, Diário de Natal, Tribuna do Norte, Jornal de Hoje, Portal BO e Nominuto.
O escândalo da semana
Jornalista é bicho besta. Quando falta assunto para o artigo da semana, o sujeito começa o texto reclamando que está sem inspiração. Do contrário, se acontece tudo ao mesmo tempo, fica igual ao peru que tomou aquele goró na véspera e anda de um lado pra outro sem saber o que fazer antes do golpe fatal.
Na segunda-feira, imaginei que o filão seria o pecado capital da rapaziada do Ipem que, ao que indicam as investigações do Ministério Público, foi com muita sede ao cofrinho de ouro. Aliás, o instituto dos fantasminhas camaradas tarados por diárias foi mais um escândalo na esteira de corrupção dos últimos anos. Coincidência, ou não, quando se vai atrás das doações de campanha eleitoral, tem sempre alguém envolvido numa falcatrua doando grana para candidato.
No xadrez improvisado no quartel da PM, com direito a ar-condicionado e chuveiro elétrico, a tchurma do Ipem deve ter passado a primeira noite sonhando com o tarado do ex-ministro do Turismo que, além de ter pago um motelzinho com dinheiro público no Maranhão, também bancou por sete anos, com grana do erário, a governanta de casa.
A saída do velhaco, que ganhou ares de escândalo nacional, era outra alternativa. Mas mudei de ideia quando a Dilma mandou dizer a Henrique Alves que se o PMDB ainda quisesse ficar com o Turismo que arrumasse um candidato com a ficha limpa. Aí lascou, pensei. Era melhor pedir que o partido se retirasse do governo do que criar um constrangimento desses. Até porque, hoje em dia, se um sujeito ficha limpa passar na porta do PDMB é crise interna na certa. E daí para mais um escândalo nacional é um pulo.
Então fiquei naquela expectativa de quem apareceria primeiro: o tal ficha limpa do PMDB ou o deputado estadual Gilson Moura, que indicou o diretor geral do Ipem, outros 53 cargos comissionados no órgão, e simplesmente sumiu.
Confesso que me sur-preendi com a velocidade com que o novo ministro foi anunciado. Porém, para manter a coerência, o PMDB tratou de chamar o deputado federal GASTÃO Vieira, que se gastar menos que o ante-cessor já alivia um peso grande no tesouro nacional.
Antes de acabar, a se-mana ainda brindou a sociedade com as investigações sobre o cartel dos combustíveis até que a grande notícia apareceu. No bar do Dedé, em Ponta Negra, Nigelson, amigo do meu pai, disse que viu em algum lugar a Xuxa dizendo que o pé do Pelé foi a coisa mais nojenta que ela já viu na vida. Foi um baque na mesa.
Sem cerimônia, a Meneghell falou dos pés de um Rei. Dos pés do sujeito que, em campo, carregava na chuteira o orgulho nacional. Dos pés de 1.282 gols. A Xuxa, meus amigos, tem nojo dos pés que fizeram feliz um país inteiro, que o mundo reverenciou.
Àquela altura, a cerveja entalada só desceu quando Naílton, o irmão de Nigélson, botou ainda mais fogo na polêmica:
- E é? Será que o pé do Pelé é mais feio que o da Marlene Mattos?
Silêncio na mesa. Esse foi, em estado bruto, o escândalo da semana.
Na segunda-feira, imaginei que o filão seria o pecado capital da rapaziada do Ipem que, ao que indicam as investigações do Ministério Público, foi com muita sede ao cofrinho de ouro. Aliás, o instituto dos fantasminhas camaradas tarados por diárias foi mais um escândalo na esteira de corrupção dos últimos anos. Coincidência, ou não, quando se vai atrás das doações de campanha eleitoral, tem sempre alguém envolvido numa falcatrua doando grana para candidato.
No xadrez improvisado no quartel da PM, com direito a ar-condicionado e chuveiro elétrico, a tchurma do Ipem deve ter passado a primeira noite sonhando com o tarado do ex-ministro do Turismo que, além de ter pago um motelzinho com dinheiro público no Maranhão, também bancou por sete anos, com grana do erário, a governanta de casa.
A saída do velhaco, que ganhou ares de escândalo nacional, era outra alternativa. Mas mudei de ideia quando a Dilma mandou dizer a Henrique Alves que se o PMDB ainda quisesse ficar com o Turismo que arrumasse um candidato com a ficha limpa. Aí lascou, pensei. Era melhor pedir que o partido se retirasse do governo do que criar um constrangimento desses. Até porque, hoje em dia, se um sujeito ficha limpa passar na porta do PDMB é crise interna na certa. E daí para mais um escândalo nacional é um pulo.
Então fiquei naquela expectativa de quem apareceria primeiro: o tal ficha limpa do PMDB ou o deputado estadual Gilson Moura, que indicou o diretor geral do Ipem, outros 53 cargos comissionados no órgão, e simplesmente sumiu.
Confesso que me sur-preendi com a velocidade com que o novo ministro foi anunciado. Porém, para manter a coerência, o PMDB tratou de chamar o deputado federal GASTÃO Vieira, que se gastar menos que o ante-cessor já alivia um peso grande no tesouro nacional.
Antes de acabar, a se-mana ainda brindou a sociedade com as investigações sobre o cartel dos combustíveis até que a grande notícia apareceu. No bar do Dedé, em Ponta Negra, Nigelson, amigo do meu pai, disse que viu em algum lugar a Xuxa dizendo que o pé do Pelé foi a coisa mais nojenta que ela já viu na vida. Foi um baque na mesa.
Sem cerimônia, a Meneghell falou dos pés de um Rei. Dos pés do sujeito que, em campo, carregava na chuteira o orgulho nacional. Dos pés de 1.282 gols. A Xuxa, meus amigos, tem nojo dos pés que fizeram feliz um país inteiro, que o mundo reverenciou.
Àquela altura, a cerveja entalada só desceu quando Naílton, o irmão de Nigélson, botou ainda mais fogo na polêmica:
- E é? Será que o pé do Pelé é mais feio que o da Marlene Mattos?
Silêncio na mesa. Esse foi, em estado bruto, o escândalo da semana.
MPBeco divulga seleção do festival
A produção do MPBeco divulgou as 24 músicas selecionadas para o festival que rola nos dias 1°, 8 e 15 de outubro, na praça Sete de Setembro, em frente ao Palácio Potengi.
Para chegar as 24 concorrentes, a comissão teve ouviu 285 músicas. Ao todo, 139 inscrições de várias regiões do Estado foram realizadas. Os responsáveis por essa verdadeira garimpagem foram o músico Mirabô Dantas, a musicista e poeta Michelle Ferret, e o músico e jornalista Moisés de Lima.
Em 2011, no final de cada noite, a sexta edição do MPBeco ainda vai com Lirinha, Cida Lobo, Du Souto, Escurinho, Maguinho da Silva e Cidadão Instigado.
Confira as músicas selecionadas:
01 Algumas Verdades Sobre a Mentira
Autores: Simona Talma e Romildo Soares
(Natal/RN)
02 Alice
Autor: Max Soul
(Natal/RN)
03 Amor Bandido
Autor: MC Priguissa
(Natal/RN)
04 Apenas Um Blues
Lindenberg Mariano
Natal/RN
05 Árido Blues
Autor: Zoroaster Cavalcanti de Medeiros
(Natal/RN)
06 As Barbas da Mãe
Autores: Rafael Novais / Eduardo Borges / Rafael Melo / Weslley Xavier
(Povoado Mata Verde / Macaíba/RN)
07 Bar das Bandeiras
Autores: Wigder Valle e José Gaudêncio Torquato
(Natal/RN)
08 Blues do Desespero
Autor: Antônio Carlos Spinelli
(Natal/RN)
09 Canto do Concliz
Autor: Popola de Natal
(Natal/RN)
10 Chuva de Alexandria
Autor: Breno Z
(Natal/RN)
11 Depois
Autor: Yrahn Barreto
(São Gonçalo do Amarante/RN)
12 Do Alto do Palato
Autora: Rani
(Natal/RN)
13 Festa na Vila
Autor: João Henrique Koerig
(Natal/RN)
14 Homens Lunares
Autores: Luciana Barros e Fábio Rocha
(Natal/RN)
15 Jurubebas Queen
Autor: Artur Soares
(Mossoró/RN)
16 Liberdade Vigiada
Autores: Abel Melo e Leandro Levy
(São Paulo do Potengi/RN)
17 O Cotidiano
Autor: SaintClair
(Natal/RN)
18 O Retrato de Madame K
Autor: Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros
(Natal/RN)
19 O Trovão e O Passarinho
Autores: Nagério / Carlos Bem / Franklin Mário
(Natal/RN)
20 Overdose de Samba
Autor: Heriberto Pedro da Silva (Zorro)
(Natal/RN)
21 Solidão Avulsa
Autores: Pedras Leão e Maria Di Lia
(Natal/RN)
22 Tango do Hospício Encantado
Autores: Franklyn Nogvaes e Antônio Ronaldo
(Natal/RN)
23 Tico-Tico
Autor: Caio Padilha
(Natal/RN)
24 Xote Americano
Autores: Joana Medeiros e Batista Araújo
(Natal/RN)
Para chegar as 24 concorrentes, a comissão teve ouviu 285 músicas. Ao todo, 139 inscrições de várias regiões do Estado foram realizadas. Os responsáveis por essa verdadeira garimpagem foram o músico Mirabô Dantas, a musicista e poeta Michelle Ferret, e o músico e jornalista Moisés de Lima.
Em 2011, no final de cada noite, a sexta edição do MPBeco ainda vai com Lirinha, Cida Lobo, Du Souto, Escurinho, Maguinho da Silva e Cidadão Instigado.
Confira as músicas selecionadas:
01 Algumas Verdades Sobre a Mentira
Autores: Simona Talma e Romildo Soares
(Natal/RN)
02 Alice
Autor: Max Soul
(Natal/RN)
03 Amor Bandido
Autor: MC Priguissa
(Natal/RN)
04 Apenas Um Blues
Lindenberg Mariano
Natal/RN
05 Árido Blues
Autor: Zoroaster Cavalcanti de Medeiros
(Natal/RN)
06 As Barbas da Mãe
Autores: Rafael Novais / Eduardo Borges / Rafael Melo / Weslley Xavier
(Povoado Mata Verde / Macaíba/RN)
07 Bar das Bandeiras
Autores: Wigder Valle e José Gaudêncio Torquato
(Natal/RN)
08 Blues do Desespero
Autor: Antônio Carlos Spinelli
(Natal/RN)
09 Canto do Concliz
Autor: Popola de Natal
(Natal/RN)
10 Chuva de Alexandria
Autor: Breno Z
(Natal/RN)
11 Depois
Autor: Yrahn Barreto
(São Gonçalo do Amarante/RN)
12 Do Alto do Palato
Autora: Rani
(Natal/RN)
13 Festa na Vila
Autor: João Henrique Koerig
(Natal/RN)
14 Homens Lunares
Autores: Luciana Barros e Fábio Rocha
(Natal/RN)
15 Jurubebas Queen
Autor: Artur Soares
(Mossoró/RN)
16 Liberdade Vigiada
Autores: Abel Melo e Leandro Levy
(São Paulo do Potengi/RN)
17 O Cotidiano
Autor: SaintClair
(Natal/RN)
18 O Retrato de Madame K
Autor: Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros
(Natal/RN)
19 O Trovão e O Passarinho
Autores: Nagério / Carlos Bem / Franklin Mário
(Natal/RN)
20 Overdose de Samba
Autor: Heriberto Pedro da Silva (Zorro)
(Natal/RN)
21 Solidão Avulsa
Autores: Pedras Leão e Maria Di Lia
(Natal/RN)
22 Tango do Hospício Encantado
Autores: Franklyn Nogvaes e Antônio Ronaldo
(Natal/RN)
23 Tico-Tico
Autor: Caio Padilha
(Natal/RN)
24 Xote Americano
Autores: Joana Medeiros e Batista Araújo
(Natal/RN)
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Sem desafinar, Arquivo Vivo vai ao Tom Maior
A tradicional Quinta Viva do Samba, que rola todas as quintas-feiras com o grupo Arquivo Vivo, no bar de Nazaré, por trás da Assembleia Legislativa, na Cidade Alta, não vai acontecer hoje nem na próxima semana.
A parada ocorre porque o buteco passaria por uma reforma, o que acabou não dando certo. Porém, como havia sido avisado com antecedência, a rapaziada fechou duas apresentações na quinta-feira, no bar Tom Maior, que fica na rua São José, próximo a Promater, em Lagoa Nova.
A roda de samba começa às 21h e sabe-se lá que horas termina.
Daqui a três quintas-feiras o Arquivo Vivo volta para o Beco. Até porque lugar de samba é, com o perdão da modéstia, n´O MEIO DA RUA.
A parada ocorre porque o buteco passaria por uma reforma, o que acabou não dando certo. Porém, como havia sido avisado com antecedência, a rapaziada fechou duas apresentações na quinta-feira, no bar Tom Maior, que fica na rua São José, próximo a Promater, em Lagoa Nova.
A roda de samba começa às 21h e sabe-se lá que horas termina.
Daqui a três quintas-feiras o Arquivo Vivo volta para o Beco. Até porque lugar de samba é, com o perdão da modéstia, n´O MEIO DA RUA.
A literatura em dois tempos
Hoje a noite é da literatura. Pablo Capistrano e Ticiano Duarte retomam o caminho das letras e lançam, a partir das 19h, mais duas obras. O filósofo estreia na área de contos, ele que já namorou a poesia, o romance e as crônicas. Já o jornalista, cronista da memória política potiguar, reúne num único volume 60 crônicas publicadas no jornal Tribuna do Norte.
Conversei com os dois semana passada. Em ‘É preciso ter sorte quando se está em guerra’, que sai com o selo dos Jovens Escribas, Pablo fala do pânico da sociedade urbana moderna. São três contos, longos, em que também homenageia referências literárias, como Edgard Alan Poe, Jack Kerouac e Franz Kafka. O pânico, para ele, está ligado à ansiedade. Na visão de Capistrano a sociedade surtou, ficou louca. Tudo conseqüência da guerra econômica, social, auditiva e existencial dos dias de hoje.
Enquanto o filósofo fala do presente, o jornalista se agarra ao passado. No livro ‘No chão dos perrés e pelabuchos’, publicado pela editora Z, Ticiano volta mais de 70 anos no tempo para recontar a história política potiguar a partir das disputas entre os perrés, grupo ligado ao partido republicano liderado na época por Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra de Medeiros, e os pelabuchos, turma que tinha como símbolos Mário Câmara e Café Filho. Segundo o autor, o catiripapo rolava solto quando a rapaziada se estranhava. O livro ainda traz perfis de personagens esquecidos pela história. Embora não tenha uma ordem cronológica definida, a obra vai até o início da ditadura militar.
Pablo e Ticiano, um em cada tempo.
Serviço:
‘É preciso ter sorte quando se está em guerra’, de Pablo Capistrano, hoje, a partir das 19h, na Siciliano do Natal Shopping.
‘No chão dos perrés e pelabuchos’, de Ticiano Duarte, hoje, a partir das 19h, na Siciliano do Midway Mall.
Conversei com os dois semana passada. Em ‘É preciso ter sorte quando se está em guerra’, que sai com o selo dos Jovens Escribas, Pablo fala do pânico da sociedade urbana moderna. São três contos, longos, em que também homenageia referências literárias, como Edgard Alan Poe, Jack Kerouac e Franz Kafka. O pânico, para ele, está ligado à ansiedade. Na visão de Capistrano a sociedade surtou, ficou louca. Tudo conseqüência da guerra econômica, social, auditiva e existencial dos dias de hoje.
Enquanto o filósofo fala do presente, o jornalista se agarra ao passado. No livro ‘No chão dos perrés e pelabuchos’, publicado pela editora Z, Ticiano volta mais de 70 anos no tempo para recontar a história política potiguar a partir das disputas entre os perrés, grupo ligado ao partido republicano liderado na época por Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra de Medeiros, e os pelabuchos, turma que tinha como símbolos Mário Câmara e Café Filho. Segundo o autor, o catiripapo rolava solto quando a rapaziada se estranhava. O livro ainda traz perfis de personagens esquecidos pela história. Embora não tenha uma ordem cronológica definida, a obra vai até o início da ditadura militar.
Pablo e Ticiano, um em cada tempo.
Serviço:
‘É preciso ter sorte quando se está em guerra’, de Pablo Capistrano, hoje, a partir das 19h, na Siciliano do Natal Shopping.
‘No chão dos perrés e pelabuchos’, de Ticiano Duarte, hoje, a partir das 19h, na Siciliano do Midway Mall.
Uma pisa salarial
*Do blog www.diariodotempo.com.br, assinado por Sérgio Vilar
Para que tomem ciência da realidade lastimável do nosso achatado piso salarial, dêem uma olhada nos salários pagos nos nossos vizinhos. Leve-se em consideração que em muitos estados o piso serve apenas de referência. Em Pernambuco, por exemplo, os salários são bem mais altos. Aqui, se paga, quando não o piso, muito pouco acima disso. Outra observação: até poucos anos atrás, o Piauí era o piso mais baixo do Brasil. Hoje, somos nós. Vejam aí que não é só a professora Amanda Gurgel a lastimar um contracheque de três dígitos:
Bahia – R$ 2.440,00*
Alagoas – R$ 2.324,05
Ceará – R$ 1.641,05
Pernambuco – R$ 1.500,00*
Maranhão – R$ 1.391,78
Piauí – R$ 1.157,40
Paraíba – R$ 1.112,00*
Sergipe – R$ 1.021,64
Rio Grande Sem Sorte – R$ 950,00*
* Os estados marcados com asterisco estão em negociação.
Para que tomem ciência da realidade lastimável do nosso achatado piso salarial, dêem uma olhada nos salários pagos nos nossos vizinhos. Leve-se em consideração que em muitos estados o piso serve apenas de referência. Em Pernambuco, por exemplo, os salários são bem mais altos. Aqui, se paga, quando não o piso, muito pouco acima disso. Outra observação: até poucos anos atrás, o Piauí era o piso mais baixo do Brasil. Hoje, somos nós. Vejam aí que não é só a professora Amanda Gurgel a lastimar um contracheque de três dígitos:
Bahia – R$ 2.440,00*
Alagoas – R$ 2.324,05
Ceará – R$ 1.641,05
Pernambuco – R$ 1.500,00*
Maranhão – R$ 1.391,78
Piauí – R$ 1.157,40
Paraíba – R$ 1.112,00*
Sergipe – R$ 1.021,64
Rio Grande Sem Sorte – R$ 950,00*
* Os estados marcados com asterisco estão em negociação.
Procura-se um deputado
O que parecia impossível aconteceu. O PMDB conseguiu indicar um político 'ficha limpa' para o ministério do Turismo de Dilma Rousseff antes que a imprensa local conseguisse encontrar o deputado estadual Gilson Moura.
Desde segunda-feira passada, quando o Ministério Público desmontou o esquema de corrupção que ocorreu no Ipem entre 2007 e 2010, durante o governo Wilma de Faria, a imprensa tenta localizar Gilson Moura por conta das ligações estreitas que o deputado mantinha com o advogado Rychardson de Macêdo Bernardo, ex-diretor geral do órgão apontado pelos promotores como o líder da suposta organização criminosa que desviou recursos públicos do Ipem.
Além de ter indicato Rychardson para o governo, Gilson Moura também seria o 'padrinho' de outras 53 pessoas que assumiram cargos comissionados no Ipem durante a gestão passada, segundo consta na petição do MP entregue à Justiça.
Ontem, a Assembleia Legislativa divulgou que, mesmo depois de ser exonerado da direção geral do Ipem por suspeita de corrupção, Rychardson ocupou o cargo de assessor jurídico no gabinete de Gilson Moura, onde trabalhou até dezembro do ano passado.
A imprensa só quer saber o porquê.
Desde segunda-feira passada, quando o Ministério Público desmontou o esquema de corrupção que ocorreu no Ipem entre 2007 e 2010, durante o governo Wilma de Faria, a imprensa tenta localizar Gilson Moura por conta das ligações estreitas que o deputado mantinha com o advogado Rychardson de Macêdo Bernardo, ex-diretor geral do órgão apontado pelos promotores como o líder da suposta organização criminosa que desviou recursos públicos do Ipem.
Além de ter indicato Rychardson para o governo, Gilson Moura também seria o 'padrinho' de outras 53 pessoas que assumiram cargos comissionados no Ipem durante a gestão passada, segundo consta na petição do MP entregue à Justiça.
Ontem, a Assembleia Legislativa divulgou que, mesmo depois de ser exonerado da direção geral do Ipem por suspeita de corrupção, Rychardson ocupou o cargo de assessor jurídico no gabinete de Gilson Moura, onde trabalhou até dezembro do ano passado.
A imprensa só quer saber o porquê.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Do tempo em que um Bistrô era apenas uma Cantina
Escrevi esse texto há mais de um ano, na primeira vez em que estive no buteco. Ontem, mais ou menos a essa hora, o jornalista Alexis Peixoto informou, pelo twitter, que a Cantina do Edinaldo que conheci antes de virar Bistrô vai cerrar para sempre o portão de ferro. Ainda assim, como registro histórico, acho que vale a lembrança. Abaixo, com o título original.
O CALDO DE OVA E AS HISTÓRIAS DA DONA VERA
Uma amiga já havia cantado a pedra sobre a jóia que era o caldo de ova da cantina do Ednaldo, em Petrópolis. O desejo, guardado por vários dias, era grande. Particularmente para mim seriam duas descobertas: a do boteco e a do próprio tira-gosto. Enfim, saiu. Segunda-feira, final de mais um expediente pesado no jornal, lá fomos atrás do famoso caldinho.
Coisa de 22h. À noite, Petrópolis é um bairro tímido e silencioso. Segunda-feira, então, nem se fala. De esquina, o portão de ferro que dava para a avenida Afonso Pena já estava arriado. Na lateral, duas senhoras com mais de 60 anos ainda empilhavam mesas e cadeiras na tentativa de passar a régua em mais um dia de trabalho.
- Ainda sai um caldinho?
Sai, minha filha. Do que você quer?
- De ova...
Pedido atendido com aquela boa vontade que só quem comanda um botequim de verdade há 35 anos, como a dona Vera Lúcia, tem.
E assim que a primeira Antarctica desceu gelada na garganta, os problemas foram se esvaindo aos poucos em cada gole bem tomado e temperado pelo limãozinho despejado no caldinho de ouro da casa.
Dentro do botequim, a prateleira de madeira velha com poucas garrafas mais vazias que cheias, um tradicional balcão pequeno rachado e as fotografias nas paredes de clientes antigos lembravam que, além de boteco, a cantina do Ednaldo é um ambiente de família.
Mas ainda faltavam as histórias. E em questão de minutos, um cardápio de causos foi servido à mesa pela proprietária do estabelecimento que puxou a cadeira amarela e se empolgou a contar a vida. Dona Vera Lúcia falou dos fregueses mais chatos, de um seresteiro que baixa sempre por ali, da polêmica Nélia, que enche a cara toda vez que vai ao botequim e sai provocando tudo quanto é cliente, lembrou do marido, que se formou advogado com mais de 40 anos e morreu de forma trágica no carnaval de 1984 quando um ônibus atropelou músicos e foliões do bloco ‘Puxa-Saco’ na descida da avenida Rio Branco. E depois de tudo isso, ainda deixou o melhor para o final.
Com a autoridade de mais de 35 anos no ramo, embora o bar no início tenha funcionado como depósito de pão, dona Vera revelou que já recebeu várias propostas de empresários para vender o estabelecimento e negou todas. Contou que ainda fará mais uma reforma nos banheiros e decidiu que vai deixar o ponto, como herança, para os filhos.
Um patrimônio de verdade, digno da instituição chamada botequim.
Vida longa à cantina do Ednaldo!
Até!
O CALDO DE OVA E AS HISTÓRIAS DA DONA VERA
Uma amiga já havia cantado a pedra sobre a jóia que era o caldo de ova da cantina do Ednaldo, em Petrópolis. O desejo, guardado por vários dias, era grande. Particularmente para mim seriam duas descobertas: a do boteco e a do próprio tira-gosto. Enfim, saiu. Segunda-feira, final de mais um expediente pesado no jornal, lá fomos atrás do famoso caldinho.
Coisa de 22h. À noite, Petrópolis é um bairro tímido e silencioso. Segunda-feira, então, nem se fala. De esquina, o portão de ferro que dava para a avenida Afonso Pena já estava arriado. Na lateral, duas senhoras com mais de 60 anos ainda empilhavam mesas e cadeiras na tentativa de passar a régua em mais um dia de trabalho.
- Ainda sai um caldinho?
Sai, minha filha. Do que você quer?
- De ova...
Pedido atendido com aquela boa vontade que só quem comanda um botequim de verdade há 35 anos, como a dona Vera Lúcia, tem.
E assim que a primeira Antarctica desceu gelada na garganta, os problemas foram se esvaindo aos poucos em cada gole bem tomado e temperado pelo limãozinho despejado no caldinho de ouro da casa.
Dentro do botequim, a prateleira de madeira velha com poucas garrafas mais vazias que cheias, um tradicional balcão pequeno rachado e as fotografias nas paredes de clientes antigos lembravam que, além de boteco, a cantina do Ednaldo é um ambiente de família.
Mas ainda faltavam as histórias. E em questão de minutos, um cardápio de causos foi servido à mesa pela proprietária do estabelecimento que puxou a cadeira amarela e se empolgou a contar a vida. Dona Vera Lúcia falou dos fregueses mais chatos, de um seresteiro que baixa sempre por ali, da polêmica Nélia, que enche a cara toda vez que vai ao botequim e sai provocando tudo quanto é cliente, lembrou do marido, que se formou advogado com mais de 40 anos e morreu de forma trágica no carnaval de 1984 quando um ônibus atropelou músicos e foliões do bloco ‘Puxa-Saco’ na descida da avenida Rio Branco. E depois de tudo isso, ainda deixou o melhor para o final.
Com a autoridade de mais de 35 anos no ramo, embora o bar no início tenha funcionado como depósito de pão, dona Vera revelou que já recebeu várias propostas de empresários para vender o estabelecimento e negou todas. Contou que ainda fará mais uma reforma nos banheiros e decidiu que vai deixar o ponto, como herança, para os filhos.
Um patrimônio de verdade, digno da instituição chamada botequim.
Vida longa à cantina do Ednaldo!
Até!
O valô da história independente na TV
A estreia esta semana do programa ‘DôMóValô’, exibido sempre às segundas-feiras, no intervalo do RN TV 1ª Edição, na InterTV Cabugi, foi encarada como um avanço na área audiovisual potiguar. Durante 1 minuto, em formato de documentário, o projeto divulga personagens da cultura local. Com a verba captada, o ‘DôMóValô’ está garantido pelo menos até novembro.
A ideia nasceu da parceria entre a produtora Pixel a Gogo e a empresa House Cultura & Cidadania e começou pela literatura de cordel. Já estão no gatilho programinhas com João Redondo, ‘Ginga com Tapioca’, ‘Coco de Zambê’, ‘Boi de Reis’, ‘Bordado do Seridó’, ‘Araruna’, ‘Newton Navarro’, ‘Rabequeiros’ e os ‘Congos de Calçola’.
Essa, na verdade, é a segunda experiência independente produzida para televisão no Estado. A primeira aconteceu nos anos 90, quando Augusto Lula, Daniele Brito, Ciro Pedroza e Marise Castro produziram quatro vídeos com poemas narrados pela jornalista Margot Ferreira.
Os programas tinham 30 segundos e foram exibidos quatro vezes ao dia durante uma semana em vários canais da TV Aberta. Como foi ao ar entre o Dia da Poesia e o Dia Internacional da Mulher, os produtores homenagearam as poetisas Auta de Sousa, Myriam Coeli, Zila Mamede e Palmira Wanderley.
Diretor dos vídeos, Lula Augusto lembra que o programa em que Margot narrou Auta de Sousa o cenário escolhido foi o cemitério do Alecrim. “Auta tinha aquela coisa sombria, dos medos, sofrimentos e escolhi o cemitério. Foi muito doido. O ‘DôMóValô’ é uma experiência muito bacana, mas a primeira produção independente foi aquela que fizemos”, disse.
O projeto foi aprovado através do Pró Financiamento de Cultura (Profinc), uma espécie de embrião da atual lei municipal Djalma Maranhão de incentivo à cultura. O autor do Profinc foi o então vereador e hoje deputado estadual Fernando Mineiro (PT).
Além do projeto dos poemas, que não tinha nome, o financiamento também viabilizou outras idéias, como o lançamento do livro ‘As Quatro Margens do Rio’, do fotógrafo Giovanni Sérgio. “Foi uma das primeiras leis de incentivo à cultura de capitais do Brasil, criamos depois de uma discussão com os artistas. Aí depois vieram a lei Djalma Maranhão e a lei Câmara Cascudo, em seguida, com a Fátima na Assembleia Legislativa”, conta o parlamentar.
A ideia nasceu da parceria entre a produtora Pixel a Gogo e a empresa House Cultura & Cidadania e começou pela literatura de cordel. Já estão no gatilho programinhas com João Redondo, ‘Ginga com Tapioca’, ‘Coco de Zambê’, ‘Boi de Reis’, ‘Bordado do Seridó’, ‘Araruna’, ‘Newton Navarro’, ‘Rabequeiros’ e os ‘Congos de Calçola’.
Essa, na verdade, é a segunda experiência independente produzida para televisão no Estado. A primeira aconteceu nos anos 90, quando Augusto Lula, Daniele Brito, Ciro Pedroza e Marise Castro produziram quatro vídeos com poemas narrados pela jornalista Margot Ferreira.
Os programas tinham 30 segundos e foram exibidos quatro vezes ao dia durante uma semana em vários canais da TV Aberta. Como foi ao ar entre o Dia da Poesia e o Dia Internacional da Mulher, os produtores homenagearam as poetisas Auta de Sousa, Myriam Coeli, Zila Mamede e Palmira Wanderley.
Diretor dos vídeos, Lula Augusto lembra que o programa em que Margot narrou Auta de Sousa o cenário escolhido foi o cemitério do Alecrim. “Auta tinha aquela coisa sombria, dos medos, sofrimentos e escolhi o cemitério. Foi muito doido. O ‘DôMóValô’ é uma experiência muito bacana, mas a primeira produção independente foi aquela que fizemos”, disse.
O projeto foi aprovado através do Pró Financiamento de Cultura (Profinc), uma espécie de embrião da atual lei municipal Djalma Maranhão de incentivo à cultura. O autor do Profinc foi o então vereador e hoje deputado estadual Fernando Mineiro (PT).
Além do projeto dos poemas, que não tinha nome, o financiamento também viabilizou outras idéias, como o lançamento do livro ‘As Quatro Margens do Rio’, do fotógrafo Giovanni Sérgio. “Foi uma das primeiras leis de incentivo à cultura de capitais do Brasil, criamos depois de uma discussão com os artistas. Aí depois vieram a lei Djalma Maranhão e a lei Câmara Cascudo, em seguida, com a Fátima na Assembleia Legislativa”, conta o parlamentar.
Pra quem leva o samba no peito
O casal Lívia Aires e Marcos Souto, do Arquivo Vivo, representa em Natal uma empresa especializada na confecção de camisas com estampas ligadas ao mundo do samba. Isso significa que além de levar os bambas no coração, você também pode estampá-los no peito. Cartola, Candeia, Adoniran Barbosa entre outras estampas já estão disponíveis. Até a imagem de São Jorge entra na parada. A dupla já pediu uma remessa e em 10 dias as camisas estão na área. Cada uma sai por 45 pilas. Os tamanhos também são variados. Para mais informações entre em contato:
Lívia Aires - 9104-4141
Marcos Souto - 9133-8582 / 8723-8582
Lívia Aires - 9104-4141
Marcos Souto - 9133-8582 / 8723-8582
Teresina de Khrystal
Só falta Teresina. Mas quando dezembro chegar essa falta ela não leva mais. No final de novembro, Khrystal leva o show ‘Coisa de Preto’ à única capital nordestina que ainda não viu in loco seu talento. A apresentação será na casa Rock Cordel, dentro da programação do BNB Cultural. Com a pegada rock de sempre, Khrystal vai de coco, mala e cuia ao Piauí. Leva a banda e o carinho dos fãs da terra de Chico Antônio, o embolador de Pedro Velho que, entre outros tantos nomes da música popular brasileira, Krhystal homenageia no disco homônimo ao show.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Um pecado capital a menos
De saudade, por enquanto, os frequentadores do bar de Nazaré não morrerão. A boa notícia é que a reforma do buteco foi adiada por tempo indeterminado. Segundo Paulinho, o herdeiro de Nazaré, o sujeito que ficou responsável pelas obras cobrou um tanto a mais do que havia sido combinado e o negócio foi desfeito.
Daqui do Meio da Rua fico imaginando a cara da proprietária do estabelecimento quando o cabra responsável pela reforma disse o novo preço. As obras incluiriam a construção de um banheiro feminino ao lado do masculino, pintura geral das paredes e aqueles consertos na estrutura do botequim que tanto atormentavam os donos.
A reforma, segundo me garantiu a mãe do Paulinho há uns dias, nada tinha a ver com pressões externas relacionadas ao recente fechamento do bar da Meladinha pela Semurb. Era simplesmente pela necessidade de ajeitar o que estava errado e dar mais conforto à assistência. Agora, terá que ser adiada por falta de grana.
Segundo Paulinho me disse por telefone, é possível que Nazaré faça aos poucos, por etapas. Melhor que seja sem a dor de ver o portão de ferro cerrado. Assim, continua como dantes. A maçonaria segue limitando o fechamento do buteco às 20h e o samba continua comendo solto às quintas-feiras. E ninguém morre de saudade.
Daqui do Meio da Rua fico imaginando a cara da proprietária do estabelecimento quando o cabra responsável pela reforma disse o novo preço. As obras incluiriam a construção de um banheiro feminino ao lado do masculino, pintura geral das paredes e aqueles consertos na estrutura do botequim que tanto atormentavam os donos.
A reforma, segundo me garantiu a mãe do Paulinho há uns dias, nada tinha a ver com pressões externas relacionadas ao recente fechamento do bar da Meladinha pela Semurb. Era simplesmente pela necessidade de ajeitar o que estava errado e dar mais conforto à assistência. Agora, terá que ser adiada por falta de grana.
Segundo Paulinho me disse por telefone, é possível que Nazaré faça aos poucos, por etapas. Melhor que seja sem a dor de ver o portão de ferro cerrado. Assim, continua como dantes. A maçonaria segue limitando o fechamento do buteco às 20h e o samba continua comendo solto às quintas-feiras. E ninguém morre de saudade.
Arena das Dunas já está R$ 150 milhões mais cara
Agora há pouco, em meio às obras de terraplanagem da Arena das Dunas, o secretário estadual da Copa, Demétrio Torres, informou que o custo do 'negócio Arena das Dunas' para o Rio Grande do Norte já está em R$ 550 milhões. Ainda assim, na conta do titular da Secopa, o valor do estádio continua estacionado nos R$ 400 milhões. A diferença é que, para ele, 'negócio' e 'valor da obra' não são a mesma coisa.
Sexta-feira passada, o BNDES autorizou o financiamento de R$ 396,6 milhões para a construção da Arena. Logo, como o órgão federal só financia até 75% do valor pedido, o custo final do estádio é maior que os R$ 400 milhões. Até porque o que se sabia, até o momento, é que o BNDES financiaria a 'obra' e não o 'negócio'.
Para justificar o aumento de R$ 150 milhões no valor da Arena das Dunas, Demétrio Torres voltou à recorrer à velha comparação da compra de um carro financiado. Ele afirma que quando se compra um veículo a prestação, no final o preço pago pelo consumidor é maior.
Mais uma vez, o secretário fala o óbvio. Torres acabaria de vez com as perguntas incômodas que ouve em toda entrevista coletiva se assumisse o valor da Arena das Dunas como ele realmente é, ou seja, que ao final dos 20 anos de concessão, o estádio vai custar, aos cofres públicos, cerca de R$ 1,3 bilhão. E não se fala mais nisso. Ou fala?
Sexta-feira passada, o BNDES autorizou o financiamento de R$ 396,6 milhões para a construção da Arena. Logo, como o órgão federal só financia até 75% do valor pedido, o custo final do estádio é maior que os R$ 400 milhões. Até porque o que se sabia, até o momento, é que o BNDES financiaria a 'obra' e não o 'negócio'.
Para justificar o aumento de R$ 150 milhões no valor da Arena das Dunas, Demétrio Torres voltou à recorrer à velha comparação da compra de um carro financiado. Ele afirma que quando se compra um veículo a prestação, no final o preço pago pelo consumidor é maior.
Mais uma vez, o secretário fala o óbvio. Torres acabaria de vez com as perguntas incômodas que ouve em toda entrevista coletiva se assumisse o valor da Arena das Dunas como ele realmente é, ou seja, que ao final dos 20 anos de concessão, o estádio vai custar, aos cofres públicos, cerca de R$ 1,3 bilhão. E não se fala mais nisso. Ou fala?
Driblei um defunto e caí num buraco
Conhecido pela atuação humanitária em favor dos pobres e, principalmente, dos perseguidos políticos na época da ditadura militar, o arcebispo de Olinda Dom Helder Câmara morreu em 1999. Quando iniciei no jornalismo, dia 5 de agosto de 2004, conhecia pouco da biografia do santo padre pernambucano, mas o suficiente para saber que ele não estava mais entre nós. O problema é que, numa redação de jornal, não existe verdade absoluta. Ainda mais quando se está começando. E principalmente quando é o seu primeiro dia como estagiário num jornal da dita grande imprensa potiguar, no caso o Diário de Natal. Logo, qual não foi minha surpresa quando o chefe de reportagem do DN na época, Marcos Ramos, iniciou o seguinte diálogo:
- Você é católico?
Sou, mas não pratico.
- Ah, pelo menos você não é crente. Acho que você é o repórter ideal.
Para quê?, respondi já imaginando que faria a matéria do ano no primeiro dia de trabalho.
- Amanhã você vai entrevistar Dom Helder Câmara.
Aquilo, para mim, caiu como uma bomba. Mas fui em frente sem entender.
- Como?, questionei num misto de incerteza e espanto.
Dom Helder Câmara, o arcebispo, não conhece?
- Conheço.
Então depois procure a biografia dele na internet para você saber quem é. Temos que checar a hora que ele chega.
A essa altura eu já duvidava de tudo o que eu tinha aprendido na faculdade de jornalismo e, principalmente, já dava o velho quase como ressuscitado.
Respirei fundo e imaginei, óbvio, que se tratava de alguma pegadinha do chefe com o estagiário, daquelas que a gente conhece só das histórias contadas por jornalistas mais velhos. Estava na cara: o chefe de reportagem queria me sacanear. Enquanto eu estivesse lendo a biografia resumida de Dom Helder Câmara na internet ele estaria se mijando de tanto rir do trote em cima do otário aqui.
(Aqui, uma pausa. Quando entrei no jornal, a redação do Diário era escura, os móveis antigos e os computadores, provavelmente, eram os primeiros da era pós-maquina de escrever).
Vamos em frente. Vendo Marcos Ramos de um lado para o outro da redação, resolvi abordá-lo novamente. Fingi que esqueci o nome do entrevistado e retomei diálogo:
- Marcos, qual é o nome do arcebispo que eu vou entrevistar, mesmo?
- Dom Helder Câmara, ele repetiu para o meu desespero.
Continuei suando frio:
- Você tem certeza que é Dom Helder Câmara?
A essa altura do campeonato eu já estava com medo de dizer que o velho tinha morrido e ouvir que eu não sabia de nada e, por isso, não serviria para trabalhar em redação. Até que, sabe-se lá como e por onde, entrou um pouco de luz na redação do velho DN e a polêmica acabou quando Marcos Ramos arrancou a pauta da minha mão.
- Peraí, Helder Câmara não! Você vai entrevistar o Dom Eugênio Sales, porra! É o arcebisto de Natal, que está vindo do Rio de Janeiro. Dom Helder Câmara já morreu, cara!
Ele disse tudo isso rindo como se eu não soubesse do acontecido. Me deu dois tapinhas nos ombros antes de dizer que meu expediente já havia terminado.
Respirei aliviado, tomei três Brahmas no bar do Lourival, e fui para casa vasculhar a vida de Dom Eugênio Sales na internet. Voltei no dia seguinte afiado e empolgado com a entrevista. Minha alegria acabou quando recebi a pauta. A entrevista havia sido repassada para a repórter Flávia Urbano, na época repórter de Cidades. Para mim, sobrou uma grande notícia: continuar, por telefone, a matéria da minha amiga Sheyla Azevedo que participou, no dia anterior, das comemorações pelo aniversário de 1 ano de um buraco aberto próximo a praça do Relógio, no Alecrim.
Para quem ia entrevistar um defunto, cair num buraco foi um grande começo.
- Você é católico?
Sou, mas não pratico.
- Ah, pelo menos você não é crente. Acho que você é o repórter ideal.
Para quê?, respondi já imaginando que faria a matéria do ano no primeiro dia de trabalho.
- Amanhã você vai entrevistar Dom Helder Câmara.
Aquilo, para mim, caiu como uma bomba. Mas fui em frente sem entender.
- Como?, questionei num misto de incerteza e espanto.
Dom Helder Câmara, o arcebispo, não conhece?
- Conheço.
Então depois procure a biografia dele na internet para você saber quem é. Temos que checar a hora que ele chega.
A essa altura eu já duvidava de tudo o que eu tinha aprendido na faculdade de jornalismo e, principalmente, já dava o velho quase como ressuscitado.
Respirei fundo e imaginei, óbvio, que se tratava de alguma pegadinha do chefe com o estagiário, daquelas que a gente conhece só das histórias contadas por jornalistas mais velhos. Estava na cara: o chefe de reportagem queria me sacanear. Enquanto eu estivesse lendo a biografia resumida de Dom Helder Câmara na internet ele estaria se mijando de tanto rir do trote em cima do otário aqui.
(Aqui, uma pausa. Quando entrei no jornal, a redação do Diário era escura, os móveis antigos e os computadores, provavelmente, eram os primeiros da era pós-maquina de escrever).
Vamos em frente. Vendo Marcos Ramos de um lado para o outro da redação, resolvi abordá-lo novamente. Fingi que esqueci o nome do entrevistado e retomei diálogo:
- Marcos, qual é o nome do arcebispo que eu vou entrevistar, mesmo?
- Dom Helder Câmara, ele repetiu para o meu desespero.
Continuei suando frio:
- Você tem certeza que é Dom Helder Câmara?
A essa altura do campeonato eu já estava com medo de dizer que o velho tinha morrido e ouvir que eu não sabia de nada e, por isso, não serviria para trabalhar em redação. Até que, sabe-se lá como e por onde, entrou um pouco de luz na redação do velho DN e a polêmica acabou quando Marcos Ramos arrancou a pauta da minha mão.
- Peraí, Helder Câmara não! Você vai entrevistar o Dom Eugênio Sales, porra! É o arcebisto de Natal, que está vindo do Rio de Janeiro. Dom Helder Câmara já morreu, cara!
Ele disse tudo isso rindo como se eu não soubesse do acontecido. Me deu dois tapinhas nos ombros antes de dizer que meu expediente já havia terminado.
Respirei aliviado, tomei três Brahmas no bar do Lourival, e fui para casa vasculhar a vida de Dom Eugênio Sales na internet. Voltei no dia seguinte afiado e empolgado com a entrevista. Minha alegria acabou quando recebi a pauta. A entrevista havia sido repassada para a repórter Flávia Urbano, na época repórter de Cidades. Para mim, sobrou uma grande notícia: continuar, por telefone, a matéria da minha amiga Sheyla Azevedo que participou, no dia anterior, das comemorações pelo aniversário de 1 ano de um buraco aberto próximo a praça do Relógio, no Alecrim.
Para quem ia entrevistar um defunto, cair num buraco foi um grande começo.
Atrás das Grades
Naquela segunda-feira, a alvorada na rua dr. José Ivo chegou acompanhada da voz estridente de Laurinda. Todos os dias, à exceção dos domingos, a primeira coisa que a cozinheira do bar do Neca fazia ao chegar no estabelecimento, depois de erguer sozinha o portão de ferro da casa, era contar os cascos de cerveja vazios. O grosso do trabalho podia ser feito no sábado, mas costumava ir até a alta madrugada varando o dia seguinte pela manhã com a clientela. No final das contas, não tinha pernas nem saco para contar garrafa por garrafa em meio aos três ou quatro bêbados de sempre que encerravam o expediente sob o sol e ao som, em capela, de Último Desejo, o antológico samba em que Noel se despede de Ceci, a dama do cabaré.
Aquele início de semana era, portanto, promessa de que o furdunço seria grande no quadrilátero da maledicência do Beco da Lama. Os gritos, cuja histeria faziam os passantes imaginarem um corpo estendido no chão do boteco, logo atraíram moradores dos quitinetes das ruas adjacentes. Os donos dos demais botequins da área iam chegando aos poucos como se estivessem ali para encomendar o defunto. Todos num silêncio constrangedor sem entender o ocorrido, até Nazaré quebrar o gelo:
- Diga logo, mulher, o que aconteceu, pelamordedeus?
A resposta veio como flecha de cupido vesgo, aquela que mira o coração e acerta o queixo:
- As grades de cerveja, dona Nazaré, sumiram!
Foi Laurinda revelar o crime para todos os donos de bares da região saírem em disparada. Antes de estender a mão em solidariedade à cozinheira, correram para checar se as grades dos botecos que administravam haviam sido roubadas também.
Feito rastilho de pólvora, a notícia de que não havia mais uma única ampola de 600 ml no Beco da Lama chegou às ruas e vielas da Cidade Alta. O problema era sério e aparentemente sem solução. Segunda-feira é dia de prestar conta para o distribuidor e o sumiço das grades representaria um prejuízo grande aos comerciantes. Para piorar, a delegacia do bairro que já deveria estar em campo investigando o crime, fecha nos finais de semana porque, segundo Figueredo, o delegado que dia sim outro também baixa no bar de Pedro Catombo, policial também é gente, tem família, e precisa tomar uma para espairecer do mal da violência.
O fato é que não demorou para os primeiros nomes de suspeitos começarem a aparecer na boca dos comerciantes, garçons, fregueses e até de quem não tinha nada a ver com o metier. Qualquer rusga pessoal era motivo para acusar alguém. Em 15 minutos de disse-me-disse a lista de acusados, que àquela altura já tinham sido julgados e condenados em via pública sem direito à defesa, ia com 187 nomes. Até seo Arnaldo, que descansava havia quatro meses num túmulo do Morada da Paz, entrou no rol de criminosos. Na triagem final, porém, saíram da lista o nome dele e do dr. Tavares - cuja morte matou metade dos donos dos botecos de raiva e aliviou a outra metade que conseguiu acertar o pendura dias antes do safado ir a oló.
Num lampejo de lucidez, vendo que a confusão não seria resolvida, Cirrose, garçom dos bons que vez por outra é flagrado bêbado atendendo os clientes do bar de Zé Reiêra, lembrou que a única pessoa que poderia resolver o mistério do sumiço das grades era Mundinho Barata. O repórter andava sumido, mas, coincidentemente, vinha chegando ainda cambaleante da noite mal-dormida acompanhado do amigo e fotógrafo Bafo de Cana, que mais do que nunca fazia jus ao apelido.
- Que gritaria é essa, dona Laurinda?
A cozinheira do bar do Neca, que já não ia lá muito com a cara do repórter do Beco da Lama, teve que dar o braço a torcer e pedir ajuda ao jornalista. A condição de Barata, no entanto, era conhecida por todos os donos de bares da Cidade Alta: se o crime fosse desvendado, a caderneta do fiado tinha que ser zerada, o que só no caso do Neca significava uma gorda quantia equivalente a três salários mínimos. E como o suposto roubo atingiu todos os estabelecimentos do Beco, pegar o culpado era também o fim da incalculável dívida do repórter.
Com o 'sim' dos comerciantes, apesar da cara feia geral, Mundinho Barata tirou o bloquinho e a caneta do bolso para iniciar a apuração dos fatos e chegar ao meliante. Começou, como de praxe, por Laurinda, que tremia feito bêbado antes da primeira dose só de pensar no que o dono do bar faria com ela ao saber do sumiço das grades. Deu-se o interrogatório:
- A que horas a senhora chegou ao botequim, dona Laurinda?
- 6h26 da manhã...
- Veio de onde?
- Que diferença faz, Barata?
- Toda. Dependendo de onde a senhora tenha vindo pode ter descido em paradas diferentes e encontrado pessoas diferentes pelo caminho.
- Desci na parada da Ulisses Caldas, se é o que você quer saber...
Barata achou estranho a impaciência de Laurinda em responder de onde saiu para vir ao trabalho, principalmente pela fama ilibada da cozinheira que, como todos sabiam, saía de casa apenas para trabalhar no bar e orar na igreja. Decidiu insistir por outras vias:
- Quando a senhora desceu do 24 quem encontrou pelo caminho até o bar?
Laurinda caiu na cilada:
Quem disse a você que desci do 24? Peguei o 45...
- Mas o 45 não passa no bairro onde a senhora mora...
Laurinda hesitou, mas respondeu de forma seca:
Porque eu não vim de casa.
E veio da onde?
- E te interessa, Barata!? Tá querendo se meter na minha vida?
A senhora não está querendo colaborar. Estou atrás das grades...
A cozinheira não aguentou e, para espanto de Barata, Bafo de Cana e de quem acompanhava o depoimento, revelou a bomba:
Olha aqui rapaz, botar chifre no meu marido pode ser imoral e sacanagem, mas crime não é desde 2007!
Constrangido, após meio minuto de silêncio, o repórter pediu desculpas e uma cerveja em lata para ele e outra para Bafo de Cana se recuperarem do baque. Laurinda foi buscar revoltada e sem esconder o desconforto com a folga do jornalista que, na maior cara de pau, ainda mandou colocar o prejuízo na conta.
Mundinho Barata bebeu a cerveja reclamando da temperatura e decidiu dar por encerrada a entrevista naquele momento, no que prometeu voltar mais tarde. O faro do repórter entrou em cena. Sentiu o cheiro de furo. Ele sabia que a primeira pista do caso acabara de aparecer. Mas com a resistência de Laurinda, o jeito foi conseguir as informações que precisava com outra fonte. Falou com todos os comerciantes, garçons e funcionários dos botequins furtados, mas não ouviu nada que mudasse os rumos da investigação que já estava traçada na cabeça dele. Vendo a impaciência do amigo, Bafo de Cana desentalou e quis saber o próximo passo.
Laurinda não disse que tem um amante? Então vamos encontrar o pé-de-lã, respondeu o repórter acendendo o oitavo cigarro do dia.
Para Barata, a confissão de adultério de Laurinda era estranha embora pouca coisa na vida ainda o surpreendesse. Essa história estava mal contada, pensou em silêncio. E apesar de não ser homem de botar a mão no fogo por mulher nenhuma, o repórter não acreditou que a cozinheira estivesse traindo o marido. E muito menos que, se fosse verdade, ela revelaria a galha em público a um jornalista.
As suspeitas de Barata tinham lá seu fundamento. Ataulfo, o marido de Laurinda, era um boêmio incorrigível e um cafajeste inveterado. Criado nas Rocas pelos avós maternos, foi durante muito tempo odiado pelos pais das meninas que caíam na lábia do conquistador, um dom, todos reconheciam, herdado do pai, antigo comerciante do beco da Quarentena, na Ribeira, que assumiu a casa quando o sogro morreu após um ataque cardíaco em condições suspeitíssimas.
Quando jovem, Ataulfo ostentava certa riqueza, fruto de pequenos furtos praticados em bairros de classe média da cidade. Admitia aos amigos mais chegados que nunca saiu do miserê porque não segurava dinheiro. Gastava e esnobava, não necessariamente nessa ordem. Agora, aos 43 anos de idade, e já sem o vigor dos tempos idos, passa os dias reclamando da vida, trapaceando no jogo de cartas e planejando o próximo golpe, que invariavelmente dá errado.
Ataulfo e Laurinda se conheceram no auge da malandragem. A cozinheira, filha de pai mecânico e mãe lavadeira, foi uma das meninas que sucumbiu ao cafajeste. Apaixonou-se perdidamente e jurou amor eterno desde que ganhou o primeiro beijo e, logo em seguida, uma corrente de ouro que pertencia, na verdade, a uma socialite assaltada quando levava a cadela ao cabelereiro num fim de tarde de uma semana qualquer. O amor de Laurinda pelo sujeito era incondicional. Tão intenso que alguns pequenos delitos tiveram a cumplicidade da companheira, o que lhe rendeu o apelido, junto à rapaziada das Rocas, de alma gêmea.
Naquela época, final dos anos 60, os beijos viraram namoro e terminaram em casamento quando o malandro foi enquadrado pelo pai da cozinheira depois que o falatório chegou na oficina onde trabalhava.
Laurinda sempre sonhou em mudar de vida, mas ao contrário do marido, não vivia se queixando de nada. Aquela paixão de início de namoro também seguia a pleno vapor, daí a desconfiança de Mundinho Barata, que colheu as informações sobre o casal com amigos em comum que cresceram nas Rocas e acompanharam toda a trajetória do malandro e a cozinheira.
Se Barata já andava desconfiado da história mal contada no botequim, depois de ouvir o histórico do casal o repórter ficou ainda mais cabrêro e certo de que estava mais perto de desvendar o mistério do sumiço das grades de cerveja do Beco. A cada informação que coletava, parecia mais próximo do ladrão. E as suspeitas quase viraram certeza quando Bafo de Cana chegou exalando cachaça, vindo do bar do Neca:
Barata, Laurinda pediu demissão!
O quê?
Ela está se despedindo do pessoal do bar agora, parece que o Neca acusou ela de roubar as grades. Os funcionários dos outros bares estão indo para lá tentar convencê-la a ficar. Mas o próprio Neca já não quer saber...
Quando Barata chegou, Laurinda já estava de saída. Se despediu, disse que não aceitaria a acusação de ter roubado o próprio local de trabalho depois de mais de 30 anos dedicados ao botequim e pegou a direção da parada de ônibus sob o olhar de tristeza dos fregueses que, na falta de cerveja, tomaram todas as garrafas de cachaça do bar em protesto à demissão, o que fez o dono do estabelecimento, um ex-militar do Exército que mantém na parede do bar uma galeria com as fotos dos ex-presidentes que governaram o Brasil na ditadura militar, dizer que se soubesse do lucro que teria com a saída da cozinheira já a teria demitido há mais tempo:
A partir de agora, cozinheira dura só uma semana comigo, disse antes de soltar uma gargalhada que mereceu uma cusparada de um bebum que chorava como se tivesse perdido o grande amor da vida.
O repórter esperou Laurinda se afastar para não perceber que estava sendo seguida e foi atrás dela. Pediu que Bafo de Cana o aguardasse para não chamar muito a atenção. O pedido foi atendido com grande felicidade e comemorado no bar de Nazaré com outra dose de aguardente. À distância, Barata viu quando Laurinda subiu no 45 e, com cuidado para não ser flagrado, tomou a mesma condução. Aproveitou o momento em que a cozinheira procurava o celular na bolsa para chegar ao final do ônibus. Tirou a boina e colocou o jornal na cara para despistar, tal qual fazem os detetives de filme americano. E esperou.
A viagem durou quase uma hora. No bairro de Nova Descoberta, Laurinda pediu parada. Barata esperou um velho descer com dificuldades e partiu atrás. Sem qualquer sinal de tristeza, a ex-cozinheira do Beco distribuía sorrisos a quem via na rua. Àquela altura, o jornalista já passava a acreditar na possibilidade da história do chifre ser verdadeira tamanha a desenvoltura com que a morena caminhava e era cumprimentada pelos marmanjos do bairro.
Mundinho Barata viu quando Laurinda passou por um portão azul vigiado por um homem com camisa branca, gravata borboleta e cara de garçom que a cumprimentou respeitosamente, como se ela fosse dona da casa. Ao lado, um botequim vagabundo parecia um oásis no deserto para o repórter, que estava a quase 24 horas sem beber uma única cerveja em garrafa. Pediu a primeira e puxou conversa com o dono do boteco:
Ô chefia, tudo bem?
Tirando esse calor, tudo na santa paz de Deus...
Pode crer, tô passando para matar a quentura tomando essa gela.
Põe calor nisso... ninguém aguenta mais andar nessa cidade. Está cada vez mais insuportável e a prefeitura não faz nada
Iniciada a conversa, Barata veio com a pergunta mortal:
Amigo, esse portão azul aí...
O que tem?
É casa de família?
Nada. Isso vai ser um bar, coisa fina. O que chegou de grade de cerveja ontem aí não é brincadeira! Parece que é de um empresário. Ninguém sabe direito porque é tudo desse portão para dentro. Mas tem até um cartaz, inaugura hoje... peraí que eu vou pegar para você.
Barata ficou mudo até o dono do boteco voltar. O cartaz encerrou o mistério do sumiço das grades de cerveja:
“Ataulfo convida – Inauguração do bar Último Desejo com roda de samba ao vivo e muita cerveja gelada”
Mundinho Barata quase caiu para trás. Como ele previra desde o início, a história da traição era fachada. O malandro e a cozinheira atacaram de novo. Juntos, forjaram o sumiço das grades para roubar as garrafas. O jeito era esperar a hora da inauguração, dar o flagrante e anunciar, no Beco da Lama, que a conta dele em todos os botequins da região estava zerada.
O repórter pediu a segunda, a terceira e a quarta cerveja ao dono do bar, de quem já se tornara amigo íntimo ao ponto do homem narrar a Barata as aventuras e desventuras dele pelos cabarés da Ribeira. Próximo da hora marcada no cartaz, os clientes, todos convidados e com a senha na mão, foram chegando e passando pelo portão azul. Levemente embriagado, Barata sentiu que era hora de encerrar o espetáculo. Já planejara até pular o muro caso fosse barrado pelo segurança na entrada.
Sem um tostão no bolso, o jornalista ainda conseguiu um fato inédito na história dos bares de Nova Descoberta: pendurar uma conta no primeiro dia.
É pela amizade!, disse o proprietário do estabelecimento após um longo abraço no repórter.
Sem dar bandeira, Mundinho Barata foi chegando, entrou na fila e aguardou para falar com o segurança. Na sua vez, disse que tinha esquecido o convite.
O nome do senhor, por favor...
Bêbado, Barata esqueceu de disfarçar e deu o nome verdadeiro. A passagem, para espanto dele na hora, foi autorizada.
Seo Mundinho Barata, seja bem-vindo, fique à vontade. Há um lugar reservado para o senhor próximo à mesa dos músicos. Divirta-se.
O jornalista não entendeu nada. E continuou sem entender quando foi recepcionado por um negão todo de branco, barba feita, cordão de ouro pendurado no pescoço o chamando pelo nome: era Ataulfo.
Graaaaaande Barata! Meu camarada, seja bem-vindo em nossa casa. Sabia que viria. A casa é sua, se quiser fazer matéria para o jornal também fique à vontade, os meninos do samba são ótimos. Já mandei avisar a Laurinda que você chegou, ela comemorou muito! Barata, você está na lista de clientes especiais do nosso Último Desejo, peça o que quiser. É por conta da casa, parceiro.
Mundinho Barata se sentiu no céu e no inferno sem mudar de andar. Por um lado foi bem recebido, tinha cerveja e tira-gosto à disposição e na quantidade que quisesse, por outro precisava desmascarar o casal, encerrar o mistério e avisar aos donos de bares do Beco.
Fez o que a consciência lhe mandou: abriu uma cerveja e foi procurar Laurinda. Depois de rodar e sambar por 40 minutos no salão, a encontrou no local mais óbvio da casa: a cozinha. Parecia que já o esperava. Os dois se cumprimentaram constrangidos e a cozinheira levou o jornalista para um quarto, onde os dois poderiam conversar mais reservadamente. Ela deixou um garçom especialmente para levar cerveja a Barata enquanto o papo rolava. Depois de alguns segundos de silêncio, o repórter foi direto ao assunto:
Porquê, Laurinda?
O choro da cozinheira, que o deixou sem jeito, não foi de culpa, mas de saudade.
É o último desejo de Ataulfo...
Eu sei, é o nome do bar.
Não, é uma homenagem a ele. Ataulfo tem três meses de vida. Segundos os médicos, ele está com quatro tipos de câncer. Não vive mais tempo que isso.
Apesar de não conhecer o malandro, a notícia pegou Barata desprevenido e embriagado. Consolou Laurinda, tentou entender o caso, mas insistiu na pergunta:
Mas o que as grades de cerveja do Beco da Lama têm a ver com essa história?
Ataulfo não tem crédito na praça, tentamos falar com a distribuidora, mas o responsável o conhece e se negou a fornecer cerveja para o bar. Ele fez muita besteira na vida, errou demais, mas é uma boa pessoa. Quando Ataulfo recebeu o resultado dos exames, me contou que o sonho da vida dele era ter um bar. Aí tive a ideia de montar esse. Sou responsável pela cozinha, os funcionários são parentes nossos que trabalhavam como garçons em outros bares e aceitaram trabalhar de graça à noite aqui, e ele fica recebendo as pessoas.
E o dinheiro para tocar isso tudo? Vocês devem ter comprado cerveja em outro bar, pelo menos. E muita, por sinal, porque vocês roubaram todas as grades do Beco da Lama!?
Na verdade juntei tudo o que eu tinha guardado nos 30 anos de trabalho com seo Neca. Nunca gastava o salário todo, sempre tirava uma parte para se caso precisasse a gente ter. Aí também fiz um empréstimo no banco, Ataulfo ganhou alguma coisa no jogo e conseguimos fazer pelo menos a inauguração. Ninguém sabe até onde vai o bar.
O garçom à disposição de Barata não parava de trazer cerveja. Àquela altura, o repórter já trocava a língua como mulher muda de roupa quando vai a um casamento.
- Mas me explica uma coisa: como é que vocês conseguiram roubar as grades dos bares sem que ninguém visse nada?
- No bar do Neca sempre fica uns papudinhos por último que nunca se lembram de nada no dia seguinte. Até ajudaram a colocar as grades no caminhão do pai de Ataulfo, mas sabia que não lembrariam nada...
Meu Deus, que história troncha da porra!?
Laurinda suplicou:
E você, vai fazer o quê? Vai contar para todo mundo? Vai acabar com essa última alegria de Ataulfo?
Olha, Laurinda, eu preciso beber uma cerveja para pensar agora. Essa história me deixou um pouco zonzo. Vou tomar a saideira antes de ir embora.
Mundinho Barata ainda tomou oito saideiras, tentou dançar sem sucesso com três negas diferentes e foi para casa completamente embriagado. Acordou com Bafo de Cana esmurrando a porta da quitinete onde mora.
Barata, acorda Barata! Prenderam o safado que roubou as grades de cerveja do Beco!
Num pulo, apesar de ainda sob efeito do álcool, o repórter abriu a porta para o amigo e foi logo querendo saber a história.
Ômi, Laurinda foi embora e ficou aquela ruma de gente bebendo e chorando em Neca. A cachaça subiu a cabeça e lá pelas tantas dois papudinhos, o Ernesto e o Papagaio, começaram a se acusar de ter roubado as grades. Papagaio disse que o Ernesto colocou as grades num caminhão e o Ernesto devolveu dizendo que só colocou a metade porque a outra metade quem colocou foi Papagaio. Nisso o delegado Figueredo, que estava bebendo em Pedro Catombo, foi avisado da conversa. Apareceu em Neca com dois soldados, pegou a discussão ainda rolando, levou os safados para a delegacia e lá os papudinhos confessaram...
E disseram para onde levaram as grades?
Barata, tu sabe que Figueredo tem fama de torturador, né? Mas pelo que ouvi falar parece que ainda não contaram nada não. O delegado está esperando baixar a bebedeira. Até porque ele já perguntou sobre as grades mais de 20 vezes e a única coisa que os bebuns fazem é pedir mais cachaça e cantar:
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Não dá mais, seo Figueredo
Mas meu último desejo
Você não pode negar...
Aquele início de semana era, portanto, promessa de que o furdunço seria grande no quadrilátero da maledicência do Beco da Lama. Os gritos, cuja histeria faziam os passantes imaginarem um corpo estendido no chão do boteco, logo atraíram moradores dos quitinetes das ruas adjacentes. Os donos dos demais botequins da área iam chegando aos poucos como se estivessem ali para encomendar o defunto. Todos num silêncio constrangedor sem entender o ocorrido, até Nazaré quebrar o gelo:
- Diga logo, mulher, o que aconteceu, pelamordedeus?
A resposta veio como flecha de cupido vesgo, aquela que mira o coração e acerta o queixo:
- As grades de cerveja, dona Nazaré, sumiram!
Foi Laurinda revelar o crime para todos os donos de bares da região saírem em disparada. Antes de estender a mão em solidariedade à cozinheira, correram para checar se as grades dos botecos que administravam haviam sido roubadas também.
Feito rastilho de pólvora, a notícia de que não havia mais uma única ampola de 600 ml no Beco da Lama chegou às ruas e vielas da Cidade Alta. O problema era sério e aparentemente sem solução. Segunda-feira é dia de prestar conta para o distribuidor e o sumiço das grades representaria um prejuízo grande aos comerciantes. Para piorar, a delegacia do bairro que já deveria estar em campo investigando o crime, fecha nos finais de semana porque, segundo Figueredo, o delegado que dia sim outro também baixa no bar de Pedro Catombo, policial também é gente, tem família, e precisa tomar uma para espairecer do mal da violência.
O fato é que não demorou para os primeiros nomes de suspeitos começarem a aparecer na boca dos comerciantes, garçons, fregueses e até de quem não tinha nada a ver com o metier. Qualquer rusga pessoal era motivo para acusar alguém. Em 15 minutos de disse-me-disse a lista de acusados, que àquela altura já tinham sido julgados e condenados em via pública sem direito à defesa, ia com 187 nomes. Até seo Arnaldo, que descansava havia quatro meses num túmulo do Morada da Paz, entrou no rol de criminosos. Na triagem final, porém, saíram da lista o nome dele e do dr. Tavares - cuja morte matou metade dos donos dos botecos de raiva e aliviou a outra metade que conseguiu acertar o pendura dias antes do safado ir a oló.
Num lampejo de lucidez, vendo que a confusão não seria resolvida, Cirrose, garçom dos bons que vez por outra é flagrado bêbado atendendo os clientes do bar de Zé Reiêra, lembrou que a única pessoa que poderia resolver o mistério do sumiço das grades era Mundinho Barata. O repórter andava sumido, mas, coincidentemente, vinha chegando ainda cambaleante da noite mal-dormida acompanhado do amigo e fotógrafo Bafo de Cana, que mais do que nunca fazia jus ao apelido.
- Que gritaria é essa, dona Laurinda?
A cozinheira do bar do Neca, que já não ia lá muito com a cara do repórter do Beco da Lama, teve que dar o braço a torcer e pedir ajuda ao jornalista. A condição de Barata, no entanto, era conhecida por todos os donos de bares da Cidade Alta: se o crime fosse desvendado, a caderneta do fiado tinha que ser zerada, o que só no caso do Neca significava uma gorda quantia equivalente a três salários mínimos. E como o suposto roubo atingiu todos os estabelecimentos do Beco, pegar o culpado era também o fim da incalculável dívida do repórter.
Com o 'sim' dos comerciantes, apesar da cara feia geral, Mundinho Barata tirou o bloquinho e a caneta do bolso para iniciar a apuração dos fatos e chegar ao meliante. Começou, como de praxe, por Laurinda, que tremia feito bêbado antes da primeira dose só de pensar no que o dono do bar faria com ela ao saber do sumiço das grades. Deu-se o interrogatório:
- A que horas a senhora chegou ao botequim, dona Laurinda?
- 6h26 da manhã...
- Veio de onde?
- Que diferença faz, Barata?
- Toda. Dependendo de onde a senhora tenha vindo pode ter descido em paradas diferentes e encontrado pessoas diferentes pelo caminho.
- Desci na parada da Ulisses Caldas, se é o que você quer saber...
Barata achou estranho a impaciência de Laurinda em responder de onde saiu para vir ao trabalho, principalmente pela fama ilibada da cozinheira que, como todos sabiam, saía de casa apenas para trabalhar no bar e orar na igreja. Decidiu insistir por outras vias:
- Quando a senhora desceu do 24 quem encontrou pelo caminho até o bar?
Laurinda caiu na cilada:
Quem disse a você que desci do 24? Peguei o 45...
- Mas o 45 não passa no bairro onde a senhora mora...
Laurinda hesitou, mas respondeu de forma seca:
Porque eu não vim de casa.
E veio da onde?
- E te interessa, Barata!? Tá querendo se meter na minha vida?
A senhora não está querendo colaborar. Estou atrás das grades...
A cozinheira não aguentou e, para espanto de Barata, Bafo de Cana e de quem acompanhava o depoimento, revelou a bomba:
Olha aqui rapaz, botar chifre no meu marido pode ser imoral e sacanagem, mas crime não é desde 2007!
Constrangido, após meio minuto de silêncio, o repórter pediu desculpas e uma cerveja em lata para ele e outra para Bafo de Cana se recuperarem do baque. Laurinda foi buscar revoltada e sem esconder o desconforto com a folga do jornalista que, na maior cara de pau, ainda mandou colocar o prejuízo na conta.
Mundinho Barata bebeu a cerveja reclamando da temperatura e decidiu dar por encerrada a entrevista naquele momento, no que prometeu voltar mais tarde. O faro do repórter entrou em cena. Sentiu o cheiro de furo. Ele sabia que a primeira pista do caso acabara de aparecer. Mas com a resistência de Laurinda, o jeito foi conseguir as informações que precisava com outra fonte. Falou com todos os comerciantes, garçons e funcionários dos botequins furtados, mas não ouviu nada que mudasse os rumos da investigação que já estava traçada na cabeça dele. Vendo a impaciência do amigo, Bafo de Cana desentalou e quis saber o próximo passo.
Laurinda não disse que tem um amante? Então vamos encontrar o pé-de-lã, respondeu o repórter acendendo o oitavo cigarro do dia.
Para Barata, a confissão de adultério de Laurinda era estranha embora pouca coisa na vida ainda o surpreendesse. Essa história estava mal contada, pensou em silêncio. E apesar de não ser homem de botar a mão no fogo por mulher nenhuma, o repórter não acreditou que a cozinheira estivesse traindo o marido. E muito menos que, se fosse verdade, ela revelaria a galha em público a um jornalista.
As suspeitas de Barata tinham lá seu fundamento. Ataulfo, o marido de Laurinda, era um boêmio incorrigível e um cafajeste inveterado. Criado nas Rocas pelos avós maternos, foi durante muito tempo odiado pelos pais das meninas que caíam na lábia do conquistador, um dom, todos reconheciam, herdado do pai, antigo comerciante do beco da Quarentena, na Ribeira, que assumiu a casa quando o sogro morreu após um ataque cardíaco em condições suspeitíssimas.
Quando jovem, Ataulfo ostentava certa riqueza, fruto de pequenos furtos praticados em bairros de classe média da cidade. Admitia aos amigos mais chegados que nunca saiu do miserê porque não segurava dinheiro. Gastava e esnobava, não necessariamente nessa ordem. Agora, aos 43 anos de idade, e já sem o vigor dos tempos idos, passa os dias reclamando da vida, trapaceando no jogo de cartas e planejando o próximo golpe, que invariavelmente dá errado.
Ataulfo e Laurinda se conheceram no auge da malandragem. A cozinheira, filha de pai mecânico e mãe lavadeira, foi uma das meninas que sucumbiu ao cafajeste. Apaixonou-se perdidamente e jurou amor eterno desde que ganhou o primeiro beijo e, logo em seguida, uma corrente de ouro que pertencia, na verdade, a uma socialite assaltada quando levava a cadela ao cabelereiro num fim de tarde de uma semana qualquer. O amor de Laurinda pelo sujeito era incondicional. Tão intenso que alguns pequenos delitos tiveram a cumplicidade da companheira, o que lhe rendeu o apelido, junto à rapaziada das Rocas, de alma gêmea.
Naquela época, final dos anos 60, os beijos viraram namoro e terminaram em casamento quando o malandro foi enquadrado pelo pai da cozinheira depois que o falatório chegou na oficina onde trabalhava.
Laurinda sempre sonhou em mudar de vida, mas ao contrário do marido, não vivia se queixando de nada. Aquela paixão de início de namoro também seguia a pleno vapor, daí a desconfiança de Mundinho Barata, que colheu as informações sobre o casal com amigos em comum que cresceram nas Rocas e acompanharam toda a trajetória do malandro e a cozinheira.
Se Barata já andava desconfiado da história mal contada no botequim, depois de ouvir o histórico do casal o repórter ficou ainda mais cabrêro e certo de que estava mais perto de desvendar o mistério do sumiço das grades de cerveja do Beco. A cada informação que coletava, parecia mais próximo do ladrão. E as suspeitas quase viraram certeza quando Bafo de Cana chegou exalando cachaça, vindo do bar do Neca:
Barata, Laurinda pediu demissão!
O quê?
Ela está se despedindo do pessoal do bar agora, parece que o Neca acusou ela de roubar as grades. Os funcionários dos outros bares estão indo para lá tentar convencê-la a ficar. Mas o próprio Neca já não quer saber...
Quando Barata chegou, Laurinda já estava de saída. Se despediu, disse que não aceitaria a acusação de ter roubado o próprio local de trabalho depois de mais de 30 anos dedicados ao botequim e pegou a direção da parada de ônibus sob o olhar de tristeza dos fregueses que, na falta de cerveja, tomaram todas as garrafas de cachaça do bar em protesto à demissão, o que fez o dono do estabelecimento, um ex-militar do Exército que mantém na parede do bar uma galeria com as fotos dos ex-presidentes que governaram o Brasil na ditadura militar, dizer que se soubesse do lucro que teria com a saída da cozinheira já a teria demitido há mais tempo:
A partir de agora, cozinheira dura só uma semana comigo, disse antes de soltar uma gargalhada que mereceu uma cusparada de um bebum que chorava como se tivesse perdido o grande amor da vida.
O repórter esperou Laurinda se afastar para não perceber que estava sendo seguida e foi atrás dela. Pediu que Bafo de Cana o aguardasse para não chamar muito a atenção. O pedido foi atendido com grande felicidade e comemorado no bar de Nazaré com outra dose de aguardente. À distância, Barata viu quando Laurinda subiu no 45 e, com cuidado para não ser flagrado, tomou a mesma condução. Aproveitou o momento em que a cozinheira procurava o celular na bolsa para chegar ao final do ônibus. Tirou a boina e colocou o jornal na cara para despistar, tal qual fazem os detetives de filme americano. E esperou.
A viagem durou quase uma hora. No bairro de Nova Descoberta, Laurinda pediu parada. Barata esperou um velho descer com dificuldades e partiu atrás. Sem qualquer sinal de tristeza, a ex-cozinheira do Beco distribuía sorrisos a quem via na rua. Àquela altura, o jornalista já passava a acreditar na possibilidade da história do chifre ser verdadeira tamanha a desenvoltura com que a morena caminhava e era cumprimentada pelos marmanjos do bairro.
Mundinho Barata viu quando Laurinda passou por um portão azul vigiado por um homem com camisa branca, gravata borboleta e cara de garçom que a cumprimentou respeitosamente, como se ela fosse dona da casa. Ao lado, um botequim vagabundo parecia um oásis no deserto para o repórter, que estava a quase 24 horas sem beber uma única cerveja em garrafa. Pediu a primeira e puxou conversa com o dono do boteco:
Ô chefia, tudo bem?
Tirando esse calor, tudo na santa paz de Deus...
Pode crer, tô passando para matar a quentura tomando essa gela.
Põe calor nisso... ninguém aguenta mais andar nessa cidade. Está cada vez mais insuportável e a prefeitura não faz nada
Iniciada a conversa, Barata veio com a pergunta mortal:
Amigo, esse portão azul aí...
O que tem?
É casa de família?
Nada. Isso vai ser um bar, coisa fina. O que chegou de grade de cerveja ontem aí não é brincadeira! Parece que é de um empresário. Ninguém sabe direito porque é tudo desse portão para dentro. Mas tem até um cartaz, inaugura hoje... peraí que eu vou pegar para você.
Barata ficou mudo até o dono do boteco voltar. O cartaz encerrou o mistério do sumiço das grades de cerveja:
“Ataulfo convida – Inauguração do bar Último Desejo com roda de samba ao vivo e muita cerveja gelada”
Mundinho Barata quase caiu para trás. Como ele previra desde o início, a história da traição era fachada. O malandro e a cozinheira atacaram de novo. Juntos, forjaram o sumiço das grades para roubar as garrafas. O jeito era esperar a hora da inauguração, dar o flagrante e anunciar, no Beco da Lama, que a conta dele em todos os botequins da região estava zerada.
O repórter pediu a segunda, a terceira e a quarta cerveja ao dono do bar, de quem já se tornara amigo íntimo ao ponto do homem narrar a Barata as aventuras e desventuras dele pelos cabarés da Ribeira. Próximo da hora marcada no cartaz, os clientes, todos convidados e com a senha na mão, foram chegando e passando pelo portão azul. Levemente embriagado, Barata sentiu que era hora de encerrar o espetáculo. Já planejara até pular o muro caso fosse barrado pelo segurança na entrada.
Sem um tostão no bolso, o jornalista ainda conseguiu um fato inédito na história dos bares de Nova Descoberta: pendurar uma conta no primeiro dia.
É pela amizade!, disse o proprietário do estabelecimento após um longo abraço no repórter.
Sem dar bandeira, Mundinho Barata foi chegando, entrou na fila e aguardou para falar com o segurança. Na sua vez, disse que tinha esquecido o convite.
O nome do senhor, por favor...
Bêbado, Barata esqueceu de disfarçar e deu o nome verdadeiro. A passagem, para espanto dele na hora, foi autorizada.
Seo Mundinho Barata, seja bem-vindo, fique à vontade. Há um lugar reservado para o senhor próximo à mesa dos músicos. Divirta-se.
O jornalista não entendeu nada. E continuou sem entender quando foi recepcionado por um negão todo de branco, barba feita, cordão de ouro pendurado no pescoço o chamando pelo nome: era Ataulfo.
Graaaaaande Barata! Meu camarada, seja bem-vindo em nossa casa. Sabia que viria. A casa é sua, se quiser fazer matéria para o jornal também fique à vontade, os meninos do samba são ótimos. Já mandei avisar a Laurinda que você chegou, ela comemorou muito! Barata, você está na lista de clientes especiais do nosso Último Desejo, peça o que quiser. É por conta da casa, parceiro.
Mundinho Barata se sentiu no céu e no inferno sem mudar de andar. Por um lado foi bem recebido, tinha cerveja e tira-gosto à disposição e na quantidade que quisesse, por outro precisava desmascarar o casal, encerrar o mistério e avisar aos donos de bares do Beco.
Fez o que a consciência lhe mandou: abriu uma cerveja e foi procurar Laurinda. Depois de rodar e sambar por 40 minutos no salão, a encontrou no local mais óbvio da casa: a cozinha. Parecia que já o esperava. Os dois se cumprimentaram constrangidos e a cozinheira levou o jornalista para um quarto, onde os dois poderiam conversar mais reservadamente. Ela deixou um garçom especialmente para levar cerveja a Barata enquanto o papo rolava. Depois de alguns segundos de silêncio, o repórter foi direto ao assunto:
Porquê, Laurinda?
O choro da cozinheira, que o deixou sem jeito, não foi de culpa, mas de saudade.
É o último desejo de Ataulfo...
Eu sei, é o nome do bar.
Não, é uma homenagem a ele. Ataulfo tem três meses de vida. Segundos os médicos, ele está com quatro tipos de câncer. Não vive mais tempo que isso.
Apesar de não conhecer o malandro, a notícia pegou Barata desprevenido e embriagado. Consolou Laurinda, tentou entender o caso, mas insistiu na pergunta:
Mas o que as grades de cerveja do Beco da Lama têm a ver com essa história?
Ataulfo não tem crédito na praça, tentamos falar com a distribuidora, mas o responsável o conhece e se negou a fornecer cerveja para o bar. Ele fez muita besteira na vida, errou demais, mas é uma boa pessoa. Quando Ataulfo recebeu o resultado dos exames, me contou que o sonho da vida dele era ter um bar. Aí tive a ideia de montar esse. Sou responsável pela cozinha, os funcionários são parentes nossos que trabalhavam como garçons em outros bares e aceitaram trabalhar de graça à noite aqui, e ele fica recebendo as pessoas.
E o dinheiro para tocar isso tudo? Vocês devem ter comprado cerveja em outro bar, pelo menos. E muita, por sinal, porque vocês roubaram todas as grades do Beco da Lama!?
Na verdade juntei tudo o que eu tinha guardado nos 30 anos de trabalho com seo Neca. Nunca gastava o salário todo, sempre tirava uma parte para se caso precisasse a gente ter. Aí também fiz um empréstimo no banco, Ataulfo ganhou alguma coisa no jogo e conseguimos fazer pelo menos a inauguração. Ninguém sabe até onde vai o bar.
O garçom à disposição de Barata não parava de trazer cerveja. Àquela altura, o repórter já trocava a língua como mulher muda de roupa quando vai a um casamento.
- Mas me explica uma coisa: como é que vocês conseguiram roubar as grades dos bares sem que ninguém visse nada?
- No bar do Neca sempre fica uns papudinhos por último que nunca se lembram de nada no dia seguinte. Até ajudaram a colocar as grades no caminhão do pai de Ataulfo, mas sabia que não lembrariam nada...
Meu Deus, que história troncha da porra!?
Laurinda suplicou:
E você, vai fazer o quê? Vai contar para todo mundo? Vai acabar com essa última alegria de Ataulfo?
Olha, Laurinda, eu preciso beber uma cerveja para pensar agora. Essa história me deixou um pouco zonzo. Vou tomar a saideira antes de ir embora.
Mundinho Barata ainda tomou oito saideiras, tentou dançar sem sucesso com três negas diferentes e foi para casa completamente embriagado. Acordou com Bafo de Cana esmurrando a porta da quitinete onde mora.
Barata, acorda Barata! Prenderam o safado que roubou as grades de cerveja do Beco!
Num pulo, apesar de ainda sob efeito do álcool, o repórter abriu a porta para o amigo e foi logo querendo saber a história.
Ômi, Laurinda foi embora e ficou aquela ruma de gente bebendo e chorando em Neca. A cachaça subiu a cabeça e lá pelas tantas dois papudinhos, o Ernesto e o Papagaio, começaram a se acusar de ter roubado as grades. Papagaio disse que o Ernesto colocou as grades num caminhão e o Ernesto devolveu dizendo que só colocou a metade porque a outra metade quem colocou foi Papagaio. Nisso o delegado Figueredo, que estava bebendo em Pedro Catombo, foi avisado da conversa. Apareceu em Neca com dois soldados, pegou a discussão ainda rolando, levou os safados para a delegacia e lá os papudinhos confessaram...
E disseram para onde levaram as grades?
Barata, tu sabe que Figueredo tem fama de torturador, né? Mas pelo que ouvi falar parece que ainda não contaram nada não. O delegado está esperando baixar a bebedeira. Até porque ele já perguntou sobre as grades mais de 20 vezes e a única coisa que os bebuns fazem é pedir mais cachaça e cantar:
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Não dá mais, seo Figueredo
Mas meu último desejo
Você não pode negar...
Recomeçar
Novos ares, novos projetos, novas vidas, novos desejos, novas histórias, novas saídas, novos planos, com e sem desenganos, novas ilusões, novos caminhos e quem sabe o destino do teu coração.
O que acontece no mar
E se tudo foi mentira?
E se eu não morri de amor?
Todo beco sem saída
É uma história de terror
A gente vai devagar
Até a luz acender
Vamos mudar de lugar
O tempo passa o sofrer
Quem sabe um dia não dá
Pra gente, enfim, entender
Que o que acontece no mar
Ninguém precisa saber
Misterioso lugar
Quem vê não sabe o que vê
Eu vou ali mergulhar
E se eu desaparecer
Foi tão bonito,
Foi um prazer
E se eu não morri de amor?
Todo beco sem saída
É uma história de terror
A gente vai devagar
Até a luz acender
Vamos mudar de lugar
O tempo passa o sofrer
Quem sabe um dia não dá
Pra gente, enfim, entender
Que o que acontece no mar
Ninguém precisa saber
Misterioso lugar
Quem vê não sabe o que vê
Eu vou ali mergulhar
E se eu desaparecer
Foi tão bonito,
Foi um prazer
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