Naquela segunda-feira, a alvorada na rua dr. José Ivo chegou acompanhada da voz estridente de Laurinda. Todos os dias, à exceção dos domingos, a primeira coisa que a cozinheira do bar do Neca fazia ao chegar no estabelecimento, depois de erguer sozinha o portão de ferro da casa, era contar os cascos de cerveja vazios. O grosso do trabalho podia ser feito no sábado, mas costumava ir até a alta madrugada varando o dia seguinte pela manhã com a clientela. No final das contas, não tinha pernas nem saco para contar garrafa por garrafa em meio aos três ou quatro bêbados de sempre que encerravam o expediente sob o sol e ao som, em capela, de Último Desejo, o antológico samba em que Noel se despede de Ceci, a dama do cabaré.
Aquele início de semana era, portanto, promessa de que o furdunço seria grande no quadrilátero da maledicência do Beco da Lama. Os gritos, cuja histeria faziam os passantes imaginarem um corpo estendido no chão do boteco, logo atraíram moradores dos quitinetes das ruas adjacentes. Os donos dos demais botequins da área iam chegando aos poucos como se estivessem ali para encomendar o defunto. Todos num silêncio constrangedor sem entender o ocorrido, até Nazaré quebrar o gelo:
- Diga logo, mulher, o que aconteceu, pelamordedeus?
A resposta veio como flecha de cupido vesgo, aquela que mira o coração e acerta o queixo:
- As grades de cerveja, dona Nazaré, sumiram!
Foi Laurinda revelar o crime para todos os donos de bares da região saírem em disparada. Antes de estender a mão em solidariedade à cozinheira, correram para checar se as grades dos botecos que administravam haviam sido roubadas também.
Feito rastilho de pólvora, a notícia de que não havia mais uma única ampola de 600 ml no Beco da Lama chegou às ruas e vielas da Cidade Alta. O problema era sério e aparentemente sem solução. Segunda-feira é dia de prestar conta para o distribuidor e o sumiço das grades representaria um prejuízo grande aos comerciantes. Para piorar, a delegacia do bairro que já deveria estar em campo investigando o crime, fecha nos finais de semana porque, segundo Figueredo, o delegado que dia sim outro também baixa no bar de Pedro Catombo, policial também é gente, tem família, e precisa tomar uma para espairecer do mal da violência.
O fato é que não demorou para os primeiros nomes de suspeitos começarem a aparecer na boca dos comerciantes, garçons, fregueses e até de quem não tinha nada a ver com o metier. Qualquer rusga pessoal era motivo para acusar alguém. Em 15 minutos de disse-me-disse a lista de acusados, que àquela altura já tinham sido julgados e condenados em via pública sem direito à defesa, ia com 187 nomes. Até seo Arnaldo, que descansava havia quatro meses num túmulo do Morada da Paz, entrou no rol de criminosos. Na triagem final, porém, saíram da lista o nome dele e do dr. Tavares - cuja morte matou metade dos donos dos botecos de raiva e aliviou a outra metade que conseguiu acertar o pendura dias antes do safado ir a oló.
Num lampejo de lucidez, vendo que a confusão não seria resolvida, Cirrose, garçom dos bons que vez por outra é flagrado bêbado atendendo os clientes do bar de Zé Reiêra, lembrou que a única pessoa que poderia resolver o mistério do sumiço das grades era Mundinho Barata. O repórter andava sumido, mas, coincidentemente, vinha chegando ainda cambaleante da noite mal-dormida acompanhado do amigo e fotógrafo Bafo de Cana, que mais do que nunca fazia jus ao apelido.
- Que gritaria é essa, dona Laurinda?
A cozinheira do bar do Neca, que já não ia lá muito com a cara do repórter do Beco da Lama, teve que dar o braço a torcer e pedir ajuda ao jornalista. A condição de Barata, no entanto, era conhecida por todos os donos de bares da Cidade Alta: se o crime fosse desvendado, a caderneta do fiado tinha que ser zerada, o que só no caso do Neca significava uma gorda quantia equivalente a três salários mínimos. E como o suposto roubo atingiu todos os estabelecimentos do Beco, pegar o culpado era também o fim da incalculável dívida do repórter.
Com o 'sim' dos comerciantes, apesar da cara feia geral, Mundinho Barata tirou o bloquinho e a caneta do bolso para iniciar a apuração dos fatos e chegar ao meliante. Começou, como de praxe, por Laurinda, que tremia feito bêbado antes da primeira dose só de pensar no que o dono do bar faria com ela ao saber do sumiço das grades. Deu-se o interrogatório:
- A que horas a senhora chegou ao botequim, dona Laurinda?
- 6h26 da manhã...
- Veio de onde?
- Que diferença faz, Barata?
- Toda. Dependendo de onde a senhora tenha vindo pode ter descido em paradas diferentes e encontrado pessoas diferentes pelo caminho.
- Desci na parada da Ulisses Caldas, se é o que você quer saber...
Barata achou estranho a impaciência de Laurinda em responder de onde saiu para vir ao trabalho, principalmente pela fama ilibada da cozinheira que, como todos sabiam, saía de casa apenas para trabalhar no bar e orar na igreja. Decidiu insistir por outras vias:
- Quando a senhora desceu do 24 quem encontrou pelo caminho até o bar?
Laurinda caiu na cilada:
Quem disse a você que desci do 24? Peguei o 45...
- Mas o 45 não passa no bairro onde a senhora mora...
Laurinda hesitou, mas respondeu de forma seca:
Porque eu não vim de casa.
E veio da onde?
- E te interessa, Barata!? Tá querendo se meter na minha vida?
A senhora não está querendo colaborar. Estou atrás das grades...
A cozinheira não aguentou e, para espanto de Barata, Bafo de Cana e de quem acompanhava o depoimento, revelou a bomba:
Olha aqui rapaz, botar chifre no meu marido pode ser imoral e sacanagem, mas crime não é desde 2007!
Constrangido, após meio minuto de silêncio, o repórter pediu desculpas e uma cerveja em lata para ele e outra para Bafo de Cana se recuperarem do baque. Laurinda foi buscar revoltada e sem esconder o desconforto com a folga do jornalista que, na maior cara de pau, ainda mandou colocar o prejuízo na conta.
Mundinho Barata bebeu a cerveja reclamando da temperatura e decidiu dar por encerrada a entrevista naquele momento, no que prometeu voltar mais tarde. O faro do repórter entrou em cena. Sentiu o cheiro de furo. Ele sabia que a primeira pista do caso acabara de aparecer. Mas com a resistência de Laurinda, o jeito foi conseguir as informações que precisava com outra fonte. Falou com todos os comerciantes, garçons e funcionários dos botequins furtados, mas não ouviu nada que mudasse os rumos da investigação que já estava traçada na cabeça dele. Vendo a impaciência do amigo, Bafo de Cana desentalou e quis saber o próximo passo.
Laurinda não disse que tem um amante? Então vamos encontrar o pé-de-lã, respondeu o repórter acendendo o oitavo cigarro do dia.
Para Barata, a confissão de adultério de Laurinda era estranha embora pouca coisa na vida ainda o surpreendesse. Essa história estava mal contada, pensou em silêncio. E apesar de não ser homem de botar a mão no fogo por mulher nenhuma, o repórter não acreditou que a cozinheira estivesse traindo o marido. E muito menos que, se fosse verdade, ela revelaria a galha em público a um jornalista.
As suspeitas de Barata tinham lá seu fundamento. Ataulfo, o marido de Laurinda, era um boêmio incorrigível e um cafajeste inveterado. Criado nas Rocas pelos avós maternos, foi durante muito tempo odiado pelos pais das meninas que caíam na lábia do conquistador, um dom, todos reconheciam, herdado do pai, antigo comerciante do beco da Quarentena, na Ribeira, que assumiu a casa quando o sogro morreu após um ataque cardíaco em condições suspeitíssimas.
Quando jovem, Ataulfo ostentava certa riqueza, fruto de pequenos furtos praticados em bairros de classe média da cidade. Admitia aos amigos mais chegados que nunca saiu do miserê porque não segurava dinheiro. Gastava e esnobava, não necessariamente nessa ordem. Agora, aos 43 anos de idade, e já sem o vigor dos tempos idos, passa os dias reclamando da vida, trapaceando no jogo de cartas e planejando o próximo golpe, que invariavelmente dá errado.
Ataulfo e Laurinda se conheceram no auge da malandragem. A cozinheira, filha de pai mecânico e mãe lavadeira, foi uma das meninas que sucumbiu ao cafajeste. Apaixonou-se perdidamente e jurou amor eterno desde que ganhou o primeiro beijo e, logo em seguida, uma corrente de ouro que pertencia, na verdade, a uma socialite assaltada quando levava a cadela ao cabelereiro num fim de tarde de uma semana qualquer. O amor de Laurinda pelo sujeito era incondicional. Tão intenso que alguns pequenos delitos tiveram a cumplicidade da companheira, o que lhe rendeu o apelido, junto à rapaziada das Rocas, de alma gêmea.
Naquela época, final dos anos 60, os beijos viraram namoro e terminaram em casamento quando o malandro foi enquadrado pelo pai da cozinheira depois que o falatório chegou na oficina onde trabalhava.
Laurinda sempre sonhou em mudar de vida, mas ao contrário do marido, não vivia se queixando de nada. Aquela paixão de início de namoro também seguia a pleno vapor, daí a desconfiança de Mundinho Barata, que colheu as informações sobre o casal com amigos em comum que cresceram nas Rocas e acompanharam toda a trajetória do malandro e a cozinheira.
Se Barata já andava desconfiado da história mal contada no botequim, depois de ouvir o histórico do casal o repórter ficou ainda mais cabrêro e certo de que estava mais perto de desvendar o mistério do sumiço das grades de cerveja do Beco. A cada informação que coletava, parecia mais próximo do ladrão. E as suspeitas quase viraram certeza quando Bafo de Cana chegou exalando cachaça, vindo do bar do Neca:
Barata, Laurinda pediu demissão!
O quê?
Ela está se despedindo do pessoal do bar agora, parece que o Neca acusou ela de roubar as grades. Os funcionários dos outros bares estão indo para lá tentar convencê-la a ficar. Mas o próprio Neca já não quer saber...
Quando Barata chegou, Laurinda já estava de saída. Se despediu, disse que não aceitaria a acusação de ter roubado o próprio local de trabalho depois de mais de 30 anos dedicados ao botequim e pegou a direção da parada de ônibus sob o olhar de tristeza dos fregueses que, na falta de cerveja, tomaram todas as garrafas de cachaça do bar em protesto à demissão, o que fez o dono do estabelecimento, um ex-militar do Exército que mantém na parede do bar uma galeria com as fotos dos ex-presidentes que governaram o Brasil na ditadura militar, dizer que se soubesse do lucro que teria com a saída da cozinheira já a teria demitido há mais tempo:
A partir de agora, cozinheira dura só uma semana comigo, disse antes de soltar uma gargalhada que mereceu uma cusparada de um bebum que chorava como se tivesse perdido o grande amor da vida.
O repórter esperou Laurinda se afastar para não perceber que estava sendo seguida e foi atrás dela. Pediu que Bafo de Cana o aguardasse para não chamar muito a atenção. O pedido foi atendido com grande felicidade e comemorado no bar de Nazaré com outra dose de aguardente. À distância, Barata viu quando Laurinda subiu no 45 e, com cuidado para não ser flagrado, tomou a mesma condução. Aproveitou o momento em que a cozinheira procurava o celular na bolsa para chegar ao final do ônibus. Tirou a boina e colocou o jornal na cara para despistar, tal qual fazem os detetives de filme americano. E esperou.
A viagem durou quase uma hora. No bairro de Nova Descoberta, Laurinda pediu parada. Barata esperou um velho descer com dificuldades e partiu atrás. Sem qualquer sinal de tristeza, a ex-cozinheira do Beco distribuía sorrisos a quem via na rua. Àquela altura, o jornalista já passava a acreditar na possibilidade da história do chifre ser verdadeira tamanha a desenvoltura com que a morena caminhava e era cumprimentada pelos marmanjos do bairro.
Mundinho Barata viu quando Laurinda passou por um portão azul vigiado por um homem com camisa branca, gravata borboleta e cara de garçom que a cumprimentou respeitosamente, como se ela fosse dona da casa. Ao lado, um botequim vagabundo parecia um oásis no deserto para o repórter, que estava a quase 24 horas sem beber uma única cerveja em garrafa. Pediu a primeira e puxou conversa com o dono do boteco:
Ô chefia, tudo bem?
Tirando esse calor, tudo na santa paz de Deus...
Pode crer, tô passando para matar a quentura tomando essa gela.
Põe calor nisso... ninguém aguenta mais andar nessa cidade. Está cada vez mais insuportável e a prefeitura não faz nada
Iniciada a conversa, Barata veio com a pergunta mortal:
Amigo, esse portão azul aí...
O que tem?
É casa de família?
Nada. Isso vai ser um bar, coisa fina. O que chegou de grade de cerveja ontem aí não é brincadeira! Parece que é de um empresário. Ninguém sabe direito porque é tudo desse portão para dentro. Mas tem até um cartaz, inaugura hoje... peraí que eu vou pegar para você.
Barata ficou mudo até o dono do boteco voltar. O cartaz encerrou o mistério do sumiço das grades de cerveja:
“Ataulfo convida – Inauguração do bar Último Desejo com roda de samba ao vivo e muita cerveja gelada”
Mundinho Barata quase caiu para trás. Como ele previra desde o início, a história da traição era fachada. O malandro e a cozinheira atacaram de novo. Juntos, forjaram o sumiço das grades para roubar as garrafas. O jeito era esperar a hora da inauguração, dar o flagrante e anunciar, no Beco da Lama, que a conta dele em todos os botequins da região estava zerada.
O repórter pediu a segunda, a terceira e a quarta cerveja ao dono do bar, de quem já se tornara amigo íntimo ao ponto do homem narrar a Barata as aventuras e desventuras dele pelos cabarés da Ribeira. Próximo da hora marcada no cartaz, os clientes, todos convidados e com a senha na mão, foram chegando e passando pelo portão azul. Levemente embriagado, Barata sentiu que era hora de encerrar o espetáculo. Já planejara até pular o muro caso fosse barrado pelo segurança na entrada.
Sem um tostão no bolso, o jornalista ainda conseguiu um fato inédito na história dos bares de Nova Descoberta: pendurar uma conta no primeiro dia.
É pela amizade!, disse o proprietário do estabelecimento após um longo abraço no repórter.
Sem dar bandeira, Mundinho Barata foi chegando, entrou na fila e aguardou para falar com o segurança. Na sua vez, disse que tinha esquecido o convite.
O nome do senhor, por favor...
Bêbado, Barata esqueceu de disfarçar e deu o nome verdadeiro. A passagem, para espanto dele na hora, foi autorizada.
Seo Mundinho Barata, seja bem-vindo, fique à vontade. Há um lugar reservado para o senhor próximo à mesa dos músicos. Divirta-se.
O jornalista não entendeu nada. E continuou sem entender quando foi recepcionado por um negão todo de branco, barba feita, cordão de ouro pendurado no pescoço o chamando pelo nome: era Ataulfo.
Graaaaaande Barata! Meu camarada, seja bem-vindo em nossa casa. Sabia que viria. A casa é sua, se quiser fazer matéria para o jornal também fique à vontade, os meninos do samba são ótimos. Já mandei avisar a Laurinda que você chegou, ela comemorou muito! Barata, você está na lista de clientes especiais do nosso Último Desejo, peça o que quiser. É por conta da casa, parceiro.
Mundinho Barata se sentiu no céu e no inferno sem mudar de andar. Por um lado foi bem recebido, tinha cerveja e tira-gosto à disposição e na quantidade que quisesse, por outro precisava desmascarar o casal, encerrar o mistério e avisar aos donos de bares do Beco.
Fez o que a consciência lhe mandou: abriu uma cerveja e foi procurar Laurinda. Depois de rodar e sambar por 40 minutos no salão, a encontrou no local mais óbvio da casa: a cozinha. Parecia que já o esperava. Os dois se cumprimentaram constrangidos e a cozinheira levou o jornalista para um quarto, onde os dois poderiam conversar mais reservadamente. Ela deixou um garçom especialmente para levar cerveja a Barata enquanto o papo rolava. Depois de alguns segundos de silêncio, o repórter foi direto ao assunto:
Porquê, Laurinda?
O choro da cozinheira, que o deixou sem jeito, não foi de culpa, mas de saudade.
É o último desejo de Ataulfo...
Eu sei, é o nome do bar.
Não, é uma homenagem a ele. Ataulfo tem três meses de vida. Segundos os médicos, ele está com quatro tipos de câncer. Não vive mais tempo que isso.
Apesar de não conhecer o malandro, a notícia pegou Barata desprevenido e embriagado. Consolou Laurinda, tentou entender o caso, mas insistiu na pergunta:
Mas o que as grades de cerveja do Beco da Lama têm a ver com essa história?
Ataulfo não tem crédito na praça, tentamos falar com a distribuidora, mas o responsável o conhece e se negou a fornecer cerveja para o bar. Ele fez muita besteira na vida, errou demais, mas é uma boa pessoa. Quando Ataulfo recebeu o resultado dos exames, me contou que o sonho da vida dele era ter um bar. Aí tive a ideia de montar esse. Sou responsável pela cozinha, os funcionários são parentes nossos que trabalhavam como garçons em outros bares e aceitaram trabalhar de graça à noite aqui, e ele fica recebendo as pessoas.
E o dinheiro para tocar isso tudo? Vocês devem ter comprado cerveja em outro bar, pelo menos. E muita, por sinal, porque vocês roubaram todas as grades do Beco da Lama!?
Na verdade juntei tudo o que eu tinha guardado nos 30 anos de trabalho com seo Neca. Nunca gastava o salário todo, sempre tirava uma parte para se caso precisasse a gente ter. Aí também fiz um empréstimo no banco, Ataulfo ganhou alguma coisa no jogo e conseguimos fazer pelo menos a inauguração. Ninguém sabe até onde vai o bar.
O garçom à disposição de Barata não parava de trazer cerveja. Àquela altura, o repórter já trocava a língua como mulher muda de roupa quando vai a um casamento.
- Mas me explica uma coisa: como é que vocês conseguiram roubar as grades dos bares sem que ninguém visse nada?
- No bar do Neca sempre fica uns papudinhos por último que nunca se lembram de nada no dia seguinte. Até ajudaram a colocar as grades no caminhão do pai de Ataulfo, mas sabia que não lembrariam nada...
Meu Deus, que história troncha da porra!?
Laurinda suplicou:
E você, vai fazer o quê? Vai contar para todo mundo? Vai acabar com essa última alegria de Ataulfo?
Olha, Laurinda, eu preciso beber uma cerveja para pensar agora. Essa história me deixou um pouco zonzo. Vou tomar a saideira antes de ir embora.
Mundinho Barata ainda tomou oito saideiras, tentou dançar sem sucesso com três negas diferentes e foi para casa completamente embriagado. Acordou com Bafo de Cana esmurrando a porta da quitinete onde mora.
Barata, acorda Barata! Prenderam o safado que roubou as grades de cerveja do Beco!
Num pulo, apesar de ainda sob efeito do álcool, o repórter abriu a porta para o amigo e foi logo querendo saber a história.
Ômi, Laurinda foi embora e ficou aquela ruma de gente bebendo e chorando em Neca. A cachaça subiu a cabeça e lá pelas tantas dois papudinhos, o Ernesto e o Papagaio, começaram a se acusar de ter roubado as grades. Papagaio disse que o Ernesto colocou as grades num caminhão e o Ernesto devolveu dizendo que só colocou a metade porque a outra metade quem colocou foi Papagaio. Nisso o delegado Figueredo, que estava bebendo em Pedro Catombo, foi avisado da conversa. Apareceu em Neca com dois soldados, pegou a discussão ainda rolando, levou os safados para a delegacia e lá os papudinhos confessaram...
E disseram para onde levaram as grades?
Barata, tu sabe que Figueredo tem fama de torturador, né? Mas pelo que ouvi falar parece que ainda não contaram nada não. O delegado está esperando baixar a bebedeira. Até porque ele já perguntou sobre as grades mais de 20 vezes e a única coisa que os bebuns fazem é pedir mais cachaça e cantar:
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Não dá mais, seo Figueredo
Mas meu último desejo
Você não pode negar...
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