sábado, 14 de fevereiro de 2009

A GRANDE NOITE DO GRÊMIO RECREATIVO LÍTERO ETÍLICO CULTURAL E ESPORTIVO BANDA INDEPENDENTE DA RIBEIRA



Foi estrondoso o sucesso do desfile do Grêmio Recreativo Lítero Etílico Cultural e Esportivo Banda Independente da Ribeira pelas ruas do Centro Histórico de Natal. Com menos gente que o ano passado, mas a mesma energia positiva de sempre, a Banda Independente da Ribeira arrastou bêbados, sóbrios, foliões fantasiados ou à paisana numa grande festa. Depois de cinco anos sob o comando do maestro Gilberto Cabral, 2009 marcou a estréia de Antônio de Pádua como regente da orquestra de metais e, por conseqüência, do público.

Concentrada em frente ao bar de Nazaré, que vendeu exatas 12 grades de cerveja (os números foram confirmados com o Paulinho), a Banda percorreu as principais ruas da Cidade Alta, antes de descer para a Ribeira. As paradas programadas também aconteceram e fizeram a alegria da multidão que acompanhou a festa.



Só um detalhe: diferente de 2008, quando as portas da Igreja do Galo foram testemunhas de uma das performances dos músicos, a Banda deixou o padre na mão. Provavelmente por conta da missa ou casamento que rolava no momento. Não é por nada não, mas eu vi a galera que estava no fundo da igreja virar para a rua só para ver a Banda passar.

Eu e Ana, devidamente municiados de algumas muitas gelas logo batizadas de kit-lasca, fizemos da prévia mais popular e democrática da Cidade Alta o pontapé inicial de um carnaval que promete em 2009. E viva o Zé Pereira!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A MINHA CEARÁ-MIRIM



Passei a manhã de sexta-feira em Ceará-mirim. Fui a trabalho. Chegamos, eu e o Wilson, diretor do Sindsaúde, relativamente cedo na cidade. Coisa de 8h. O Centro Histórico já fervia com gente na rua, passando de bicicleta, aquele vai e vem bem interiorano. Como o chefe disse que teria de passar na prefeitura para protocolar um documento, olhei de lado e vi o portentoso Mercado Público de Ceará-mirim. Não pensei duas vezes. Subi uma pequena escadaria e segundos depois lá estava eu vendo e sentindo o cheiro da história da cidade, que durante anos foi uma espécie de senzala da família Melo e hoje é comandada pelo autoritário delegado de polícia Antônio Peixoto. Isso, na verdade, é o que dizem aqueles que preferem contar a história pelas estórias das oligarquias. Como eu prefiro falar com gente de verdade, conto a história da Ceará-mirim de dona Dorinha e do finado Grandão da Cosern.

Voltemos, pois, ao Mercado. Como era cedo demais e meu estômago roncava, fui comer alguma coisa. Abanquei-me na barraca número 11, onde a dona Dorinha dita as regras. Ela temperava uma galinha quando cheguei. Jogou uma água de leve numa das mãos e me presenteou com um belo pastel de carne. Em pouco tempo, chegou um coroa na banca. Tudo indicava que era o parceiro de dona Dorinha. Me serviu um refrigerante e foi atender um cliente que acabara de chegar. O rapaz, que devia ter perto dos 40 anos, perguntou se havia “queimadinho” para vender. Dei um passo para trás do balcão para ver melhor a cena.



O coroa perguntou se o cara queria com Pitu ou 51. Cachaça escolhida (ganhou a 51, devidamente retirada da prateleira pregada na única parede da barraca), a pergunta agora recaía sobre o vinho. Aliás, se tratava de uma pergunta retórica, visto que o único vinho vagabundo encostado na prateleira era um tal de “vinho D´Ouro”. A mistura, meus amigos, devidamente servida num copo americano saiu pela bagatela de R$ 0,50 (CINQUENTA CENTAVOS). E ainda tinha mais: além do cliente escolher a cachaça e o vinho pelos rótulos, o proprietário do estabelecimento de dona Dorinha ainda presenteou o freguês com um pedacinho de carne de bode no palito (um único pedaço) para, digamos assim, tirar o gosto da mistura.

O sujeito tomou o queimadinho numa talagada só antes de se deleitar com a carne. E foi embora. De volta em cinco minutos, eu já no segundo pastel servido por dona Dorinha, pediu a saideira obedecendo ao mesmo ritual que eu acabara de assistir.

Paguei a conta realizado e voltei ao trabalho. Tínhamos que aguardar um grupo de pessoas num posto de gasolina localizado à margem da avenida principal da cidade. Nisso, passa uma Kombi, dessas que têm um alto-falante e serve entre outras coisas para avisar do início da missa quando o sino dá uma pane. Mas não nesse caso. Era uma notícia para toda a população de Ceará-mirim. O locutor, anotei tudo quando ele repetiu a informação pela segunda vez, disse com a voz embargada:

- Faleceu na tarde de ontem Manoel Leopoldino, conhecido popularmente como Grandão da Cosern. O sepultamente será amanhã, às 15 horas, no cemitério Parque.

Da próxima vez que me perguntarem se fui a Ceará-mirim, nem lembrarei da roubalheira dos Melo ou da ignorância do delegado Peixoto. Vou dizer que é a terra do queimadinho, de dona Dorinha e do saudoso Grandão da Cosern.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

MARTINHO 70



Hoje é dia de José Martinho Ferreiro. Salve Martinho da Vila! Li outro dia uma entrevista com o Sérgio Cabral, o pai, onde ele fala que o Martinho é o responsável por abrir as portas do mercado de discos para os outros sambistas. Ou seja, quem terminou por popularizar o samba foi o da Vila! O grande Martinho da Vila que chega neste 12 de fevereiro aos setenta anos de samba.

Para terminar, uma historinha rápida. No último show do Martinho aqui em Natal, no carnaval de 2007, o entrevistei para o caderno VIVER. Coisa rápida por conta da agenda, eu tinha cinco minutos. Ele se apresentou logo depois do desfile das Kenga´s, outro dia procura essa entrevista e publico aqui.

Mas o que eu quero contar é que eu já estava postado na fila do gargarejo meio na pressa porque fui escalado para cobrir também o desfile das escolas de samba e das Tribos de Índio, que acontecia lá embaixo, na Ribeira. Fiz de tudo para pegar pelo menos as dez primeiras músicas.

Com um pequeno atraso, entra o Martinho ovacionado por uma multidão na Cidade Alta. Canta a primeira, a segunda, a terceira, a quarta e, antes da quinta, pede para um dos músicos ir levando o show enquanto ele resolvia um problema lá embaixo, no camarim.

Angustiado com a hora, o fotógrafo já havia descido, vou até o alambrado que separava o público da produção e vejo o Júlio César Pimenta, na época auxiliando a produção do carnaval. Pergunto, inocente:

- E aí, Júlio? Aconteceu alguma coisa? Cadê o cara?

O Pimenta, naquela tranquilidade martiniana, faz o movimento do dedo polegar em direção à boca e revela o óbvio:

- Tá lá dentro do camarim. Ele, a mulher, o prefeito e um balasinho (mais conhecido como uísque Ballantines).

Depois dessa, procurei o motorista da Tribuna e fui trabalhar. No seco.


Salve Martinho da Vila!

CANDEIA



Candeia foi um dos grandes sambistas desse Brasil. Foi é maneira de dizer, né? O cara está vivo, porra! Como estão também nessa mesma esteira Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulo da Portela, Silas de Oliveira e uma porção de gênios que à luz dos dias de hoje fazem parte de um passado cada vez mais presente na memória daqueles que não deixam o samba morrer.

Li no blog botequimdobruno.blogspot.com, assinado pelo jornalista Bruno Ribeiro, um carioca bom de samba radicado em Campinas, uma entrevista do Candeia para uma rádio, em 1975. A conversa estava inédita até então e faz parte do acervo particular da Cristina Buarque. Bruno publicou no blog a primeira parte da entrevista transcrita, “na unha”, pelo amigo, pesquisador e sambista Renato Martins.

O papo é um grande achado, uma senhora aula de cultura popular, de história e educação brasileira. Pincei um dos trechos sensacionais da entrevista. Incitado a falar de Escola de Samba para iniciantes, Candeia conta que soube da história de uma menina que não sabia nada sobre Dom João VI, mas tirou 10 numa prova porque lembrava de cor a letra de um samba enredo que ele escreveu para a Portela, em 1957. O samba é cultura, malandro. E da boa. Deixo, agora, vocês com o mestre Candeia:

“... Escola de Samba é uma manifestação artística popular. E é necessário até que façamos uma comparação. Eu diria que ela difere um pouco do que foi no passado. Antigamente ela era muito mais artística popular. Atualmente ela é artística de consumo popular. É diferente. Essa é a grande verdade. Mas a escola de samba é formada, em sua maioria, por aquele homem humilde, o sambista que vive do povo, que faz as coisas para o povo. Escola de Samba é um centro de grande força de brasilidade, acima de tudo. A Escola de Samba canta as coisas nossas, os nossos temas folclóricos, os nossos temas literários, os nossos temas históricos... Eu posso dizer pra você até o seguinte: aconteceu uma passagem certa ocasião em que a filha de uma vizinha de onde eu já morei, certa vez, uma professora na escola pediu para que ela fizesse um trabalho sobre, se eu não me engano, Dom João VI. E ela não estava preparada, mas, entretanto, ela sabia um samba meu, que foi um enredo na Portela em 1957. Então, por ela saber o samba, ela conseguiu tirar nota dez. Eu nunca mais esqueci isso, porque eu achei muito bacana. A garota acabou utilizando toda a letra do samba no trabalho de redação escolar. E a professora, talvez por desconhecer esse detalhe, julgou que aquilo tivesse sido criado na hora. O que eu achei interessante foi a perspicácia dela. Isso só vem provar o quê? Que a Escola de Samba é exatamente isso. Vejamos o seguinte: os enredos que as Escolas de samba levam pra avenida, tem sido algo maravilhoso em termos de cultura popular, de cantar as nossas coisas, enfim, de mostrar o que é o Brasil. Talvez seja um dos poucos centros, um dos poucos redutos, assim como entidade, que fale em Brasil e que seja apolítica. Escola de Samba não tem nada de política em si. Ela canta porque ama essa terra, porque vive essa terra e procura se encontrar nessas nossas coisas, dando-se um exemplo de significado de brasilidade, acima de tudo”.

Quer ler a entrevista toda? Então vai conhecer o botequimdobruno.blogspot.com

O XERIFE DO BECO

Estava escrito que alguma coisa bem distante da normalidade aconteceria na tarde de quarta-feira no bar de Nazaré. Todas as mesas do lado de fora cheias e quase a totalidade dos lugares de dentro do buteco também. Tempo vai, cerveja vem, Fábio Athayde chega junto da nossa mesa. Barba branca rala por fazer, calça preta nova, camisa laranja de botão e, claro, uma indefectível vontade de biritar. O papo rola tranqüilo como se fosse um dia comum. Até que um amigo italiano do nosso ilustre convidado, dono de um bar em Ponta Negra, se aproxima e joga um comentário como se atirasse uma carteira de cigarros sobre a mesa:

- Você está parecendo um dos chefões da máfia Siciliana...

O comentário, tiramos a prova dos 9 depois, não tinha absolutamente nada de isolado. Fazia parte do personagem que Fábio representava naquela tarde de Beco da Lama. Personagem, aliás, que só seria desmascarado depois de mais algumas cervejas, assim que o sol anunciou a despedida.

Lá pelas tantas, boca da noite, entra um policial militar fardado e armado no bar. Se eu estivesse de frente para o crime, sentiria o cheiro da encrenca. De costas, só vi a figura já acomodada no primeiro banquinho azul do balcão do Paulinho quando entrei na escala do banheiro. Olhei para o policial, confesso, como quem vê um frequentador comum de botequim. E voltei para a mesa. O mesmo não fez o Fábio. Ficou por alguns minutos no balcão e voltou para a mesa com cara de secretário de Segurança Pública:

- Falei para o cara: você tem dois agravantes. Primeiro porque está fardado, segundo porque está armado. E se acontecer alguma coisa? Falei que ia denunciá-lo.

A história, claro, foi motivo de gargalhadas durante uns bons três minutos. Nem eu nem Ana acreditávamos que o PM tinha sido posto contra a parede daquela forma. O Fábio, como não poderia ser diferente, não gostou de nossa reação e antes que ameaçasse ir embora da mesa chega o tal policial militar fardado e armado com a voz meio embargada no pé da mesa e, como se olhasse para o seu superior, dá a seguinte explicação:

- Ô meu amigo. Você está certo. Vou indo nessa. Amanhã eu volto para liberar a cirrose. Mas pode deixar, venho como civil. Só volto a trabalhar na terça-feira que vem...

Não há outra versão. O pobre policial biriteiro pai de família só faltou pedir desculpas. A partir dali não teve jeito: estava eleito o mais novo Xerife do Beco.