sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A MINHA CEARÁ-MIRIM



Passei a manhã de sexta-feira em Ceará-mirim. Fui a trabalho. Chegamos, eu e o Wilson, diretor do Sindsaúde, relativamente cedo na cidade. Coisa de 8h. O Centro Histórico já fervia com gente na rua, passando de bicicleta, aquele vai e vem bem interiorano. Como o chefe disse que teria de passar na prefeitura para protocolar um documento, olhei de lado e vi o portentoso Mercado Público de Ceará-mirim. Não pensei duas vezes. Subi uma pequena escadaria e segundos depois lá estava eu vendo e sentindo o cheiro da história da cidade, que durante anos foi uma espécie de senzala da família Melo e hoje é comandada pelo autoritário delegado de polícia Antônio Peixoto. Isso, na verdade, é o que dizem aqueles que preferem contar a história pelas estórias das oligarquias. Como eu prefiro falar com gente de verdade, conto a história da Ceará-mirim de dona Dorinha e do finado Grandão da Cosern.

Voltemos, pois, ao Mercado. Como era cedo demais e meu estômago roncava, fui comer alguma coisa. Abanquei-me na barraca número 11, onde a dona Dorinha dita as regras. Ela temperava uma galinha quando cheguei. Jogou uma água de leve numa das mãos e me presenteou com um belo pastel de carne. Em pouco tempo, chegou um coroa na banca. Tudo indicava que era o parceiro de dona Dorinha. Me serviu um refrigerante e foi atender um cliente que acabara de chegar. O rapaz, que devia ter perto dos 40 anos, perguntou se havia “queimadinho” para vender. Dei um passo para trás do balcão para ver melhor a cena.



O coroa perguntou se o cara queria com Pitu ou 51. Cachaça escolhida (ganhou a 51, devidamente retirada da prateleira pregada na única parede da barraca), a pergunta agora recaía sobre o vinho. Aliás, se tratava de uma pergunta retórica, visto que o único vinho vagabundo encostado na prateleira era um tal de “vinho D´Ouro”. A mistura, meus amigos, devidamente servida num copo americano saiu pela bagatela de R$ 0,50 (CINQUENTA CENTAVOS). E ainda tinha mais: além do cliente escolher a cachaça e o vinho pelos rótulos, o proprietário do estabelecimento de dona Dorinha ainda presenteou o freguês com um pedacinho de carne de bode no palito (um único pedaço) para, digamos assim, tirar o gosto da mistura.

O sujeito tomou o queimadinho numa talagada só antes de se deleitar com a carne. E foi embora. De volta em cinco minutos, eu já no segundo pastel servido por dona Dorinha, pediu a saideira obedecendo ao mesmo ritual que eu acabara de assistir.

Paguei a conta realizado e voltei ao trabalho. Tínhamos que aguardar um grupo de pessoas num posto de gasolina localizado à margem da avenida principal da cidade. Nisso, passa uma Kombi, dessas que têm um alto-falante e serve entre outras coisas para avisar do início da missa quando o sino dá uma pane. Mas não nesse caso. Era uma notícia para toda a população de Ceará-mirim. O locutor, anotei tudo quando ele repetiu a informação pela segunda vez, disse com a voz embargada:

- Faleceu na tarde de ontem Manoel Leopoldino, conhecido popularmente como Grandão da Cosern. O sepultamente será amanhã, às 15 horas, no cemitério Parque.

Da próxima vez que me perguntarem se fui a Ceará-mirim, nem lembrarei da roubalheira dos Melo ou da ignorância do delegado Peixoto. Vou dizer que é a terra do queimadinho, de dona Dorinha e do saudoso Grandão da Cosern.

2 comentários:

Armando Miranda disse...

Ceará-Mirim é fantástica!
Tenhos alguns parentes por lá, e já bebi muito ali naquele mercado, que é realmente mágico!
Ah, também já expérimentei o tal "queimadinho"" kkkkkkkkk

Ana Paula Costa disse...

Vivendo e aprendendo. Em breve experimentando o QUEIMADINHOS!