Seo Lunga ficaria deslocado no Beco da Lama se conhecesse o Paulinho. Um gentleman de quatro costados, eu diria, o herdeiro do bar de Nazaré. Em mais uma bela noite de lua com o samba comendo solto na rua Coronel Cascudo, uma das 16 cervejas enxugadas na mesa veio quente. A queixa, óbvio, foi endereçada ao dono do buteco.
Paulinho, a cerveja tá quente!
Rápido no gatilho, a resposta veio pronta:
Toma de colher!
Eu, como não tomo sopa nem lembrava de ter pedido o caldo da casa, engoli seco.
De uma sensibilidade incrível esse Paulinho.
Vai ter volta.
sexta-feira, 19 de março de 2010
quinta-feira, 18 de março de 2010
ARQUIVO VIVO NA ÁREA

Todos os caminhos levam hoje, nesta quinta-feira de sol a pino, ao bar de Nazaré, na rua Coronel Cascudo da Cidade Alta (por trás da Assembleia Legislativa), onde se apresenta, mais uma vez para o povo, a turma do Arquivo Vivo.
Fã de carteirinha assumido dos meninos, já reservei um lugar na mesa 1 do buteco, devidamente instalada embaixo do portão de ferro. Ali, na meiuca entre o estabelecimento e o meio da rua, onde a roda de samba acontece, a visão é ampla e democrática.
O mafuá começa religiosamente a partir das 19h e será, tenho certeza disso, uma tremenda prévia do que os garotos preparam para o próximo sábado, 20 de março, na casa ‘Preto no Branco’, em Ponta Negra, quando, na voz de comando, estará simplesmente Marquinho Satã.
Por isso que, para os discípulos do samba, a ausência tanto na roda de samba de hoje como no show de sábado representará, além de uma bola fora, uma autêntica falsa consideração. Se é que me faço entender.
Até lá!
O CEMITÉRIO DAS SAIDEIRAS
Levei um susto ao ler, no site do UOL, ontem à tarde, a manchete da partida disputada entre Grêmio e Votoraty, no interior paulista, pela Copa do Brasil.
- Em ‘cemitério de tornozelos’, Grêmio vence, mas não evita o 2º jogo
A frase, inspirada na declaração do atacante Willian, do time gaúcho, parece uma alegoria pinçada de uma das míticas crônicas de Nelson Rodrigues. Uma pérola em meio à mesmice que povoa os gramados do país. Disse o sujeito, reclamando do campo:
- Não tem como jogar aqui. Este campo é um cemitério de tornozelos. A bola fica pulando, não tem como tocar
Sem dúvida alguma, uma descrição rodrigueana digna de registro e que cabe em várias outras situações. Senão vejamos o estado lamentável das calçadas de rua da cidade. Algumas, de tão mal-conservadas, parecem vir com os próprios túmulos cobertos de entulho.
Mas a história aqui é outra. O fato é que a expressão, cunhada por um gremista, me trouxe a lembrança do Ivandir, amigo gaúcho, igualmente tricolor. Nos bons tempos da faculdade em que as tardes e noites de terça-feira morriam sempre no chopp triplo a R$ 1,99 do Bari Palesi, a conversa, já sem direção, ia ao sabor da esculhambação das aulas de jornalismo. O que, diga-se de passagem, é praxe nos butecos que reúnem estudantes do curso.
De repente, alguém da mesa citou o jornalista Vicente Serejo, professor da cadeira de ‘estilo jornalístico’. Deu-se o impasse. De um lado, o grupo que gostava das aulas. Do outro, a maioria, a turma que caracterizava o falatório pernóstico como palestras para intelectuais.
O debate esquentava a cada discurso até que Ivandir, mais calibrado que pneu de Fórmula-1, pediu a palavra e encerrou a conversa:
- Ômi, eu até gosto das aulas do Serejo. O problema é quando ele começa com aquela frescura de falar dos cemitérios franceses. Aí ninguém agüenta, eu mesmo não entendo poooooorra nenhuma.
Depois dessa aula de 'estilo jornalístico', assim que a turma parou de rir, a noite morreu, naquele dia, no cemitério das saideiras.
Até.
- Em ‘cemitério de tornozelos’, Grêmio vence, mas não evita o 2º jogo
A frase, inspirada na declaração do atacante Willian, do time gaúcho, parece uma alegoria pinçada de uma das míticas crônicas de Nelson Rodrigues. Uma pérola em meio à mesmice que povoa os gramados do país. Disse o sujeito, reclamando do campo:
- Não tem como jogar aqui. Este campo é um cemitério de tornozelos. A bola fica pulando, não tem como tocar
Sem dúvida alguma, uma descrição rodrigueana digna de registro e que cabe em várias outras situações. Senão vejamos o estado lamentável das calçadas de rua da cidade. Algumas, de tão mal-conservadas, parecem vir com os próprios túmulos cobertos de entulho.
Mas a história aqui é outra. O fato é que a expressão, cunhada por um gremista, me trouxe a lembrança do Ivandir, amigo gaúcho, igualmente tricolor. Nos bons tempos da faculdade em que as tardes e noites de terça-feira morriam sempre no chopp triplo a R$ 1,99 do Bari Palesi, a conversa, já sem direção, ia ao sabor da esculhambação das aulas de jornalismo. O que, diga-se de passagem, é praxe nos butecos que reúnem estudantes do curso.
De repente, alguém da mesa citou o jornalista Vicente Serejo, professor da cadeira de ‘estilo jornalístico’. Deu-se o impasse. De um lado, o grupo que gostava das aulas. Do outro, a maioria, a turma que caracterizava o falatório pernóstico como palestras para intelectuais.
O debate esquentava a cada discurso até que Ivandir, mais calibrado que pneu de Fórmula-1, pediu a palavra e encerrou a conversa:
- Ômi, eu até gosto das aulas do Serejo. O problema é quando ele começa com aquela frescura de falar dos cemitérios franceses. Aí ninguém agüenta, eu mesmo não entendo poooooorra nenhuma.
Depois dessa aula de 'estilo jornalístico', assim que a turma parou de rir, a noite morreu, naquele dia, no cemitério das saideiras.
Até.
quarta-feira, 17 de março de 2010
ESPERANÇAS PERDIDAS

Ainda morava em Brasília quando o estudante Marco Antônio Velasco foi espancado até a morte por uma gangue de adolescentes que se fazia conhecer na cidade pelo medo cultuado através de arrastões violentos nas quadras da Capital Federal e do próprio nome de batismo do grupo: Falange Satânica. Corria o ano de 1993. Estudava numa escola pública com o primo do rapaz morto que devia ter minha idade.
Na memória também permanece o fato de que depois que os sete assassinos foram apresentados à sociedade pela imprensa, meu melhor amigo ficou em estado de choque. Dois deles fizeram parte de sua infância. Amigos de correr debaixo do bloco, jogar bola e corrida de tampinha, três das atividades mais concorridas que faziam a cabeça das crianças de classe média de Brasília naqueles tempos pós-ditadura militar.
Na minha cidade sem esquina marcada pelo concreto dos prédios de seis andares das superquadras, a segunda metade dos anos 80 e a década de 90 foram das gangues. Em quase toda a quadra, como são chamadas popularmente os quarteirões formados por vários prédios, havia um grupo de marginais.
A 306 Norte era o habitat da ‘Ratos Noturnos da Seis’ e a ‘Falange Satânica’ delimitava sua área entre a 405 e 406 Norte, onde moravam meus avós paternos e cresceu meu pai. Já a temida 312 Norte, onde vivi até os 12 anos de idade, era conhecida entre a molecada como ‘A Galera da Doze’, e assim por diante.
Cada quadra era como um território inimigo, um campo de concentração. Para atravessar de um lado para outro a pé, só com uma desculpa boa ou uma visita marcada num dos apartamentos dos blocos. Perdi a conta das vezes em que tive que desviar o caminho para chegar aonde queria.

Nunca entendi aquela violência estúpida embora tenha convivido com ela, principalmente na época da 312. Um dia, devia ter uns dez anos, desci depois do almoço para jogar bola com um amigo no gramado em frente ao bloco. Um chutava, o outro defendia. As traves marcadas com os chinelos. Em pouco tempo apareceram oito caras, bem mais velhos, fizeram uma roda, e mandaram que nós dois saíssemos no tapa. Simples assim. Hesitei, disse que não queria, iniciei um choro amarrado, mas não teve jeito. Se não obedecêssemos, apanhariam os dois. E de oito.
Meu amigo entrou logo na pilha, talvez até como instinto de sobrevivência, jogou a bola para o lado e partiu para cima. Ainda me acertou uns três socos que pegaram de raspão no braço e perto do rosto. Na volta, minha mão fechada pegou em cheio o nariz do garoto. O sangue correu na mesma velocidade e proporção do choro de dor e de raiva que saíam das duas criaturas entrando na adolescência que não queriam nada mais que bater bola enquanto os pais não voltavam do trabalho. A turma ria vendo a cena. Ainda ergueram meu braço direito como um lutador de vale-tudo que acabara de arrasar o inimigo. Fui elogiado e tudo pelo golpe. Talvez seja por isso que hoje não considere esporte o boxe e muito menos o vale-tudo.
Eram dias estranhos, sem dúvida. Já naquela época, assistia na TV especialistas explicarem as causas dessas gangues. Diziam que não tínhamos espaço para lazer e, por isso, a juventude era obrigada a queimar a energia acumulada de alguma forma. As brigas, eram portanto, um escape. Fui crescendo, vi amigos que jogavam bola com a turma entrando e até formando novas gangues, mas no fim o destino tratou de separar os caminhos paralelos que nunca se encontrariam, mas naquela época viviam e conviviam no mesmo lugar.
Não sou especialista no assunto como os caras da TV que eu via na adolescência, mas nem por isso acredito que o que faltava era espaço. Até porque tínhamos uma quadra de cimento rachado, um campo de areia vagabundo, parquinho e até uma barra e duas paralelas para quem quisesse malhar no meio da rua. Os generalistas, esse engodo da sociedade que usa a mesma desculpa para tudo no Brasil, vai dizer que falta é política pública. Poderiam ser mais diretos.
Lembrei dessa história vendo a polêmica criada em torno da amizade do Adriano e do Vágner Love, o Império do Amor do Flamengo, com traficantes do Rio. Os dois nasceram na favela, um lugar marginalizado que, tal qual nas quadras de classe média de Brasília, abraçam o pai de família, o garoto que só quer saber de jogar bola e os marginais. Adriano e Vágner Love cresceram rodeados de gente boa, de gente boa que virou gente ruim, de gente ruim que virou gente boa e de gente ruim por natureza. É assim em todo canto.

Voltei no tempo e lembrei do choque que meu melhor amigo sentiu quando viu os dois amigos de infância presos por espancarem até a morte o estudante Marco Antônio Velasco. Perguntei o que havia mudado para ele em relação ao sentimento daquele tempo:
- Nada, ele respondeu.
Se eu voltasse para Brasília hoje, depois de 11 anos, também iria atrás dos meus amigos, independente do que estejam fazendo. A hipocrisia e o moralismo dessa gente que, de forma covarde, chama o Adriano e Vágner Love de marginais por conta das amizades de moleque é cruel e preconceituosa.
Quem sabe a explicação disso tudo esteja nos primeiros versos de ‘Esperanças Perdidas’, o samba interpretado magistralmente pelo mito Roberto Ribeiro. Não sou especialista, mas pode ser por aí:
‘Quantas belezas deixadas nos cantos da vida
Que ninguém quer e nem mesmo procura encontrar
E quando os sonhos se tornam esperanças perdidas
Que alguém deixou morrer sem nem mesmo tentar’
Até!
PS: Como bem corrigiu meu guru do samba, Armando Miranda, 'Esperanças Perdidas' não foi gravada pelo grande Roberto Ribeiro. A composição, de Délcio Carvalho, ganhou voz com o Originais do Samba
terça-feira, 16 de março de 2010
SAMBA DE OUVIDO
Com esse calor todo que anda fazendo em Natal, das duas uma: ou o sujeito se muda para o sul ou procura o bar mais próximo.
Agora pela manhã, no carro da reportagem em direção a Cidade Satélite, Arlindo Cruz e Sombrinha vinham forçando a barra no rádio para que eu mandasse o trabalho às favas e fizesse a escolha pela segunda opção.
Já na redação, escrevendo a matéria, uma legião de sambas no computador para sustentar a mesma temperatura do lado de fora enquanto a turma aqui dentro arde no frio do ar-condicionado.
Neste momento, Paulinho Viola rasga o som que sai do fone de ouvido com ‘Quando bate uma saudade’, gravada em 1989, dizendo ‘quase sempre o coração amargurado/ Pelo desprezo de alguém/ É tocado pelas cordas de uma viola/ É assim que o samba vem...’.
Poesia pura. Essa terça-feira promete.
Agora pela manhã, no carro da reportagem em direção a Cidade Satélite, Arlindo Cruz e Sombrinha vinham forçando a barra no rádio para que eu mandasse o trabalho às favas e fizesse a escolha pela segunda opção.
Já na redação, escrevendo a matéria, uma legião de sambas no computador para sustentar a mesma temperatura do lado de fora enquanto a turma aqui dentro arde no frio do ar-condicionado.
Neste momento, Paulinho Viola rasga o som que sai do fone de ouvido com ‘Quando bate uma saudade’, gravada em 1989, dizendo ‘quase sempre o coração amargurado/ Pelo desprezo de alguém/ É tocado pelas cordas de uma viola/ É assim que o samba vem...’.
Poesia pura. Essa terça-feira promete.
segunda-feira, 15 de março de 2010
O PEREBA DOS PÊNALTIS PERDIDOS
Uma segunda-feira nunca é uma simples segunda-feira depois de um Flamengo e Vasco. Principalmente quando o Imperador volta fazendo o dever de casa e o atacante do time da cruz de malta perde dois pênaltys da forma bizarra como foram os petelecos que Bruno defendeu. Na partida de ontem, em 90 minutos, Dodô passou de artilheiro dos gols bonitos para o pereba dos pênaltis perdidos. É como disse mesmo o comentarista vascaíno Paulo César Vasconcelos, da Sport TV, assim que a torcida do bacalhau deu de elogiar o atacante em alto e bom som no Maraca:
- Ninguém perde dois pênaltis num Flamengo e Vasco impunemente.
Em nome de toda a nação rubro-negra, desejo ao Dodô e à torcida vascaína uma ótima semana.
- Ninguém perde dois pênaltis num Flamengo e Vasco impunemente.
Em nome de toda a nação rubro-negra, desejo ao Dodô e à torcida vascaína uma ótima semana.

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