quinta-feira, 18 de março de 2010

O CEMITÉRIO DAS SAIDEIRAS

Levei um susto ao ler, no site do UOL, ontem à tarde, a manchete da partida disputada entre Grêmio e Votoraty, no interior paulista, pela Copa do Brasil.

- Em ‘cemitério de tornozelos’, Grêmio vence, mas não evita o 2º jogo

A frase, inspirada na declaração do atacante Willian, do time gaúcho, parece uma alegoria pinçada de uma das míticas crônicas de Nelson Rodrigues. Uma pérola em meio à mesmice que povoa os gramados do país. Disse o sujeito, reclamando do campo:

- Não tem como jogar aqui. Este campo é um cemitério de tornozelos. A bola fica pulando, não tem como tocar

Sem dúvida alguma, uma descrição rodrigueana digna de registro e que cabe em várias outras situações. Senão vejamos o estado lamentável das calçadas de rua da cidade. Algumas, de tão mal-conservadas, parecem vir com os próprios túmulos cobertos de entulho.

Mas a história aqui é outra. O fato é que a expressão, cunhada por um gremista, me trouxe a lembrança do Ivandir, amigo gaúcho, igualmente tricolor. Nos bons tempos da faculdade em que as tardes e noites de terça-feira morriam sempre no chopp triplo a R$ 1,99 do Bari Palesi, a conversa, já sem direção, ia ao sabor da esculhambação das aulas de jornalismo. O que, diga-se de passagem, é praxe nos butecos que reúnem estudantes do curso.

De repente, alguém da mesa citou o jornalista Vicente Serejo, professor da cadeira de ‘estilo jornalístico’. Deu-se o impasse. De um lado, o grupo que gostava das aulas. Do outro, a maioria, a turma que caracterizava o falatório pernóstico como palestras para intelectuais.

O debate esquentava a cada discurso até que Ivandir, mais calibrado que pneu de Fórmula-1, pediu a palavra e encerrou a conversa:

- Ômi, eu até gosto das aulas do Serejo. O problema é quando ele começa com aquela frescura de falar dos cemitérios franceses. Aí ninguém agüenta, eu mesmo não entendo poooooorra nenhuma.

Depois dessa aula de 'estilo jornalístico', assim que a turma parou de rir, a noite morreu, naquele dia, no cemitério das saideiras.

Até.

4 comentários:

Ana Paula Costa disse...

Concordo com Ivan, nunca entendi direito aquelas histórias dos cemitérios franceses. Saudades dos chopps e de outras histórias do Bari Palesi. Bj

Cefas Carvalho disse...

Ótimo texto, amigo. Adorei a citação de Serejo. Abração.

Rafael Duarte disse...

Ana: outras histórias do Bari Palesi surgirão aos poucos. Lembra da guerreira que em toda terça dava o ar da graça? E o Feliz, o garçom ladrão de chopps? Bjs

Cefas: seja bem-vindo, amigo. Esse é o Serejo que a gente conhece, né? Abraço

Armando Miranda disse...

Essa pérola de Ivandir me deu saudades até das aulas de Serejo...
rsrsrsrsrs