
Até a assinatura da ordem de serviço autorizando a empreiteira OAS a construir a Arena das Dunas, o que deve ocorrer hoje, sobrou polêmica na farra da Copa. Apenas duas licitações efetivamente aconteceram desde o dia 15 de janeiro de 2009, quando o projeto da Arena foi apresentado à Fifa. E ambas só tiveram um único interessado: a que definiu a empresa de consultoria para assessorar a elaboração do edital da PPP (a paulista Valora Participações Ltda. disputou sozinha e levou R$ 4,6 milhões); e a que escolheu a construtora que vai erguer a nova Arena (só a OAS se interessou pelo serviço, orçado em R$ 400 milhões, mas que já se sabe que no final de 20 anos sairá pela bagatela de R$ 1,3 bilhão). Sem licitação, mais de R$ 15 milhões foram gastos pelo Governo do Estado com projetos, incluindo o básico do estádio e as consultorias.
E quem não lembra da primeira visita de vistoria das obras (?) da Copa, quando uma comissão de arquitetos da Fifa não tinha o que ver? O governo abriu licitação duas semanas antes, no valor de R$ 372 mil, para derrubar uma creche, um portão e construir outro no Centro Administrativo. Mas ninguém se interessou pelo serviço. O que aconteceu? O estado convidou para realizar a obra uma empresa que já tinha serviços prestados a órgãos do governo. No dia em que os representantes da Fifa chegaram, em 18 de maio de 2010, a creche foi abaixo e a poeira deu a sensação de que as obras haviam começado. Foi lindo.
Na festa do Mundial de 2014, o Ministério Público também deu o ar da graça. Em setembro de 2009, a promotoria de Justiça do Patrimônio Público questionou o modelo defendido pelo governo para a construção da Arena. Em vez da PPP, a ideia era fazer uma Sociedade de Propostas Específicas, que previa o leilão do terreno valiosíssimo do Centro Administrativo. O MP também torceu o nariz para o edital da PPP, que apontava, entre outras irregularidades, até quem a construtora vencedora deveria contratar para realizar o projeto arquitetônico da Arena. Por duas vezes, teve até recomendação para que o BNDES não autorizasse o financiamento prometido de 75% das obras. Tudo resolvido, bola pra frente.
Mas e os contratos? Como esquecer os contratos básicos e arquitetônicos da Arena das Dunas? Divulgados a primeira vez em junho do ano passado, os valores dos dois juntos chegavam a R$ 27 milhões. Como era começo de campanha eleitoral, o ex-governador Iberê Ferreira de Souza anunciou o cancelamento dos dois, ambos feitos sem licitação. Um mês depois, sabe como é, assim como quem não quer nada, liberou geral mas bateu o pé: só pagava coisa de R$ 8 milhões.
E eu já ia esquecendo o cronograma de obras! Nunca na história dessa cidade se disse e desdisse tantas datas de um calendário só. Eliminemos a pendenga política de São Paulo e me digam uma coisa. Porque, meu Deus, a cidade do sol é a última capital a assinar a ordem de serviço para a construção do estádio da Copa e até hoje me perguntam: “você acha que a Copa vem pra Natal?”