Estava escrito que alguma coisa bem distante da normalidade aconteceria na tarde de quarta-feira no bar de Nazaré. Todas as mesas do lado de fora cheias e quase a totalidade dos lugares de dentro do buteco também. Tempo vai, cerveja vem, Fábio Athayde chega junto da nossa mesa. Barba branca rala por fazer, calça preta nova, camisa laranja de botão e, claro, uma indefectível vontade de biritar. O papo rola tranqüilo como se fosse um dia comum. Até que um amigo italiano do nosso ilustre convidado, dono de um bar em Ponta Negra, se aproxima e joga um comentário como se atirasse uma carteira de cigarros sobre a mesa:
- Você está parecendo um dos chefões da máfia Siciliana...
O comentário, tiramos a prova dos 9 depois, não tinha absolutamente nada de isolado. Fazia parte do personagem que Fábio representava naquela tarde de Beco da Lama. Personagem, aliás, que só seria desmascarado depois de mais algumas cervejas, assim que o sol anunciou a despedida.
Lá pelas tantas, boca da noite, entra um policial militar fardado e armado no bar. Se eu estivesse de frente para o crime, sentiria o cheiro da encrenca. De costas, só vi a figura já acomodada no primeiro banquinho azul do balcão do Paulinho quando entrei na escala do banheiro. Olhei para o policial, confesso, como quem vê um frequentador comum de botequim. E voltei para a mesa. O mesmo não fez o Fábio. Ficou por alguns minutos no balcão e voltou para a mesa com cara de secretário de Segurança Pública:
- Falei para o cara: você tem dois agravantes. Primeiro porque está fardado, segundo porque está armado. E se acontecer alguma coisa? Falei que ia denunciá-lo.
A história, claro, foi motivo de gargalhadas durante uns bons três minutos. Nem eu nem Ana acreditávamos que o PM tinha sido posto contra a parede daquela forma. O Fábio, como não poderia ser diferente, não gostou de nossa reação e antes que ameaçasse ir embora da mesa chega o tal policial militar fardado e armado com a voz meio embargada no pé da mesa e, como se olhasse para o seu superior, dá a seguinte explicação:
- Ô meu amigo. Você está certo. Vou indo nessa. Amanhã eu volto para liberar a cirrose. Mas pode deixar, venho como civil. Só volto a trabalhar na terça-feira que vem...
Não há outra versão. O pobre policial biriteiro pai de família só faltou pedir desculpas. A partir dali não teve jeito: estava eleito o mais novo Xerife do Beco.
2 comentários:
Com todo o respeito ao meu amigo Fábio, a figura dele realmente lembra a de um xerife, com cara de durão! kkkkk
Mas o coração é imenso!!!
Meu amigo Fábio contou-me ontem essa historia, emulado por Venancio Pinheiro que, adentrando o Bardalos disse para mim e para Fabio, unicos na mesa: "você está protegido, logo com o xerife..." daí a historia fluiu e eu vim hoje conferir.
Saudações
Oswaldorf
Ps. puerra, o captcha que tá aqui embaixo para poder autenticar é logo ingua, serei uma ingua?
Capchas são videntes?
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