Quem me acompanha pelo Meio da Rua, sabe que sexta-feira é dia de Arquivo Vivo na Travessa do Samba, ali na esquina com a Rua Coronel Cascudo, artéria do Centro Histórico. O que significa dizer que a noite nas adjacências do Beco da Lama, além de dar samba, dá também histórias que não se ouve e vê em lugar nenhum do mundo. Cada um tem o Centro Histórico que merece. E graças aos deuses, acho que tenho feito por merecer o que o destino me reserva.
Sexta passada, Ivandir chegou ao esquente, ainda em Nazaré, com aquela cara de que ficaria para duas cervejas. Mas quando junta buteco, samba e cerveja, o gaúcho mais preto do Brasil - salve a inspiração de Vinícius de Moraes! – não é de cumprir a palavra. Confesso que é mesmo uma missão impossível.
Já no bar de Fátima, onde a roda acontece, ficamos de olho num sujeito visivelmente emocionado abancado numa mesa próxima aos músicos. Você sente a felicidade de um ser humano numa roda de samba quando o cara, já calibrado, sai batendo na mesa com tudo o que ele encontra pela frente. Por prudência, acho eu, pagou as seis garrafas que consumiu e ainda estavam sobre a mesa, e continuou na cadência das saideiras que vieram, todas derrubadas, uma a uma, sem companhia.
Como não poderia ser diferente, foi desse sujeito, que ainda não conheço, uma das pérola da noite. Quando voltei do banheiro, estavam Ivandir e Ana às gargalhadas na mesa. E o gaúcho emendou:
- Você perdeu essa. Aquele cara não parava de pedir uma música do Zeca Pagodinho para o pessoal. “Toca Zeca Pagodinho!”, “Toca Zeca Pagodinho!”... e nada de dizer a música. Até que ele não se segurou. “Toca Zeca Pagodinho. Aquela, ‘Felicidade, passei no vestibular’...”
Martinho da Vila que se cuide.
A noite seguiu com um papo com o Ferreira, garçom gente finíssima do buteco que todos chamam de João Maria. Mas a história dele, especialíssima, eu conto mais pra frente. Armando, que esteve com a gente no final da tarde mas teve um compromisso inadiável em nome da pequena Amanda, deu um jeito de aparecer de qualquer maneira na Travessa do Samba. E às 20h38, chega mensagem, emocionada, via celular:
- Peçam por mim “Esperanças perdidas”.
Pedido feito, pedido atendido. Se tratava, de fato, de um recado definitivo aos que estavam na mesa e ouviram quando ele disse que voltaria ainda naquela noite:
Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda e eu sou a caçamba
E depois de lavar a alma de samba no bar de Fátima para aguardar a enchente de cerveja do fim de semana, terminamos, eu, Ana e Ivandir, expulsos de outro buteco, o K1, já na avenida Alexandrino de Alencar, onde ainda encontramos o Marquinhos, cavaco do Arquivo Vivo, e a Lívia devorando alguns churrasquinhos. As duas cervejas que o gaúcho disse que tomaria, como vocês podem notar, não passaram de ilusão. Foi mais um a testemunhar o segundo portão de ferro da noite arriado marcando, definitivamente, mais um final feliz da nossa história com os botequins.
2 comentários:
E continuemos o diário on line...
Acreditar que Ivandir tomaria só duas cai bem nesta época do ano. Também devemos acreditar no Papai Noel... kkkkkkkkkk
E, a propósito, a música que pedi via sms não foi por acaso...kkkkkk
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