segunda-feira, 23 de maio de 2011

O CASAMENTO DO AMOR REAL

O amor real é um bicho complicado. Mas nada como as coisas nos seus devidos lugares. Semana passada, por dever do ofício, comecei e terminei a madrugada num cabaré que tem nome de casa de show, mas a inconfundível fama dos bordéis. Um glamour, diga-se de passagem, que o proprietário do estabelecimento nega de pé junto e mão no bolso.

A casa é um luxo só. Fachada iluminada, mesas arrumadas, garçons impecáveis vestidos como manda o bom e velho figurino, e até uma saleta prive. Diria eu que, forçando a barra, é quase um palácio. Um verdadeiro ponto de encontro. Na visão humilde do rei, nada além do que uma praça de alimentação. Concordo. Principalmente quando os shows de strep-tease começam, digamos assim, em praça pública.

Naquele dia, como observador míope da noite, avistei um jovem solitário na mesa da direita. Perdão. Solitário vírgula. O celular era companheiro de longas e intermináveis mensagens. Com a velocidade com que o troço tocava, parecia um sujeito disputado. E logo aquilo passou a despertar a atenção e a cobiça das meninas da casa. Não tinha uma strepper, já sem as roupas íntimas do corpo, que não passasse na mesa do galã do cabaré. Algumas gesticulavam, mas a maioria se detinha mesmo a interpretar as posições do Kamasutra.

A coisa parecia tão pessoal que foi despertando ciúme na rapaziada das outras mesas. Três clientes pediram a conta e dois, como duas almas traídas, foram embora sem pagar. O sujeito, impassível, nem percebeu a arrumação. Chegou um momento da noite que as mesas só olhavam as reações do moço. Numa delas, onde havia um casal, a situação constrangedora. O cabra com ciúme e a mulher quase largando o marido. Dele, as meninas só conseguiram arrancar o nome: Willian.

A situação ficou tão insustentável que o dono achou melhor encerrar o strepper quando ainda metade da casa faltava se apresentar. Do amontoado de garotas que olhavam o traste de longe, ele apontou para uma. De bobo Willian não tinha nada. Além de linda, Catarina Melão tinha um charme de princesa. E se ele sabia escolher, esperta a moça também era. Para sentar, só exigiu que o pretendente desligasse o celular. Por um momento, admitiu até recusar a birita de todas as noites com a condição de que a porra daquelas mensagens não atrapalhassem o papo.

Catarina percebeu que Willian era daqueles sujeitos que, quando vão a um cabaré, querem convencer a todo custo a donzela mudar de vida. Ela estranhou aquele papo no início, mas acabou caindo na conversa do rapaz. Na terceira dose já tinha virado Kate e o programa que era R$ 400 saiu pela metade do preço. Com a birita no quengo, rolou até um pedido de casamento, aceito na hora. Embaixo dos lençóis, descobriram que estudaram juntos na escola. Aí, a partir de um desencontro, cada um foi prum lado. Nesse meio tempo, Willian casou duas vezes e virou empresário. Catarina se formou em enfermagem, mas optou por outras paradas.

O reencontro deu num namoro rápido. O casamento foi no início do mês, no mesmo cabaré onde deram o primeiro beijo. Ao piano, em homenagem à mãe do noite, um CD do Elton John. Na fachada, Kate exigiu que tivesse escrito em neo ‘Palácio de Buckingham’. Afinal, é o casamento do amor real. Quanto mais real, mais amor. Como nos contos de fada.

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