terça-feira, 5 de outubro de 2010

O ABORTO DA HIPOCRISIA




Depois do tsunami de votos da finada Osmarina nos primeiros 45 minutos, agora é o aborto que entra em campo como elemento surpresa e merece a marcação especial petista.

Segundo a turma que diz que entende o que nenhum instituto de pesquisa conseguiu entender até o momento, o xis do segundo turno tem a ver com o polêmico debate sobre a decisão da mulher em retirar ou não do ventre o feto antes do nascimento da criança.

Uma coisa é prego batido e ponta virada: a discussão sobre o tema, se fosse levada a sério, não seria resolvida em três semanas. E é aí, como se diz no país do Bolsa Família, que a porca torce o rabo. Nunca na história desse país, para ficar numa expressão igualmente popular nos dias de hoje, houve um momento tão propício para um debate de verdade sobre o aborto.

Padres, pastores, políticos, feministas, sindicalistas, estudantes, trabalhadoras, jornalistas, ministros e até o presidente da República, todos representantes de segmentos da sociedade civil organizada e outros complementamente desprovidos de organização, pegaram carona no tema e tiraram uma casquinha da candidata Dilma Rousseff que em 2007 disse que era a favor, mudou de ideia e desmentiu tudo o que disse e o que não disse para ficar bem na fita e não sair mal na foto das eleições.

Tudo muito bem armado pela sordidez da candidatura tucana, com o apoio incansável de parte da mídia, em mudar completamente o foco do que foi posto na mesa embrulhado para presente para o eleitor.

Não é o conceito do aborto que está em xeque agora. O debate que ninguém fez até aqui nem quer fazer é o do ataque à liberdade de opinião. A opinião de uma única mulher sobre um tema polêmico que se não dirá respeito somente a Dilma quando ela subir a rampa do Palácio do Planalto no primeiro dia de 2011, deveria ser tratado tão e simplesmente como uma posição de alguém que tem moral, princípios e uma história de vida tal qual milhares de cidadãos brasileiros. É bom que se diga que a opinião de um presidente não é um decreto numa democracia.

Já o manual de etiqueta da direita é de fazer inveja à Maquiavel. O DEMO José Agripino Maia, senador reeleito agora, passou a campanha inteira elogiando o presidente Lula. Uma única vez, num debate fechado para empresários potiguares organizado pela Fecomercio que eu cobri pelo NOVO JORNAL, ousou falar mal do petista e defender as privatizações.

Nem material gráfico do Serra os candidatos do partido de Agripino, incluindo a governadora eleita Rosalba Ciarline, tiveram coragem de distribuir. Foi sair o resultado das urnas para o senador voltar a espinafrar Lula e vestir de novo a capa de principal porta-voz do anti-Lulismo do país. Para não perder a viagem, Serra, no segundo dia pós-primeiro turno, já se anunciou ambientalista para comer o capim verde que sobrou da amiga de Chico Mendes.

Quem é do ramo, vai dizer que tudo isso é do jogo. Mas é lamentável que no país do Tiririca, talvez o único que tenha ousado dizer a verdade, para ganhar eleição seja proibido dizer o que pensa. Dilma Rousseff está sendo vítima dessa nova inquisição. A mulher que debaixo de tortura aguentou calada a ditadura para preservar a vida de companheiros que morreriam se fossem delatados, agora, 40 anos depois, candidata ao posto máximo da nação, é obrigada a calar novamente por perseguição porque ninguém tem mais o direito de pensar diferente do que pensa a ala mais conservadora do país, representada nesse caso pela igreja.

O aborto da hipocrisia no Brasil, definitivamente, faz parte da nossa democracia.

2 comentários:

MgP disse...

Rafael, é isso mesmo! Assino junto e tô levando lá pro 'parece', falô?
abração,

Márcia

Armando Miranda disse...

Mas, onde é mesmo que eu assino?