segunda-feira, 24 de novembro de 2008

BAR DO MÁRIO, UMA INSTITUIÇÃO




O cruzamento da avenida Jaguarari com a rua Segundo Wanderley, no Barro Vermelho, tem mais de 25 anos de história. É ali, sob o toldo que desce sempre que o sol devora o asfalto, que Mário comanda o buteco que herdou do sogro. Um lugar que, segundo ele, vendia de tudo. Tanto vendia que decidiu manter a essência ao batizar a casa de Bar e Mercearia do Mário. Uma grande homenagem, registre-se. E lá se vai um quarto de século desde que assumiu os trabalhos.

O ritmo, para quem já passou da casa dos 60, faz inveja a qualquer empresariozinho metido a entendedor do assunto. O buteco do Mário, simplesmente, não fecha. De segunda a segunda, no passo arrastado do dono do estabelecimento. No domingo, o portão de ferro da casa desce mais cedo, às 17h. Mas no restante da semana Mário vai ao sabor da freguesia.

Conheci o Mário num dia desses de semana. A idéia era preparar o terreno para o almoço. Mas o ambiente e a hospitalidade do anfitrião mereciam algumas boas horas de conversa. Pequeno, mas não apertado, o buteco é acolhedor. A fotografia de corpo inteiro do craque Marinho Chagas em dia de Botafogo e o escudo do Santos na prateleira denunciam a intimidade que Mário tem com o passado. Foi boêmio dos tempos da Ribeira, confessa. As imagens dos fregueses mais fiéis por todos os lados e em todas as paredes deixam claro aos marinheiros de primeira viagem que o buteco é de família.

O clima é provinciano. A certa altura do meio-dia, um amigo da casa salta do carro mal-estacionado rente a calçada do bar. Entra rápido, cumprimenta duas figuras que bebem próximo ao balcão, pede uma dose de cachaça, vira num gole só, paga e vai embora. A visita não durou dois minutos. O bastante, no entanto, para perceber a intimidade da freguesia.

Numa mesa próxima à nossa, Eliezer, um militar reformado da Marinha, vai puxando um assunto atrás do outro como se já bebêssemos na casa desde sua fundação. De futebol à pena de morte, a conversa de botequim só respeitava a hora sagrada do banheiro. Nisso, já tinham passado por ali um pintor de parede que parou para tomar UMA e outros dois sujeitos que também chegavam da lida e, ao contrário da gente, conseguiram fazer do buteco do Mário um ponto de passagem após algumas doses de cachaça.

A tarde já havia pedido licença quando entra no estabelecimento um senhor já a caminho dos 80 anos. Passos curtos, Souza se enturmou logo na conversa. E não demorou muito para apresentar seu lado poeta. Recitou três poemas assinados por ele e foi embora depois de duas cervejas.

Sozinho atrás do balcão, Mário observa tudo. Cena por cena. De lá, fala de futebol, boemia, vaticina que o grande defeito do amigo Eliezer é gostar muito de mulher e conta a história de como veio parar ali, a relação com o sogro e tal. Na hora da despedida, dez cervejas, seis pasteizinhos e um queijo de coalho depois de quando tudo começou e quando imaginávamos que só as estórias já tinham feito a tarde valer a pena, Mário surge com uma barra de chocolate Suflair, daquelas grandes, e antes de qualquer reação olha para Ana Paula, minha parceira de todas as horas, e diz absoluto:

- Esse aqui não é um presente meu, mas da INSTITUIÇÃO bar e mercearia do Mário. Espero que vocês voltem logo.

Eis a grande definição do buteco dita, assim, como manda o figurino, pelo dono do estabelecimento. O bar do Mário é uma INSTITUIÇÃO, como devem ser e são os botequins de verdade.

E é óbvio que voltaremos.





6 comentários:

Armando Miranda disse...

Rafael, quando voltar lá por favor me chame!!! Esse bar eu só conheço de nome, ainda!!! rsrsrsrs
Abraço!

Rafael Duarte disse...

Claro, Armando. Vou te apresentar a figuraça que é o seu Mário. Gente fina e exímio conhecedor da boemia dessas plagas. Abraço.

Anônimo disse...

eu imagino sua dificuldade em fazer essas matérias rsss

Rafael Duarte disse...

Seja bem chegada ao nosso balcão, Yasmine. Pode ter certeza que é bem difícil, viu? Difícil ir embora, na verdade. E lembrar de tudo depois. Bjo

Ana Paula Costa disse...

Pena que da próxima vez não vai mais ter chocolate...

Sérgio Vilar disse...

A despeito do desconhecimento de Armando, eu conheço o Bar de nome e cachaça. E grande!.rs. Mas o Mário (quem?.rs) é uma figura engraçada: ele sério, em foto 3x4, parece sisudo. Mas é figura de muito bom humor. Vale uma ida demorada com time completo!..rs