segunda-feira, 17 de novembro de 2008

UMA HISTÓRIA DO BAR DO NASI

O tradicionalíssimo bar do Nasi, fincado na histórica esquina da rua Dr. José Ivo com a Coronel Cascudo, no coração do Beco da Lama, segue hoje por linhas tortas nas mãos de um comerciante que a comunidade do Centro chama de Chico. Sujeito bronco, herdou o buteco do filho do velho Nasi, Adoniran. Embora o nome de sambista e os anos vividos à sombra do buteco mais freqüentado do Beco sugiram a velha e boa malandragem da boemia, o herdeiro, imerso em dívidas acumuladas nas mãos de um agiota da Cidade Alta, passou a jóia como quem entrega o ouro ao bandido.

Reza a lenda contada e ouvida em toda esquina e adjacência do Beco que o tal agiota, antes de morrer assassinado um ano desses, repassou o ponto ao Chico, também por conta de umas dívidas nesse negócio de agiotagem.

Isso tudo aconteceu de 2001 para cá, ano em que o velho Nasi foi ensinar, em outra dimensão, a famosa combinação de cachaça, mel e limão, imortalizada por ele muito antes de partir. Depois de tanto ouvir falar na meladinha preparada na hora e em cima de cada pedido, criei comigo a tese de que seu Nasi só foi “convocado” mesmo quando o homem lá de cima admitiu, internamente, que a receita da meladinha já tinha ganho mais fama que aquela história de transformar água em vinho.

Mas seguindo em frente, quando passei a freqüentar o Beco, em 2006, entrei no buteco e, da fila do banheiro, onde havia um simpático cartaz feito à mão numa folha de ofício com os singelos dizeres: “Favor não cagar”, avistei uma plaqueta negra com a escrita em bronze já encardido pelas décadas de histórias ali acumuladas. E põe história nisso. Quase por trás de um freezer da Brahma, ainda se conseguia ler o recado:

- Aqui, dia 21 de abril de 1969, Pixinguinha recebeu o abraço carinhoso desta Natal Boêmia.

Empolgado com a história e louco por mais detalhes da presença do mestre Pixinguinha no bar do Nasi, direcionei a metralhadora giratória de perguntas para o dono do estabelecimento. Com um pano de prato no ombro e os olhos voltados para o churrasquinho de gato prostrado no fogo, Chico nem olhou para minha cara:

- Foi um cara que teve aí. Mas não conheço nada dessa história não.

Decepcionado, só algum tempo depois descobri a importância daquele pedaço do Beco da Lama para a história do Centro Histórico de Natal. Alguns dos vários causos que tiveram o buteco e o velho Nasi como testemunhas. Inclusive o que de fato aconteceu naquela data que está indicada na placa em homenagem ao mestre Pixinguinha. Mas isso é mais pra frente. Até porque a história não morre. Com a história não tem essa de saideira. Nem quando o ouro, às vezes, cai na mão de quem não honra a tradição dos botequins.

4 comentários:

Ana Paula Costa disse...

Infelizmente tem gente que não sabe a importância de uma boa história. Mas quem sabe aquele pedaço de história, um dia não caia na nossa mão??
Vamo ver se mantém atualizado agora, né?
Bj

Armando Miranda disse...

Boa Rafael! É isso mesmo. Aquele pedacinho da boemia natalense deveria estar em outras mãos, que conhecessem e respeitassem a sua importância.
Abraço!

Sérgio Vilar disse...

Deveria estar nas mãos do Rafa! Aposto que até escola de samba seria fundada ali! (rs)

Nilton disse...
Este comentário foi removido pelo autor.