O tradicionalíssimo bar do Nasi, fincado na histórica esquina da rua Dr. José Ivo com a Coronel Cascudo, no coração do Beco da Lama, segue hoje por linhas tortas nas mãos de um comerciante que a comunidade do Centro chama de Chico. Sujeito bronco, herdou o buteco do filho do velho Nasi, Adoniran. Embora o nome de sambista e os anos vividos à sombra do buteco mais freqüentado do Beco sugiram a velha e boa malandragem da boemia, o herdeiro, imerso em dívidas acumuladas nas mãos de um agiota da Cidade Alta, passou a jóia como quem entrega o ouro ao bandido.
Reza a lenda contada e ouvida em toda esquina e adjacência do Beco que o tal agiota, antes de morrer assassinado um ano desses, repassou o ponto ao Chico, também por conta de umas dívidas nesse negócio de agiotagem.
Isso tudo aconteceu de 2001 para cá, ano em que o velho Nasi foi ensinar, em outra dimensão, a famosa combinação de cachaça, mel e limão, imortalizada por ele muito antes de partir. Depois de tanto ouvir falar na meladinha preparada na hora e em cima de cada pedido, criei comigo a tese de que seu Nasi só foi “convocado” mesmo quando o homem lá de cima admitiu, internamente, que a receita da meladinha já tinha ganho mais fama que aquela história de transformar água em vinho.
Mas seguindo em frente, quando passei a freqüentar o Beco, em 2006, entrei no buteco e, da fila do banheiro, onde havia um simpático cartaz feito à mão numa folha de ofício com os singelos dizeres: “Favor não cagar”, avistei uma plaqueta negra com a escrita em bronze já encardido pelas décadas de histórias ali acumuladas. E põe história nisso. Quase por trás de um freezer da Brahma, ainda se conseguia ler o recado:
- Aqui, dia 21 de abril de 1969, Pixinguinha recebeu o abraço carinhoso desta Natal Boêmia.
Empolgado com a história e louco por mais detalhes da presença do mestre Pixinguinha no bar do Nasi, direcionei a metralhadora giratória de perguntas para o dono do estabelecimento. Com um pano de prato no ombro e os olhos voltados para o churrasquinho de gato prostrado no fogo, Chico nem olhou para minha cara:
- Foi um cara que teve aí. Mas não conheço nada dessa história não.
Decepcionado, só algum tempo depois descobri a importância daquele pedaço do Beco da Lama para a história do Centro Histórico de Natal. Alguns dos vários causos que tiveram o buteco e o velho Nasi como testemunhas. Inclusive o que de fato aconteceu naquela data que está indicada na placa em homenagem ao mestre Pixinguinha. Mas isso é mais pra frente. Até porque a história não morre. Com a história não tem essa de saideira. Nem quando o ouro, às vezes, cai na mão de quem não honra a tradição dos botequins.
4 comentários:
Infelizmente tem gente que não sabe a importância de uma boa história. Mas quem sabe aquele pedaço de história, um dia não caia na nossa mão??
Vamo ver se mantém atualizado agora, né?
Bj
Boa Rafael! É isso mesmo. Aquele pedacinho da boemia natalense deveria estar em outras mãos, que conhecessem e respeitassem a sua importância.
Abraço!
Deveria estar nas mãos do Rafa! Aposto que até escola de samba seria fundada ali! (rs)
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