Antigamente, bote aí na conta dos anos 80, início dos 90, passava na TV um programa chatíssimo na madrugada. Era uma espécie de feira eletrônica, que vendia tudo quanto era tipo de bagulho. Tinha de relógio à prova de tiro a uma cera para carro que não deixava a lataria pegar fogo, como se um carro pegando fogo fosse a coisa mais natural do mundo. Mas vá lá. Hoje, talvez ainda passe algo parecido na TV fechada, mas iguais aqueles ainda não vi.
Quem está quase na casa dos 30, como eu, não esquece, por exemplo, do antológico duelo entre as meias Vivarina e as facas Guinsu. Primeiro, vinha uma gostosa dizendo mais ou menos que as meias Vivarina estavam para a indústria de confecções como o Mun-há estava para o mundo. As meias, na visão do comercial, tinham vida eterna. Nos cálculos da mulher, podia passar o que fosse por cima da pobre da meia que não desfiava nem com a gota serena. Aí, depois daquela explicação de laboratório, vinha um japonês tentar engabelar o idiota do espectador com a danada das facas Guinsu. Segundo o japa, não existia nada no mundo que a porra da faca não cortasse. O cara, sentado no sofá, à espera do sono que não vinha nunca, se pegava imaginando as coisas mais escrotas do mundo. Eu mesmo, numa daquelas noites terríveis, pensei na bixa da ponta afiada serrando um trator. É claro que a viagem durou pouco, apenas alguns segundos. Nesse dia, lembro bem, a vergonha desceu feito cerveja quente e achei melhor desligar a TV antes que minha situação piorasse.
Mas estava feito o duelo. E não era qualquer duelo, diga-se de passagem. Já tratava-se de um duelo moral. Quem ganhava de quem aquela parada? As meias Vivarina conseguiriam segurar a onda das poderosíssimas facas Guinsu, ou as facas não eram de nada? Confesso que nunca comprei nem uma nem outra. E também não sei de ninguém que tenha conseguido desvendar o mistério que atormentava o meu sono na madrugada.
Na verdade, me lembrei desse duelo depois de saber pelos blogs e jornais da cidade da briga ridícula entre a chefe de redação do Jornal de Hoje, Thaísa Galvão, e do editor de política do JH 1ª Edição, Alex Viana. Não sei nem como começou a arenga. Mas pense numa disputa. Thaísa Galvão, que nas horas vagas assessora o secretário estadual de Planejamento, Vágner Araújo, isso desde que ele e Wilma tomaram posse (e lá se vão sete anos), foi dizer que Alex Viana tinha como padrinho político na assessoria da Codern o deputado federal Rogério Marinho. Para quem não sabe o que isso significa é a mesma coisa que dizer que foi RM quem colocou o boy para trabalhar na Codern. Como os nomes têm mudado muito ultimamente, entenda isso como “Alex Viana é da cota de Rogério Marinho”. Pois bem. Então eu abro o JH na manhã de segunda-feira e lá está a resposta do rapaz numa nota cujo nome já é uma pérola: “Nada a esconder”. Abaixo, um dos trechos mais hilários já produzidos pela nossa crônica política:
“...Quanto à assessoria de imprensa da Codern, estou lá pelo mesmo processo pelo qual você está na assessoria de imprensa da secretaria estadual de planejamento. Talvez com uma diferença moral significativa. Eu dou expediente, de segunda a sexta, das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30, assinando ponto, religiosamente, todos os dias, como qualquer profissional, sendo indicado, ou não, faria”.
E ainda arremata:
“Já quanto a você, qual foi a última vez que pôs os pés na Seplan? Em 2003, quando a governadora Wilma de Faria foi eleita e Vágner Araújo assumiu a secretaria?”
Se eu bem entendi, um se iguala ao outro na forma como a boquinha apareceu para os dois. A diferença, MORAL, é a frequencia cumprida religiosamente. O incrível é que ainda sobra tempo para fechar o jornal e, sabe-se lá, dividir a quentinha com o vigia da empresa.
Foi então que me veio os antigos comerciais da Vivarina e da Guinsu nas idéias. O duelo está de volta. É, mais uma vez, a moral que está em jogo. Eu, do meu canto, já adianto e confesso que não vou comprar essa briga. Um amigo, a quem relatei a história do trator na época, é quem estava certo. Esse duelo entre as Vivarina e as Guinsu é igual a enterro de anão: se existe, ninguém nunca viu.
2 comentários:
O melhor é o Mun-há como o guia espiritual do mundo.... Colocou como se todo mundo conhecesse... Sensacional!
Muito bom! Aliás, como sempre!!!
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