O bar de Nazaré, na rua Coronel Cascudo, é um palco de encontros e desencontros indesperados. Como o que aconteceu, no início do mês, minutos antes da segunda reunião da diretoria da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjascências (SAMBA). Antes dos fatos, no entanto, algumas explicações são mais que necessárias.
A primeira vez que tive contato com Fábio di Ojuara foi justamente no estabelecimento da mãe do Paulinho. Passei a vista na parede do buteco, repleto de telas dos artistas plásticos que habitam a Cidade Alta, e parei num quadro (tenho dúvidas se não era um escultura) em que havia um bojo e uma fundamental declaração: "Toda merda agora é arte". Como a obra, nos dois sentidos, me impressionou, guardei o nome do sujeito. Mais tarde, numa reportagem exibida no jornal local da Cabugi, ouvi falar, pela segunda vez, de Ojuara. A diferença é que, agora, o rapaz aparecia representando a Associação de Cornos de Ceará-mirim. Impressionado com o talento do artista para surpreender o público, o nome seguiu martelando minha a cabeça durante um bom tempo.
Ouvindo a conversa de um e de outro pelo Beco, descobri que Ojuara era um corno conhecido na região. Só não sabia, ainda, que o sujeito se gabava da condição que já matou muita gente mundo afora. Portanto, encontrar Fábio Ojuara, na boca da noite do bar de Nazaré, tomando uma Brahma gelada com Abimael e Fábio Athayde, mesmo que por poucos minutos, foi um senhor prenúncio.
Um ser humano simples, como não imaginei que fosse, o corno mais famoso do Beco da Lama. E sedento por divulgar a própria experiência no ramo, digamos, dos chifres. Demonstrando uma sensibilidade só comum aos homens que apresentam dificuldades em atravessar uma porta qualquer, relatou, emocionado, a história da dedicatória que ofereceu à Cristina: alma sebosa que lhe traíra por quase uma década. Segundo Ojuara, antes de descobrir a trairagem, Cristina lhe disse, ao pé do ouvido, em plena escadaria da igreja de Ceará-mirim, que nunca trairia sua confiança, quanto mais o resto das coisas. Após uma confissão quase católica como essa,pensou o sujeito, não havia motivos para duvidar.
O tempo voou e os galhos na cabeça de Ojuara começaram, como o tempo, a pesar demais também. Acabou lançando um livro, "Sabendo usar... chifre não é problema", onde conta algumas histórias, piadas, causos e provérbios. Na dedicatória, a homenagem singela à incurável dor de corno:
- À você, que um dia, jurou nunca me trair.
Como a conversa rendeu ainda boas risadas, em breve contarei a história do "Homem que matou a Geladeira", uma das experiência do mesmo Ojuara que virou até folheto de cordel nos versos do poeta Abaeté.
2 comentários:
Mas esse Ojuara desafiou o diabo mesmo. Foi confiar em mulher, e logo de Ceará-Mirim! rsrsrs
Ops! Sem machismo e sem preconceito, só uma brincadeirinha, e de péssimo gosto, por sinal! Trocadilho infame e barato! kkkkkkkkkkkkkk
Rafael, só um detalhe: "Senhora Tentação" ficou mais conhecido, mas o verdadeiro título da música é "Meu Drama". E é uma parceria de Silas de Oliveira e Joaquim Ilarindo. Só um detalhe mesmo, pois o que vale é a citação, que é linda.
Abraço!
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