
Corri o risco de apanhar do craque Marinho Chagas. Digo sem a menor cerimônia.
Hoje, sei que dificilmente faria, sóbrio, a pergunta que fiz a ele numa daquelas noites sem fim na mesa redonda do Bardallo´s de antigamente. Vai ver foi isso. Ou não. O fato é que antes da minha timidez abordar o ex-lateral esquerdo da Seleção Brasileira, do Santa Cruz e do Botafogo, na mesa ao lado da minha, Marinho já havia expulsado do local o publicitário Lula Augusto que, numa performance melancólica, insistia com uma conversa chata de que torcia para o Fluminense.
No meu caso, fui mais persistente. Puxei conversa, lembrei do chororô alvinegro na final da Taça Guanabara usando toda uma técnica para não irritá-lo, cerquei com uma mini-entrevista sobre o possível lançamento de uma biografia em que contaria grandes histórias vividas na carreira e, depois de três ou quatro brindes e a confissão de que me sentia orgulhoso em tomar uma cerveja com Marinho Chagas, veio o seguinte diálogo:
- Você chegou a receber proposta do Flamengo?
Senti, pelo gole de cerveja bem tomado, que Marinho voltou no tempo:
- Em 1981, quando eu estava no Cosmos com o Pelé, liguei para o Márcio Braga dizendo que queria voltar para o Brasil e, de preferência, para o Flamengo, que tinha um time maravilhoso. Aí o Márcio disse que não tinha interesse em mim e acabei assinando com o São Paulo.
A deixa do Marinho foi como um pênalty. Era só eu e o goleiro. Não tinha como errar. E bati:
- Mas, falando sério hoje, você acha que tinha lugar naquele time, no lugar do Júnior?
Sabe quando você faz uma pergunta já preparando um lado do rosto para rebordosa? Pois bem. Sentindo que a bola ia morrer no canto, lá no fundo da rede, Marinho levanta a cabeça e com elegância devolve a pelota:
- Eu fui o melhor lateral esquerdo do Brasil na Copa do Mundo de 74. Mas quando voltei ao Brasil, falei para o Júnior: você vai ser meu sucessor. E foi.
Poucas pessoas, principalmente no futebol, conseguem reconhecer o fim de uma era ou de uma fase maravilhosa, como a que Marinho Chagas viveu nos tempos idos da década de 70. A resposta dele é como uma aula dessas que a gente só ouve nos butecos da vida. Minha reação foi simples: ergui o copo pela quinta vez naquela noite e ofereci um brinde ao gentleman quase rubro-negro que, por pouco, me viu chorar.
Um comentário:
Tô gostando de ver, a atualização... Afinal, por falta de história é q não vai ser...
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